terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Boomerang de Dezembro

O poeta norte-americano Robert Creeley escreveu certa vez: “Sinto que quando as pessoas lêem meus poemas com mais simpatia, lêem comigo, assim como eu escrevo com elas. Desta forma, a comunicação é ‘sentimento compartilhado com outro’, e não ‘processo didático de informação’.”
(retirado do Prosa e Verso, caderno do jornal O Globo. Artigo de Carlito Azevedo sobre poemas de Wislawa Szymborska).

Fim de mais um ano. Como sempre hora de reflexão e balanço. Hora de pensar se estamos usando esse tempo de forma útil para nós e para o mundo. Não estou cheia de entusiasmo esse ano. Os aprendizados foram muitos, mas tudo que precisa ser transformado segue tão lentamente que o exercício da esperança fica dificultado. Temos inúmeras razões para comemorar um Brasil melhor economicamente, um Rio de Janeiro cheio de fatos novos, que apontam para novas possibilidades. Temos a Rio + 20, a Copa e as Olimpíadas. Temos inúmeros projetos pela frente. Mas todas essas oportunidades poderão deixar de ser aproveitadas pela incapacidade que temos de pensar sistemicamente. Minha preocupação central são as pessoas. Por isso trabalho com comunicação.

Recebo muitos e-mails de amigos, profissionais que assistem às minhas palestras identificando que o mundo corporativo andou para tendências que eu identificava há 20 anos. Isso não me envaidece, ao contrário mostra quanto tempo a consciência leva para chegar a construir uma massa crítica que pode efetivamente transformar a realidade. Eu e muitos outros identificávamos tendências como a necessidade da comunicação interna, a responsabilidade social empresarial entre muitas outras idéias que iriam ao longo desses anos conquistando espaço na nossa sociedade. Os jovens estão nas ruas, os profissionais de várias áreas estão aí insatisfeitos; que, claro, é o primeiro sentimento que pode levar às mudanças. No entanto ainda são iniciativas confusas e sofrem um impedimento constante daqueles que querem manter tudo como está, ou pior, avançar em modos de produção e de vida que já estão condenados.
Fico com as manifestações importantes das pequenas e persistentes mudanças. Foco nas transformações dentro das organizações. Elas têm um potencial essencial para construir o novo mundo. Temos novas lideranças espalhadas por várias organizações, mas poucas conscientes que se não transformarmos as pessoas pouco adianta interferir nas missões, visões ou falar nas entrevistas. Precisamos de líderes nas empresas e organizações que percebam e invistam com freqüência na educação de suas equipes para um novo tempo. Perseverança parece não conseguir se estabelecer nesse nosso mundo, e cismamos em acreditar que tempo não existe.
Muitos projetos começam, conquistam colaboradores, mas param. Aliás, uma das doenças atuais das organizações é a síndrome da entrega. Fiz, entreguei, construí o processo, o manual, o newsletter, ou seja, lá o que for, e pronto. Não existe ¨pronto¨ nos dias de hoje. A mudança de cultura esperada não se realiza rapidamente. Há uma absoluta necessidade de freqüência para que a transformação se operem. Cidadania não se conquista sem muito esforço, e estamos falando de cidadania dentro das empresas que precisam sair do estágio trabalho para o patamar serviço. Caso seja possível conseguir isso, trabalhar vai deixar de ser chato, perigoso, ou o que é pior doloroso.

Temos que investir em ambientes de trabalho realizadores. Temos que ter colaboradores conscientes e não meros fiscais no papel de líder. Precisamos compreender que somos gestores de vidas, de pessoas que podem ser felizes, dentro da empresa ou nas comunidades onde vivem. Profissionais que querem bônus não só financeiros, mas bônus para suas velhices orgulhosas de ter aproveitado a vida na sua totalidade. Com ética, percebendo o holístico, controlando suas vaidades, a competição; descobrindo a parceria; sendo capazes de construir coletivamente; aproveitando as metodologias que surgiram para fazer de suas aulas e reuniões a possibilidade de encontros vivos e realizadores.
Executivos odeiam reuniões. Até os que estão fazendo. Porque não mudar? Porque reclamar e esperar que o chefe acima mude, ou que apareça a fadinha da transformação? Porque não podemos ser protagonistas, em qualquer nível hierárquico onde estamos? Porque temos medo. Alguns tentam, a maioria, em algum momento, mas acabam aposentam suas pessoas muito antes da hora de se aposentar. Carregam suas vidas profissionais para poder ter alguns poderes de consumo para sua família ou para seu próprio ego. Assim vamos seguindo numa procissão de profissionais insatisfeitos, ou pior se enganando. Basta uma mínima oportunidade para falar com alguém confiável e o que aparece são rosários de dores. Potências perdidas. Perdas significativas para os negócios que ainda não conseguiram inventar indicadores seguros sobre os prejuízos da desmotivação e descompromisso no trabalho.

