terça-feira, 26 de abril de 2011

A nossa falta de visão sistêmica na educação estará favorecendo a criação de “monstros”?

Realengo e sua dor se espalharam por todo o Brasil e se tornou artigo de exportação. Por quê? Perguntamos todos! Como? Que motivo teria um rapaz de 23 anos para matar com tanta frieza meninas, na sua maioria, dentro do que foi sua casa durante alguns anos?

Porque na sua escola? Todas essas perguntas ocuparam minha mente nessa semana. Escutei atentamente as entrevistas com as crianças, a primeira professora atingida, os colegas de Wellington. Olhei suas fotos e o vídeo encontrado no Orkut, e em seus olhos não havia dor, angústia, tristeza. Havia somente indiferença. Encontrei ausência.

Passei a me perguntar que tipo de vida teve essa criança, esse adolescente, que chegou aos 23 anos, totalmente isolado e morto? Sim, ele já estava morto há muito tempo, por isso a morte lhe era indiferente.
Passei a me perguntar como uma criança passa pelas salas de aula no Brasil, carregando sua dor, sua doença e ninguém, absolutamente ninguém, presta atenção a ele. Sua dor não foi capaz de sensibilizar professores e patrões. Apenas notavam que era silencioso, que não se relacionava e assim quieto, não perturbava.

Nossos indicadores de resultado são notas nas salas de aula e o cumprimento de tarefas, a “disciplina”. Não era necessário interferir, ele era bom aluno! Só apresentou problema no trabalho depois que a mãe morreu. A felicidade não é um indicador. Olhamos o menino, o adolescente e não o enxergamos. Durante 23 anos ele desfilou seu olhar distante por todos os ambientes. Dentro da escola muitos contaram o bullying que sofria, mas...

Ele ficava quieto, não perturbava a ordem. Assim ele foi provocado, sem descanso, pelas meninas e meninos. Torturado. Os colegas colocaram sua cabeça dentro lata de lixo ou dentro do vaso sanitário. Mas ele continuava quieto. Não dava trabalho a ninguém. Talvez essa mãe, que já não pode mais nos falar, tivesse interessantes histórias para nos contar! Quantas vezes ela procurou a escola? Quantas vezes ela pediu ajuda para resolver problemas com seu filho, e nunca encontrou?

Talvez ela pudesse explicar o porquê o adotou, porque o protegeu e o medo que talvez tivesse de que quando se fosse ele pudesse explodir na barbárie. Onde estão seus irmãos? Que mistério a vida desse menino guarda? Talvez nunca sejam revelados. No meio dessa história entra a internet e as armas, mas não são as causas. A oportunidade estava ali, desde sempre.

Para mim, fica uma pergunta: quantos Wellingtons estamos permitindo crescer nas salas de aula de todas as nossas escolas nesse perverso mundo que criamos, onde ninguém realmente vê ninguém, onde não temos escuta, onde estamos perdidos no aqui e agora de nossas angústias, sem tempo para nada?

Educar? Será que essa palavra alguma vez existiu na vida de Wellington?
Temos armas por aí e precisamos enfrentar essa realidade, temos também potenciais usuários dessas armas formados na nossa falta de perceber as crianças e adolescentes com uma visão sistêmica. Talvez agora a gente pense mais seriamente nas conseqüências da nossa indiferença e omissão. O bullying existe e é grave. Nossa indiferença cria seres doentes ou aumenta as possibilidades de despertar, intensificar doenças.

Onde os olhos morrem antes do corpo podemos ficar sem explicação para os ataques de loucura.