Quando
o modismo e a propaganda substituem o arroz com fe
Mulher, você vai gostar:
Tô levando uns amigos pra conversar.
Eles vão com uma fome.
Que nem me contem.
Eles vão com uma sede de anteontem.
Salta a cerveja estupidamente
Gelada pr'um batalhão.
E vamos botar água no feijão.
Tô levando uns amigos pra conversar.
Eles vão com uma fome.
Que nem me contem.
Eles vão com uma sede de anteontem.
Salta a cerveja estupidamente
Gelada pr'um batalhão.
E vamos botar água no feijão.
Chico Buarque
Não é frequente conversar sobre modismo e
cultura associados ao tema da alimentação, como o momento atual parece exigir.
O nosso querido feijão com arroz, tão cantado nas nossas músicas, por Chico
Buarque, Jorginho do Império ou Simone, vem sumindo das mesas e ficando para a
história. Aliás, esse par de tão boa combinação de sabores e saúde, é parte
integrante do “somos brasileiros”. Frequentemente, os viajantes daqui lembram desse
par romântico e harmonioso falando da saudades do Brasil!
Mas,
o que vem acontecendo com o casal? Vem
sendo atacado pelo tempo. Arroz e feijão é símbolo do comer no encontro,
dividindo a mesa, a conversa, seja no dia a dia, seja nas especiais feijoadas.
Mas, o tempo desapareceu. Ele some no trânsito, indo do trabalho à escola ou
nos dois empregos. Caso surgisse um comércio que vendesse tempo, o sucesso
seria imenso. As famílias quase nunca se reúnem! Vivemos no tempo do relógio. Comer não é mais
um ato consciente, que reúne elementos aromáticos e de paladar. Vem
desaparecendo a alquimia do preparar o alimento, a convivência e a oferenda. A comida
está nos pacotes, nos plásticos, nas latas. Come-se andando, de pé, um de cada vez,
com o celular ativo, para que o senhor tempo continue a reinar. Conveniência. É
a cultura do novo viver.
Os
fabricantes de alimentos conhecem essas novas tendências e investem em novos
produtos “práticos”. E assim surge o sanduíche de biscoito: Club Social,
para matar a fome! Com imagens saborosas na TV e nas outras mídias, consolidam
novos hábitos, garantem novos sabores, quase sempre com excessos, de sal ou
açúcar. Não há propaganda de produtos naturais. Talvez, as folhas dos
hamburguês e as frutas dos sucos, carregados de química, mas que nos comerciais
são resultado de pomares invejáveis, que a maioria de nossos jovens nunca viu!
Nossas crianças mal conhecem os alimentos. Em recente pesquisas com jovens (15
À 20 anos), no Rio de Janeiro, um estudo que está sendo realizado pela UERJ,
UFRJ e UNIRIO para o MDS ouvimos:
“Pensamos na pressa. Porque a gente
tem muito trânsito, muita correria na vida. Eu trabalho em
telemarketing e só tenho 10 minutos
para comer. Eu tenho que comer rápido. Não dá para degustar e
nem comer comida saudável.” (feminino)
“A mídia é o maior vínculo de
comunicação porque é totalmente influente. A maioria dos comerciais
são sobre comidas industrializadas,
mostram sempre os ‘Doritos’ e ‘Cheetos’. Faltam comerciais
mostrando alimentos saudáveis e isso
é muito prejudicial. A mídia se relaciona com a pressa, com sabor,
não com educação alimentar.” (masculino)
Enquanto a cultura do “matar a fome” ganha adeptos,
sobram as consequências. A alimentação que está na
moda contribui para onze milhões de mortes por ano, mais que a provocada pelo tabaco
e a obesidade custa à economia mundial cerca de 2000 bilhões de dólares por ano”.
* Mas, a resistência existe, mesmo com os altos investimentos numa alimentação
sem vida. Uma nova geração de mães, com forte atuação nas redes sociais, luta!
Recentemente Bela Gil, foi massacrada por mostrar a lancheira da filha com
produtos naturais. As novas modas incluem forte crescimento dos veganos, dos
adeptos do slow food, do desejo de uma vida mais natural. Uma luta entre matar
a fome e se alimentar.
Um enorme esforço sistêmico, de conversas com vários públicos de
influência, poderá
estruturar uma comunicação que salve nosso arroz com feijão e todos os valores
que ele
carrega. Senão, ele viverá só na nossa música popular. Deixará saudade de
um tempo
que nos alimentávamos e não só comíamos! Vamos botar água no feijão!
*Dados
da pesquisa da Consumers International (CI) - a principal federação internacional de
organizações de consumidores.
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