Eu acredito na comunicação e não na informação. Precisamos conseguir que profissionais de comunicação aproveitem, toda e qualquer oportunidade, para conquistar as pessoas, os profissionais como construtores conscientes do novo mundo. Somos nós que temos que construí-lo, ele não chegará por qualquer passe de mágica. É o líder que além da porta aberta, mudará sua face de porta, que vai conseguir ouvir, vai conseguir parar de correr para qualquer lado, a qualquer hora, sem se dar conta do tempo. É o colaborador, que de forma ativa vai falar, porque terá oportunidade de fazê-lo. Construções coletivas. Precisamos a cada momento oferecer chances de protagonismo.
Nesse sentido o trabalho desse ano foi muito gratificante. Confirmamos que juntos, debaixo de uma mesma marca, somos capazes de encontrar os novos desafios (esse é o primeiro passo) para depois encontrar soluções novas. Cansei de manuais, tabelas de Excel, processos engessados, onde todos reclamam de apenas gastar tempo preenchendo tabelas. Somos complexos, se não tocarmos nos processos afetivos, mesmo preenchendo tudo certinho, a transformação não acontecerá. Um líder me disse uma vez: "quando as coisas estão mal a gente inventa um processo..." Já pensou nisso? Caso eu não entenda racionalmente as razões, eu não descubra um motivo que me envolva para realizar algo, eu posso até fazer, mas não vou me comprometer.
O remédio para que as empresas ganhem eficiência é a comunicação que educa. Um colaborador protagonista, ainda mais considerando a potência que as tecnologias nos oferecem. Temos que vencer o medo. Preferimos mentir, não ouvir e cobramos ética em outro lugar. Deixar falar foi sempre motivo de medo. Afinal de algum lugar saiu: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Só que quem obedece hoje dentro da empresa, tem poder para desobedecer em algum lugar. Até o consumidor (que eu acho que não existe mais) não obedece, ou se conforma e tem feito muitas empresas investirem no novo.

Na segunda década do ano 2000, parece que está na hora de termos mais coragem. Temos tanta tecnologia, ela nos trás tantos novos conhecimentos, não seria óbvio nos permitir arriscar? Permitir novas formas de atuar?
Podemos fazer diferente. Podemos fazer mais.

domingo, 13 de novembro de 2011

Precisamos reconhecer a mudança!

Temos de fato muitos problemas! Mas tenho prazer em reconhecer até as pequenas mudanças...sem ter a ilusão que tudo mudou!

Quando vejo o não reconhecimento dos pequenos sinais de mudança, lembro sempre de Ken Wilber. Ele fala dos níveis de consciência da civilização humana e de como tudo segue num processo lento e difícil até chegarmos à visão integral.

Lembro também do Betinho, que quando eu me desesperava nas baixas da Ação da Cidadania, por exemplo quando a Globo não veiculou o filme sobre a terra, com Eva Vilma, inédito até hoje, e ele falava: "Até aqui fomos, agora chegamos no limite da consciência possível da maioria da sociedade!" Conseguimos com a campanha que a fome se tornasse um fato, não há dúvida que ela influenciou políticas públicas que hoje não resolveram, mas diminuiram a fome no país. Falar sobre a posse da terra ainda não era possível.

O político não mudou, mas vai mudando, a polícia não mudou, mas vai mudando, o jornalista não mudou, continua um instrumento mais de propaganda do que de conhecimento e reflexão, mas vai mudando...Assim percebemos que tudo está em movimento.

