O poeta norte-americano Robert Creeley escreveu certa vez: “Sinto que quando as pessoas lêem meus poemas com mais simpatia, lêem comigo, assim como eu escrevo com elas. Desta forma, a comunicação é ‘sentimento compartilhado com outro’, e não ‘processo didático de informação’.”
(retirado do Prosa e Verso, caderno do jornal O Globo. Artigo de Carlito Azevedo sobre poemas de Wislawa Szymborska).
Fim de mais um ano. Como sempre hora de reflexão e balanço. Hora de pensar se estamos usando esse tempo de forma útil para nós e para o mundo. Não estou cheia de entusiasmo esse ano. Os aprendizados foram muitos, mas tudo que precisa ser transformado segue tão lentamente que o exercício da esperança fica dificultado. Temos inúmeras razões para comemorar um Brasil melhor economicamente, um Rio de Janeiro cheio de fatos novos, que apontam para novas possibilidades. Temos a Rio + 20, a Copa e as Olimpíadas. Temos inúmeros projetos pela frente. Mas todas essas oportunidades poderão deixar de ser aproveitadas pela incapacidade que temos de pensar sistemicamente. Minha preocupação central são as pessoas. Por isso trabalho com comunicação.
Recebo muitos e-mails de amigos, profissionais que assistem às minhas palestras identificando que o mundo corporativo andou para tendências que eu identificava há 20 anos. Isso não me envaidece, ao contrário mostra quanto tempo a consciência leva para chegar a construir uma massa crítica que pode efetivamente transformar a realidade. Eu e muitos outros identificávamos tendências como a necessidade da comunicação interna, a responsabilidade social empresarial entre muitas outras idéias que iriam ao longo desses anos conquistando espaço na nossa sociedade. Os jovens estão nas ruas, os profissionais de várias áreas estão aí insatisfeitos; que, claro, é o primeiro sentimento que pode levar às mudanças. No entanto ainda são iniciativas confusas e sofrem um impedimento constante daqueles que querem manter tudo como está, ou pior, avançar em modos de produção e de vida que já estão condenados.
Fico com as manifestações importantes das pequenas e persistentes mudanças. Foco nas transformações dentro das organizações. Elas têm um potencial essencial para construir o novo mundo. Temos novas lideranças espalhadas por várias organizações, mas poucas conscientes que se não transformarmos as pessoas pouco adianta interferir nas missões, visões ou falar nas entrevistas. Precisamos de líderes nas empresas e organizações que percebam e invistam com freqüência na educação de suas equipes para um novo tempo. Perseverança parece não conseguir se estabelecer nesse nosso mundo, e cismamos em acreditar que tempo não existe.
Muitos projetos começam, conquistam colaboradores, mas param. Aliás, uma das doenças atuais das organizações é a síndrome da entrega. Fiz, entreguei, construí o processo, o manual, o newsletter, ou seja, lá o que for, e pronto. Não existe ¨pronto¨ nos dias de hoje. A mudança de cultura esperada não se realiza rapidamente. Há uma absoluta necessidade de freqüência para que a transformação se operem. Cidadania não se conquista sem muito esforço, e estamos falando de cidadania dentro das empresas que precisam sair do estágio trabalho para o patamar serviço. Caso seja possível conseguir isso, trabalhar vai deixar de ser chato, perigoso, ou o que é pior doloroso.
Temos que investir em ambientes de trabalho realizadores. Temos que ter colaboradores conscientes e não meros fiscais no papel de líder. Precisamos compreender que somos gestores de vidas, de pessoas que podem ser felizes, dentro da empresa ou nas comunidades onde vivem. Profissionais que querem bônus não só financeiros, mas bônus para suas velhices orgulhosas de ter aproveitado a vida na sua totalidade. Com ética, percebendo o holístico, controlando suas vaidades, a competição; descobrindo a parceria; sendo capazes de construir coletivamente; aproveitando as metodologias que surgiram para fazer de suas aulas e reuniões a possibilidade de encontros vivos e realizadores.
Executivos odeiam reuniões. Até os que estão fazendo. Porque não mudar? Porque reclamar e esperar que o chefe acima mude, ou que apareça a fadinha da transformação? Porque não podemos ser protagonistas, em qualquer nível hierárquico onde estamos? Porque temos medo. Alguns tentam, a maioria, em algum momento, mas acabam aposentam suas pessoas muito antes da hora de se aposentar. Carregam suas vidas profissionais para poder ter alguns poderes de consumo para sua família ou para seu próprio ego. Assim vamos seguindo numa procissão de profissionais insatisfeitos, ou pior se enganando. Basta uma mínima oportunidade para falar com alguém confiável e o que aparece são rosários de dores. Potências perdidas. Perdas significativas para os negócios que ainda não conseguiram inventar indicadores seguros sobre os prejuízos da desmotivação e descompromisso no trabalho.
Eu acredito na comunicação e não na informação. Precisamos conseguir que profissionais de comunicação aproveitem, toda e qualquer oportunidade, para conquistar as pessoas, os profissionais como construtores conscientes do novo mundo. Somos nós que temos que construí-lo, ele não chegará por qualquer passe de mágica. É o líder que além da porta aberta, mudará sua face de porta, que vai conseguir ouvir, vai conseguir parar de correr para qualquer lado, a qualquer hora, sem se dar conta do tempo. É o colaborador, que de forma ativa vai falar, porque terá oportunidade de fazê-lo. Construções coletivas. Precisamos a cada momento oferecer chances de protagonismo.
Nesse sentido o trabalho desse ano foi muito gratificante. Confirmamos que juntos, debaixo de uma mesma marca, somos capazes de encontrar os novos desafios (esse é o primeiro passo) para depois encontrar soluções novas. Cansei de manuais, tabelas de Excel, processos engessados, onde todos reclamam de apenas gastar tempo preenchendo tabelas. Somos complexos, se não tocarmos nos processos afetivos, mesmo preenchendo tudo certinho, a transformação não acontecerá. Um líder me disse uma vez: "quando as coisas estão mal a gente inventa um processo..." Já pensou nisso? Caso eu não entenda racionalmente as razões, eu não descubra um motivo que me envolva para realizar algo, eu posso até fazer, mas não vou me comprometer.
O remédio para que as empresas ganhem eficiência é a comunicação que educa. Um colaborador protagonista, ainda mais considerando a potência que as tecnologias nos oferecem. Temos que vencer o medo. Preferimos mentir, não ouvir e cobramos ética em outro lugar. Deixar falar foi sempre motivo de medo. Afinal de algum lugar saiu: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Só que quem obedece hoje dentro da empresa, tem poder para desobedecer em algum lugar. Até o consumidor (que eu acho que não existe mais) não obedece, ou se conforma e tem feito muitas empresas investirem no novo.
Na segunda década do ano 2000, parece que está na hora de termos mais coragem. Temos tanta tecnologia, ela nos trás tantos novos conhecimentos, não seria óbvio nos permitir arriscar? Permitir novas formas de atuar?
Podemos fazer diferente. Podemos fazer mais.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
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