sábado, 10 de outubro de 2009

Um Sábado

Sempre penso. E hoje é sábado. Lembro da poesia de Vinícius. Por que hoje é sábado eu refilto. Penso que no mundo temos 22 milhões de pessoas passando fome. Tento pensar fora do número. Números não nos tocam. O que me tocam são as vozes, as imagens. Tento pensar que nesse momento, milhões de crianças estão com fome. Milhões de mães estão engolindo suas lágrimas, tentando suplantar e ter esperança na dor. Lembro dos Diálogos, Mulheres e Segurança Pública e me dou conta de que a dor esta aqui ,tão perto de nós...dando concretude à fome. As mulheres que conheci esse ano são heroínas na sua luta pela paz. Alimentam-se de coragem para seguir em frente. Sozinhas, quase sempre, ou com homens de passagem, cuidam desesperadas de seus filhos, muitas vezes sem saber como essa responsabilidade caiu em seus colos. Elas me ensinaram tanto! No meio de uma noite de sábado, com bolor na alma, por causa de muita chuva e umidade nesse outubro no Rio de Janeiro, fico pensando que saída podemos encontrar. Procuro isso por toda minha vida. Muitas mudanças aconteceram. Sou filha da ditadura. Vivi a morte de Vlado, meu cunhado ,como um ato imenso de violência. Assisto essas mudanças aspirando forte, para continuar com esperança. São lentas. Para uma vida, o tempo é pouco e longo ao mesmo tempo. A sensação é de um mergulho profundo, sem ar, e de repente se repensa e o ar retorna. É lento mesmo. É um movimento, um processo que para a civilização tem um tempo bom, mas para cada vida é um tempo que nos exige uma capacidade de paciência que nem sempre está disponível no nosso software. Fica uma exigência: que diminua a miséria humana. Ela inclui a nossa capacidade de conviver com tanta fome, com tanta gente que ainda não vive o nosso século...vivem ainda na idade média. Betinho me ensinou muitas coisas, mas o que sobra de mais fundamental é que compartilho com ele o pensamento: não há futuro para quem não guardar no coração a capacidade de se indginar.
Alguém pode sempre me perguntar, qual é a fonte de energia que me mantem ainda tão jovem na luta, na refexão e na ação, e eu sempre responderei que é o contraditório: a rebeldia e a paciência. Alguém, algum dia, sintetizou meu mapa astral : você é uma hippie ajuizada. Ri muito dessa definição, na época. Mas é isso: minha hippie e minha ajuizada tentam entender essa loucura que nós humanos fizemos com a terra, com os seres vivos, com nossa dignidade, nossos valores. E sigo.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

RSE e a Mídia, é possível?