Eu não tenho de forma alguma o preconceito em comemorar as pequenas mudanças. Já aprendi que a transfromação é lenta e como observadora da realidade percebo os pequenos passos que temos dado. Na ocupação da Rocinha percebo sinais de maior transparência. No Borel, por exemplo, a "limpeza" do BOPE, antes da entrada da UPP, não foi anunciada...( as mulheres da comunidade contaram barbaridades, que espero não ocorram agora na Rocinha e Vidigal).

A polícia, pouco a pouco, também vai mudando. Nosso governador na entrevista conseguiu compartilhar e não respondeu perguntas técnicas, dando a quem entendia do assunto o direito de resposta. Para minha absoluta supresa se declarou GESTOR DE PESSOAS. Isso é tão novo no setor público quanto será para a população da Rocinha viver daqui para adiante.

Não será fácil, todas as doenças continuam ali, policiais corruptos, líderes negativos, gerações criadas sem educação e na violência, mas não acredito em mágica...acredito no trabalho duro, em planejamento, estratégias e numa atuação sistêmica.

Há indícios de avanços. Alguns olham sempre para o negativo, eu tenho a mania de perceber o positivo nascendo e acreditar nas pequenas mudanças, para poder seguir. Transformação... falar é uma coisa, fazer é outra. Quem faz sabe o quanto é difícil avançar com as enormes mazelas que criamos até nas formas de pensarmos. O importante é fazer e ir aprendendo todo dia.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Colômbia? Hoje é aqui!

Achoque há uns 3 ou 4 anos atrás, num Congresso do GIFE em Curitiba, eu e Bernardo Toro nos encontramos num bar. Fumávamos. Felizes. Conversamos sobre o trem, que uniria a América Latina! Alguém lá de baixo poderia namorar um brasileiropq o trem uniria todos os jovens...saí dali pensando o quanto desejei isso por toda minha vida...que a América Latina se olhasse e vivencisse sua territoriedade...Pois é ...não precisamos nem conquistar o trem, Shakira, no Rock in Rio trouxe a Colômbia, a Espanha mostrando que o local é global! Está aqui e agora o futuro! E como quase empre a cultura uni as almas! Sonho de Bernardo feito um trem de música! Som de almas!

sábado, 24 de setembro de 2011

Publicitária

Sou publicitária? Sim, sou. Muitos publicitários me olham como inimiga da publicidade. Desconhecem o meu prazer de criar, de seduzir, de encontrar a forma correta, a palavra certa, o conceito exato que faz uma marca existir. Desconhecem o quanto agradeço por ter aprendido a falar o essencial em trinta segundos. Não valorizam o planejamento na publicidade. Valorizam apenas a criação sem compreender o extenso e exaustivo trabalho de pesquisa, diagnóstico e planejamento. Esquecem que estratégia é escolha, é encontrar o público foco. Esquecem que descobri-lo é compreender as percepções, as pessoas. Sem perceber o que, o para quem, o por quê, as grandes sacadas criativas dão mais trabalho e são mais arriscadas. Sou da criação ou do planejamento? Sou da pesquisa? Isso tudo fica muito velho para quem percebe e tenta viver a visão sistêmica. Ela chegou de surpresa para mim no final dos anos 80. E tudo mudou.

Além da escolha e da estratégia, o que há mais de vinte anos me influencia tem sido a escolha ética do caminho a seguir. O fascínio do caminho criativo me impactou durante anos sem que eu tivesse consciência do meu compromisso ético, embora sentisse comichões e não dormisse bem as minhas noites. No final dos anos 80 minha consciência disciplinou minha criatividade. Deixei de ser criativa? Meus planejamentos perderam a força? Não. A participação nas campanhas “Ação da Cidadania e Onde você guarda o seu racismo?, a criação do Natal Sem Fome, além de trabalhos para todas as marcas de produtos e causas a partir de então, não deixam essa impressão.

Não há dúvida de que amo planejar e a criatividade é o ar que eu respiro. Para desespero de muitos colegas, respiro a criatividade como escolha ética, de valor, da vontade intrínseca de colaborar para um mundo mais justo, mais sistêmico, que busca construir uma nova economia, que não isola o ambiente e as pessoas dos tais “resultados”. Eu falava no deserto, mas a cada dia ficava mais claro que os verdadeiros “resultados” são ambientais, sociais (onde possamos tirar da Idade Média milhões de pessoas) e ao mesmo tempo vai passo a passo construindo uma economia verde e inclusiva. Estamos dando passos para uma nova civilização.

