TEIMOSIA!
Foi-se o tempo de perceber comunicação,
relacionamento e educação como áreas de apoio.
Agora elas são absolutamente estratégicas
para os negócios
.
Vamos
começar o ano falando de comunicação interna! Uma luta bem marcada na minha trajetória,
há mais de 20 anos! Comecei a me dar conta da importância e potencialidade da
Comunicação Interna ainda como Diretora da Thompson Rio. Já no final da década
de 80 não conseguia planejar sem pensar sistemicamente e falava em comunicação
integrada e, sempre começando “por dentro”, pela comunicação interna.
Essa consciência só foi crescendo ao longo dos anos e com clareza via o desperdício de lançamentos de novos produtos porque “por dentro” as coisas não iam bem. Algumas empresas me deixavam realizar algumas atividades internas, mas eram incipientes, considerando o que consegui fazer na década seguinte. Consegui fazer alguns trabalhos memoráveis com Citibank e com Ceras Johnson. Num dos lançamentos de um novo RAID, em 1995/96, a Fernanda Montenegro fazia o comercial (“não uso os pés para matar baratas, uso a cabeça!”) e criamos uma campanha interna que ajudou muito no sucesso desse produto. As baratas revolucionárias subiam em bancos e pelos baloons, nos cartazes espalhados pela empresa, gritavam que a Ceras Johson estava lançando um produto para destruí-las, dizimá-las! Que todas as baratas precisavam se unir contra o lançamento desse novo RAID. A movimentação interna gerada pelo inusitado da campanha interna nos murais chamou muita atenção. Ganhou o interesse da equipe de vendas que destacou o produto nos seus inúmeros itens de vendas, gerou simpatia e entusiasmo. Consegui fazer pequenas ações assim, e logo essas ações ganharam o conceito de “endomarketing”.
Com o
passar do tempo as campanhas de endomarketing acabavam tentando “vender” a
empresa para seus ”empregados”, que foram virando “colaboradores” . A visão
histórica dessas transformações é sempre interessante, como tudo isso é muito
recente, difícil encontrá-las em livros. Mas o conceito do “interno” avançou
muito nos últimos dez anos. A tecnologia se encarregou de dar consciência e voz
para os empregados, colaboradores. Passaram a ter segundo grau e, mesmo nas
cidades mais distantes, podem se conectar à intern et. “Vender” a empresa para
eles, passou a não ser mais uma boa estratégia. Diagnosticar o que pensam , o
que entendem do que é anunciado pelos veículos internos, a transparência das
informações, isso tudo começou a fazer muita diferença.
Ainda
são poucas as empresas que percebem a grande oportunidade de desenvolver
estratégias para o público interno. Ainda vejo um enorme desperdício de
oportunidades, mas algumas investem no que chamamos de educomunicação. Vender a
empresa não, educar o participante da organização, sim. Precisamos de cidadãos,
profissionais que coloquem em prática medidas de segurança, de cuidados com o
meio ambiente, que percebam a importância de pensar sistemicamente para que a
empresa cresça e tenha reputação.
Muitas empresas começam, tentam, mas a
maioria ainda vê esse tipo de comunicação como acessória. Mesmo a comunicação
interna estando incorporada ao Branding, ela ali aparece como a mais “pobre” e
menos cuidada. Não percebem que dentro da comunicação interna temos o desafio
seríssimo da comunicação face a face. Essa, no Brasil, devido nosso estilo de
liderança, de uma sociedade elitizada, escravocrata, colonizada onde o modelo
autoritário está aí, escancarado, para atrasar a evolução do Brasil. Investir
em comunicação interna é investir na liderança das empresas. Existe algo mais
importante a fazer?
Não
investir em comunicação interna não é apenas um problema da comunicação, mas um
entrave econômico para nosso desenvolvimento sustentável. Os governos sequer
pensam em comunicação interna. A gestão é por guetos e quase sempre políticos.
A comunicação não é utilizada, apenas a propaganda para vender a imagem de
grandes realizações para a população ou o candidato. A população nunca é ouvida
para compartilhar as decisões, e o potencial de funcionários é uma massa
disforme e mal informada. A população nunca é convocada, educada para
construir criativamente uma nova vida para sua cidade. Existe uma forte rádio
corretor nas cidades e onde existe rádio corredor existe uma grande
oportunidade para uma comunicação que educa!
Recentemente
fiz a conta dos aposentados do município do Rio de Janeiro. Sabem quantos?
Cerca de sessenta mil pessoas que poderiam e certamente gostariam de saber, de
forma privilegiada, o que acontece com o Rio de Janeiro, ou desconfio,
gostariam de ser convocados para alguma ação especial na sua cidade. E tudo
está pior desde a crise de 2008. Fingimos que estamos mudando! Não há efetiva
mudança na forma como as empresas estão atuando como pensamos em pessoas,
estejam elas dentro ou fora das empresas. Nas minhas escutas profundas
(OFFPLAN), método de pesquisa que utilizo, identifico um número enorme de
profissionais de meio ambiente, sustentabilidade, comunicação, RH, que por
saberem o pouco que estão realmente fazendo, vivem na insônia. A consequência
de tanta maquiagem não impede as barrigas precoces (especialmente nos homens),
a perda de cabelo e humor e a clara tensão no olhar que podemos encontrar em
tantos colaboradores desestimulados. As empresas nunca fizeram a conta do que
perdem por não investir nas pessoas!
O mundo
executivo está doente! As pessoas estão tristes, fingindo que comprar um carro
zero, levar esposa e filhos para Miami serão remédios para a falta de contato
com a fonte interior e com a satisfação por fazer um trabalho com sentido. Dói
ver matarmos vidas todo dia dentro das empresas! (claro que fora aquelas
quantas que matamos nas prisões, no nosso absurdo sitema de saúde, no genocídio
de jovens nas periferias, ou jovens até em boates etc). A morte dos
colaboradores aos pouquinhos é silenciosa, não consta das estatísticas dos
acidentes de trabalho, que no Brasil também nos dão inúmeras razões para pensar
em comunicação interna. E hoje temos que falar do departamento de RH, da área
de Desenvolvimento de Pessoas, já que em muitas organizações a comunicação
interna responde para uma diretoria de RH. O mais difícil é ver que não
percebemos que a saída não é individual, mas coletiva sempre. Os Comunicadores
e profissionais de recursos humanos precisam investir em novas tendências e
conquistar o espaço estratégico nas organizações.
Foi-se o tempo de perceber
comunicação, relacionamento e educação como áreas de apoio, agora são
absolutamente estratégicas para os negócios.
Nós,
como comunicadores e criadores de relacionamentos, precisamos encontrar formas
de produzir felicidade e realização através do trabalho. Só a consciência pode
ativar a vontade do coração! Eu sou teimosa, e sei que tenho muitos parceiros
comigo no caminho de ganhar importância para uma comunicação verdadeira,
inteligente, que eduque para os novos tempos que a sociedade cada vez mais
deseja.
À teima
comunicadores internos, RHs e RSA das organizações! À teima!
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