O encontro promovido pelo ETHOS aconteceu no auditório da ESPM Rio e foi muito interessante. Foi uma troca de perguntas entre jornalistas e assessores de imprensa de empresas. Podemos concluir que enfim todos eram jornalistas, apenas escolheram lados diferentes para desenvolver suas trilhas profissionais. E ainda assim a questão principal - é possível uma conversa produtiva? - fazia todo sentido. De um lado André Trigueiro, Amélia Gonzalez e Marcos Sá Correia. Do outro a Natura, a Alcoa e o Banco Itau. Fui correta na nominação, de um lado jornalistas do outro empresas representadas na figura de seus assessores de imprensa. Não houve desconforto e a conversa fluiu com transparência. Vou registrar algumas frases que devem permanecer para mais reflexões:
"No momento que a impresa entender que não existe perfeição não vai mais haver mocinho e bandido."
"Jornal é um ramo de negócio velho, lento, em decomposição. Migrou para a internet sem descobrir a maneira de ganhar dinheiro com isso."
"Sustentabilidade não tem que ser uma especialidade do jornalismo, tem que estar em tudo, é notícia em qualquer área, a qualquer momento. O esporte tem que se preocupar com o ambiental."
"A crise ambiental caminha depressa e a humanidade devagar".
"Ser sustentável não é dizer que agora estou escovando os dentes, mas que estou preocupado em ensinar outras pessoas a escovar os dentes." (essa seria a missão das empresas, e mais especificamente poderia ser um papel relevante para os bancos).
"Falo uma hora para o repórter e não sai uma linha, só o que as ONGs falaram. Preconceito com a fonte empresarial?"
"Os jornalistas conhecem muito pouco o ambiente empresarial." (de fato eles conhecem mais as empresas da Avenida Paulista, como eu chamo)
"Repórter é ignorante, tem o dever profissional de ser ignorante, tem que querer descobrir, quando entende do assunto, passa a ser especilista e vai ser colunista etc."
"Repórter trabalha sob pressão não tem tempo de digerir."
"Jornalistas tem medo de se aproximar de empresas...antes eram brindes incríveis, havia até a brincadeira que na economia contínuo era gorado!"
"A imprensa com a empresa funciona na base da apurrinhação , acaba ajudando a empresa a perceber suas imperfeições."
"O marketing é que complica...Atingiu o foot print...tá errado. Aí um engenheiro da empresa me ligou e disse, olha eu sei que não é isso...O grande desafio da sustentabilidade está nos engenheiros e banqueiros!"
"Natura e Real são exemplos de como ir construindo o caminho. O Real assume para quem empresta dinheiro. Discrimina clientes. Isso faz a diferença. O engenheiro pensa no custo/ benefício, ele pode fazer a conta da execução e manutenção e deixar claro o impacto."
"Os bancos são conservadores, a mudança tem que ser estrutural, não é fácil. "
"Tem que trabalhar o público interno, é uma mudança cultural que envolve mudar processos. "
Cursos na faculdade de comunicação sobre sustentabilidade? Teve o sim e o não. Como é transversal não devia estar em tudo? Mas ainda não está...talvez no momento ainda precise de forte impacto sobre os novos paradigmas."
"Trabalhar a complexidade, a diversidade, dar aos estudantes a dimensão do que está acontecendo hoje , o impacto que causamos com nossas formas de pensar. Sustentabilidade é uma palavra síntese, sinônimo de sobrevivência e equilíbrio. Precisamos disseminar os novos valores através dela."

Conclusão: A conversa não flui entre empresa e imprensa. Quem está do lado da empresa, conhece muito bem a imprensa, passou pela mesma escola que ensina a criticar, investigar, nunca acreditar. Na ponta está o diretor da empresa, quase sempre um engenheiro ou financeiro, ainda pouco convencido que pode dizer que errou, que anida não fez, que ainda não conseguiu preparar sua equipe para fazer, ou simplismente que não entende porque todos agora cobram dele essa tal de sustentabilidade...Afinal ele faz tudo que faz para dar lucro aos acionistas e ser uma empresa sustentável...

Assim caminharemos...limpando conceitos, permitindo falar e ouvir e entender que nada está pronto, tudo está imperfeito, passível de melhorar. Melhoria contínua é uma linguagem que a empresa entende...é isso precisamos melhorar sem parar, com determinação a nossa forma de viver num planeta ameaçado...enquanto há tempo.

Precisamos também "ensinar a escovar o dente"ou seja a viver com novos hábitos no novo tempo da civilização. O que fica claro é que todos nós, que trabalhamos com comunicação, seja no velho jornal, nas novas mídias, na divulgação das empresas, fazendo programas, filmes, propaganda, assessoria de imprensa, precisamos correr contra o tempo para conversar mais e perder menos tempo não nos entendendo, porque...falta pouco tempo para podermos olhar lá na frente e exergar nossa sobrevivência. Que venham mais e mais oportunidades de diálogos entre nós. Que possamos ser mais sinceros.

Os profissionais da Alcoa , Nemércio Nogueira, da Natura Rodolfo Gutilla e do Itau, Sonia Favareto minha solidareidade por estarem desempenhando o importante papel de ponte no mundo da imprensa e de farol para dentro das organizações.