Vamos perder o nosso trabalho se a sociedade escolher de forma mais consciente o que consome? Ficaremos sem emprego? Esse é um pensamento medroso e despreparado para o essencial da vida: o movimento. Em todas as civilizações as profissões, a economia, os paradigmas mudaram. Empregos desapareceram e outros surgiram. Empresas que produziam produtos que as pessoas começaram a não consumir mais desapareceram. Outras chegaram e descobriram os novos desejos, criaram novos produtos e se desenvolveram. Por que temer a mudança se tudo morre e nasce com enorme rapidez? A grande pergunta neste momento da história é: existe coisa mais importante na vida do que o que tem vida? Será que essa sociedade da competição, do ganhar, do consumir já não consegue nos escancarar que nossa espécie está ameaçada? Aí estão todas as causas que fazem parte da minha causa: a vida. Passamos por cima dela com os velhos paradigmas. Acredito profundamente na capacidade que a comunicação tem de transformar consciências. Minha geração levou a sociedade a consumir milhares de “produtos”, aliás transformamos tudo em produto.

A equidade de gênero, as pessoas com necessidades especiais, a consciência da fome, do racismo que dorme dentro de nós, a liberdade de escolha sexual, tudo isso já foi um absurdo há poucas décadas. Avançamos? Muito. A humanidade caminha para novos estágios. Como está sendo difícil para publicitários perceberem que a comunicação tem um poder incrível de transformar, de criar marcas e de construir e que é exatamente por isso que nosso trabalho hoje consiste em criar as marcas da nova civilização. Arriscaria dizer que já estamos criando. Alguns empresas exigem isso porque desejam sobreviver a esse tempo. Estamos inventando nosso futuro. A Terra, esse ser vivo, se expressa todos os dias. Se não mudarmos o nosso modelo de viver corremos sério risco.

Sou uma publicitária comprometida com os novos tempos. Não há como ter uma profissão sem antes escolher onde você quer chegar. Onde, apesar de todo modelo econômico atual, você pode simplesmente ser. Uma publicitária que entendeu, há muito tempo, que a publicidade é só um pedaço das imensas possibilidades da comunicação. A sociedade se tornou dona da comunicação e ganhou liberdade para dizer o que pensa. Filma. Escreve. Cria seus próprios veículos de comunicação. Escolhe o quer e não quer mais na sua vida.

Atraso é querer desesperadamente manter as coisas como estão. Como diz Alvin Toffler: mudar ou ser refém da mudança.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Viva Maria!

Hoje dia 14 de setembro, o programa Viva Maria, da Rádio Nacional completa 30 anos no ar. A data está sendo celebrada com o lançamento do selo personalizado e carimbo comemorativo sobre o Dia Latino-Americano da Imagem da Mulher nos Meios de Comunicação. A Empresa Brasil de Comunicação – EBC, a ONU Mulheres e os Correios, realizou um painel sobre o tema, no Espaço Cultural da EBC e eu deveria ter estado lá... O rio amanheceu chorando muito, tudo nublado e o meu avião não sairia a tempo. Minha idéia foi falar com a Mara e o Bráulio para ver se eu não poderia entrar numa gravação. Bráulio lembrou do skipe e voltando para casa em pouco tempo colocamos tudo pronto para que “eu entrasse no ar” num auditório com 120 pessoas. Do Rio para Brasília. Não consegui mostrar meus slides, mas consegui falar o que achava muito importante ser falado: que o programa Viva Maria, através da voz da Mara Régia, de sua alegria, informalidade consegue conversar com mulheres de segunda a sexta-feira, em diferentes horários, pela Rádio Nacional da Amazônia, Rádio Nacional de Brasília, Rádio Nacional do Rio de Janeiro e Rádio Nacional do Alto Solimões e também está disponível para download gratuito na página da Radioagência Nacional. Com formato de reportagens e entrevistas (eu nesses anos já dei muitas) ela destaca a participação das ouvintes. É ali que muitas mulheres, sem acesso a informação, podem acompanhar as políticas públicas voltadas as mulheres, aprendem saúde sexual e reprodutiva feminina, conversam sobre a violência doméstica, a comunicação que explora a imagem da mulher. Fazendo uma pesquisa para a Secretaria das Mulheres com as mulheres do campo e da floresta descobrir a importância desse programa. A mulher fora dos centros urbanos não tem qualquer suporte, ou alguém sobre conversar sobre seus problemas de ser mulher. Caso sofra uma violência doméstica com quem falar? Com o padre, o delegado? Ela sofre numa imensa solidão... Lá não temos ainda nem delegacia das mulheres. Aí entra o Viva Maria que vai com ela para o rio, lavar roupa. A Mara está lá como uma voz amiga. São 30 anos gente, e a Mara que ganhou o prêmio da revista Cláudia ainda merece muitos prêmios! Acabei minha palestra virtual desejando que Mara com 90 anos ainda continue a levar oxigênio a mulheres que não tem atendimento à saúde, não tem delegacia de mulheres, não tem blog e não tem face book. Conheçam mais, vale à pena. Acabo o dia feliz também porque produzi menos CO2.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

CONAR E INSTITUTO ALANA

Ou deveria ter escrito no título: O CONAR e sua responsabilidade na educação? Ou ainda deveria me perguntar, até quando os publicitários vão insistir em não perceber que a sociedade brasileira está em profunda transformação? Ou ainda me perguntar quanto vamos perder de talentos brilhante da comunicação que poderiam estar construindo o novo mundo cada dia mais desejado? As empresas estão mudando mais rápido do que os profissionais de propaganda? Estamos protegendo o quê? A falta de delicadeza e conversa encontrada num relato votado por unanimidade no CONAR nos indica o quê? A propaganda não percebeu a autonomia que a tecnologia conferiu a todos nós? Não há mais formas de controle. Os tempos são outros. todos somos jornalistas e publicitários. Fotógrafos e cineastas. Continuará a admiração pelos profissionais dessas áreas. Ninguém deixou de ir ao cinema ou de gostar de propaganda, mas todos podem falar e se manifestar usando todos os recursos. Repito são outros tempos. Cegueira e miopia já custaram muito caro! Entrem no blog do Instituto Alana e também do CONAR. Acompanhem as manifestações espontâneas de pais, mães, publicitários, jornalistas, formadores de opinião. Procurem se lembrar de como é difícil, ou foi difícil em algum momento negar um brinquedo para seu filho, ou tentar explicar a ele que a promoção nào vale. Converse com você sobre o perigo da propaganda que não respeita. Vamos ser publicitários do nosso tempo. Vamos construir empresas para os novos tempos.

domingo, 15 de maio de 2011

Capital Espiritual

Acabo de ler e estudar o livro Capital Espiritual de Danah Zohar e Ian Marshall. Recomendo a todos e todas. Descobrir que além do tradicional QI, que foi concebido pelo exército, da proposta de Daniel Goleman do QE, o coeficiente emocional, chega a descrição precisa por ela do QS, coefiente espiritual. Essa inteligência pode construir a nova civilização que tanto desejamos.

Ela apresenta a possível conquista do capital espiritual pelas organizações. Precisamos de massa crítica, mais e mais pessoas que desenvolvam suas inteligências espirituais. O livro termina com um texto da Madre Teresa de Calcutá, encontrado num jornalzinho nepalês.
Ele inspira a tarefa que temos pela frente:

As pessoas geralmente são pouco razoáveis, ilógicas e egoístas.
Perdõe-as mesmo assim.
Se você for bondoso, alguns poderão acusá-lo de estar agindo por interesse.
Seja bondoso, mesmo assim.
Se você for bem-sucedido, ganhará alguns falsos amigos e verdadeiros inimigos.
Seja bem-sucedido, mesmo assim.
Se você for honesto e aberto, algumas pessoas poderão enganá-lo.
Seja honesto e aberto, assim mesmo.
O que você passou anos construindo alguém poderá distruir do dia para a noite.
Construa, assim mesmo.
Se você encontrar paz e felicidade, as pessoas poderão sentir inveja.
Seja feliz, mesmo assim.
Dê ao mundo o melhor que você tem, mas talvez nunca seja suficiente.
Mas dê ao mundo o melhor que você tem.
Entenda, no cômputo final, tudo acontece entre você e Deus: nunca foi mesmo entre você e os outros.
Boa leitura e belo futuro!

terça-feira, 26 de abril de 2011

A nossa falta de visão sistêmica na educação estará favorecendo a criação de “monstros”?

Realengo e sua dor se espalharam por todo o Brasil e se tornou artigo de exportação. Por quê? Perguntamos todos! Como? Que motivo teria um rapaz de 23 anos para matar com tanta frieza meninas, na sua maioria, dentro do que foi sua casa durante alguns anos?

Porque na sua escola? Todas essas perguntas ocuparam minha mente nessa semana. Escutei atentamente as entrevistas com as crianças, a primeira professora atingida, os colegas de Wellington. Olhei suas fotos e o vídeo encontrado no Orkut, e em seus olhos não havia dor, angústia, tristeza. Havia somente indiferença. Encontrei ausência.

Passei a me perguntar que tipo de vida teve essa criança, esse adolescente, que chegou aos 23 anos, totalmente isolado e morto? Sim, ele já estava morto há muito tempo, por isso a morte lhe era indiferente.
Passei a me perguntar como uma criança passa pelas salas de aula no Brasil, carregando sua dor, sua doença e ninguém, absolutamente ninguém, presta atenção a ele. Sua dor não foi capaz de sensibilizar professores e patrões. Apenas notavam que era silencioso, que não se relacionava e assim quieto, não perturbava.

Nossos indicadores de resultado são notas nas salas de aula e o cumprimento de tarefas, a “disciplina”. Não era necessário interferir, ele era bom aluno! Só apresentou problema no trabalho depois que a mãe morreu. A felicidade não é um indicador. Olhamos o menino, o adolescente e não o enxergamos. Durante 23 anos ele desfilou seu olhar distante por todos os ambientes. Dentro da escola muitos contaram o bullying que sofria, mas...

Ele ficava quieto, não perturbava a ordem. Assim ele foi provocado, sem descanso, pelas meninas e meninos. Torturado. Os colegas colocaram sua cabeça dentro lata de lixo ou dentro do vaso sanitário. Mas ele continuava quieto. Não dava trabalho a ninguém. Talvez essa mãe, que já não pode mais nos falar, tivesse interessantes histórias para nos contar! Quantas vezes ela procurou a escola? Quantas vezes ela pediu ajuda para resolver problemas com seu filho, e nunca encontrou?

Talvez ela pudesse explicar o porquê o adotou, porque o protegeu e o medo que talvez tivesse de que quando se fosse ele pudesse explodir na barbárie. Onde estão seus irmãos? Que mistério a vida desse menino guarda? Talvez nunca sejam revelados. No meio dessa história entra a internet e as armas, mas não são as causas. A oportunidade estava ali, desde sempre.

Para mim, fica uma pergunta: quantos Wellingtons estamos permitindo crescer nas salas de aula de todas as nossas escolas nesse perverso mundo que criamos, onde ninguém realmente vê ninguém, onde não temos escuta, onde estamos perdidos no aqui e agora de nossas angústias, sem tempo para nada?

Educar? Será que essa palavra alguma vez existiu na vida de Wellington?
Temos armas por aí e precisamos enfrentar essa realidade, temos também potenciais usuários dessas armas formados na nossa falta de perceber as crianças e adolescentes com uma visão sistêmica. Talvez agora a gente pense mais seriamente nas conseqüências da nossa indiferença e omissão. O bullying existe e é grave. Nossa indiferença cria seres doentes ou aumenta as possibilidades de despertar, intensificar doenças.

Onde os olhos morrem antes do corpo podemos ficar sem explicação para os ataques de loucura.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Projeto Elas em Movimento

Vem ai o segundo empreendimento do programa "Elas em Movimento". realizado na Cidade de Deus. O primeiro empreendimento foi inaugurado no Jardim Batan. Trata-se do Sabor e Arte – restaurante e delivery.

Mulheres empreendedoras participaram dos Diálogos para Melhoria das Condições de Vida, facilitado por Nádia Rebouças. O evento, ocorrido nos dias 24 e 25 de julho de 2010, teve a função de auxiliar as empreendedoras na concepção de ideias de negócios que serão lapidadas durante a capacitação ministrada pelo ELAS – Fundo de Investimento Social, realizador do Projeto.

O Elas em Movimento tem o patrocínio da petrolífera Chevron, que decidiu investir em mulheres de comunidades com Unidades de Polícia Pacificadora. Os projetos de negócios são construídos pelas próprias mulheres e um deles é implementado nas comunidades de origem.



terça-feira, 15 de março de 2011

Diálogo, ferramenta para enfrentar a complexidade?

“Aproveitando a etimologia latina da palavra, que significa dar voltas juntos, chamo de conversar este entrelaçamento do falar e do emocionar que acontece no viver humano dentro da linguagem. Sustento, ainda, que todo fazer humano ocorre na fala e que todas as atividades humanas se dão como sistemas distintos de conversação. Por isso também sustento, que em sentido estrito, as culturas – como formas do conviver humano, naquilo que o faz humano, que é o entrelaçamento do falar e do emocionar – são redes de conversação. E também por isso afirmo que as diferentes culturas, enquanto modos diferentes de convivência humana são redes diferentes de conversação. E uma cultura se transforma em outra quando muda a rede de conversações que a constitui e a define”.
Maturana

Vocês já notaram a quantidade de metodologias de Diálogos que têm surgido nos últimos anos? Há uma corrida para contemplar a diversidade, para ampliar a capacidade de conversa, seja dentro das empresas, nas suas áreas de impacto ou nas cidades. É impossível seguirmos sem nos capacitarmos para conversar, para abandonarmos a antiga idéia de que alguém é dono da verdade, ou ainda, que só ele pode oferecer soluções para outros grupos sociais, porque é ESPECIAL.

É hora de pararmos de falar em sustentabilidade e começar a atuar. É hora de deixar a maquiagem para lá e enfrentar com profundidade o desafio de construir um mundo que caiba no planeta. Será que não é esse o recado das grandes catástrofes que estamos assistindo nesse ano? Caberia numa ilha estreita centrais de energia nuclear, quando tanto nos falam os cientistas do aquecimento global? Foi um terremoto, mas outras notícias apontam para os absurdos que fizemos. Será que estamos surdos aos que nos alertam há três décadas?

Sabemos discutir, debater, falar e falar, mas, quase nunca conseguimos escutar o outro. Mais difícil ainda é nos colocarmos no lugar do OUTRO! Essa situação impacta as empresas e seus departamentos, que encontram dificuldades para fazer trabalhos em conjunto e se perdem na defesa de suas áreas.

Temos o assunto “novo mundo” em várias caixinhas: sustentabilidade, meio ambiente, responsabilidade social, RH, comunicação e nada conversa ou se complementa. É difícil perceber que as áreas estão em conexão no palco da vida e que as empresas ainda não conseguiram criar modelos de gestão que integrem a diversidade, dentro delas mesmas. O pensamento sistêmico ainda é um desafio. Esse é o nó para caminharmos para a sustentabilidade: pensar no todo.


E como enfrentamos nossos problemas econômicos, sociais, ambientais? Todo o dia vejo situações que me fazem perguntar como as empresas, as cidades, os governos podem escrever e falar em desenvolvimento sustentável se não conseguem melhorar a conversa dentro de seus espaços interiores. Como os projetos não pensam na comunicação? Só através da comunicação, como forma de educação e cultura, poderemos mudar os níveis de consciência dos indivíduos. Insisto no ponto de que só um indivíduo consciente pode fazer a diferença num grupo e ser agente de transformação. Mudar seus valores, o que quer comprar, o que quer que seja produzido etc. A maioria das pessoas não consegue fazer nada diferente da rotina introjetada, não tem consciência de onde estamos e do que fazemos e quais serão os resultados de nossos próprios atos.

Cada vez fica mais clara a profundidade da mudança que a civilização tem que operar. Não adianta falar em sustentabilidade. Temos que aprender a pensar e agir para a sustentabilidade. Para isso o desafio é o diálogo. Por exemplo, o diálogo com órgãos governamentais, vários ambientais, comunidades diversas, fornecedores de diferentes portes, parceiros, concorrentes etc. A conversa flui? Existe a disposição para encontrar novas e surpreendentes soluções? As populações nas áreas de interferência sofrem e a natureza, que aparentemente não fala, grita.

Temos várias metodologias para o Diálogo. Os Diálogos Apreciativos, de David Cooperrider (que se desdobrou no World Café), o fantástico livro ‘Diálogos, Redes de Convivência’, de David Bohm que, se lido com carinho, é capaz de produzir inúmeros insights; os trabalhos de Maturana. A ‘Teoria U’, desenvolvida por Otto Scharmer, que propõe a descoberta de novas soluções através de ampla conversa a respeito de qualquer tema, reunindo diferentes lideranças, de múltiplas áreas.

Precisamos começar a treinar e conseguir criar esses espaços de Diálogo.

Espaços de Diálogos até que andam surgindo. Porém, se desenvolvem lentamente por causa da nossa baixa capacitação para a conversa. Acredito que essa falta de talento para a conversa tem dificultado o caminho para o desenvolvimento sustentável. As novas soluções para nossos velhos problemas só vão emergir quando conseguirmos conversar envolvendo atores dos vários setores, sem diferenças de classe, região, cor, gênero, religião, etc. Cada um de nós tem que começar a fazer isso no seu espaço de trabalho. Saia da rotina. Torne seu trabalho um novo trabalho. Tenha prazer com o que você faz, descubra o benefício do seu fazer. Converse. Não levante todo dia para nada ou para o mesmo. Isso é muito chato!

Na Rebouças, temos tido oportunidades para perceber a diferença que o Diálogo faz dentro de empresas ou de comunidades. É sempre com muito entusiasmo que percebemos como profissionais ou comunidades respondem ao convite para o protagonismo. Como aparecem novas idéias! Como se produz o compromisso, o entusiasmo! Temos uma jornada para um futuro onde podemos enfrentar as barbaridades que criamos: fome, destruição do meio ambiente, a corrida para o lucro, para resultados não qualificados, para um planeta devastado, para toda tristeza, que podemos perceber, naqueles breves segundos em que deixamos nossa consciência falar.

Chega, precisamos de menos discursos e mais soluções para construir uma economia verde e inclusiva.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Será que podemos?

"As políticas sociais não constituem custos, são investimentos nas pessoas. E com a atual evolução para uma sociedade cada vez mais intensiva em conhecimento, investir nas pessoas é o que mais rende. A compreensão de que os processos produtivos de bens e serviços e as políticas sociais em geral são como a mão e a luva no conjunto da dinâmica do desenvolvimento, um financiando o outro, sendo todos ao mesmo tempo custo e produto, aponta para uma visão equilibrada e renovada das dinâmicas econômicas.

Um terceiro elemento chave é a política ambiental. A visão tradicional amplamente disseminada apresenta as exigências da sustentabilidade como um freio à economia, impecilho aos investimentos, entrave aos empregos, fator de custos empresariais mais elevados. Trata-se aqui simplesmente de uma conta errada, e amplamente discutida já em nível internacional, com a refutação do argumento da externalidade. Fazer o pre-tratamento de emissões na empresa, quando os resíduos estão concentrados, é muito mais barato do que arcar depois com rios e lençóis freáticos poluídos, doenças respiratórias e perda de qualidade de vida. Para a empresa ou uma administração local, sai realmente mais barato jogar os dejeitos no rio, mas o custo para a sociedade é incomparavelmente elevado".

Ladislau Dowbor - Mercado Ético


Uma vida e tudo ainda está nublado. É assim que me sinto olhando o mundo. Quando era jovem tinha uma imensa simpatia pela Mafalada, personagem de Quino, colocando band aid no globo. Já lá torcia e trabalhava de alguma forma para que o mundo mudasse. Minha vida foi passando, eu olhando o globo, e apesar de continuar ouvindo vozes lúcidas, como a do Lasdilau, sobre um sistema econômico injusto, que é responsável pela morte real de bilhões, do potencial de outros bilhões, as coisas permanecem como estão.

A ciência não para de nos alertar. Temos também novas descobertas de como funciona nossa mente, mil estudos refletindo sobre como transformar consciências, com tantas pesquisas que demonstram nosso caminho suicida, poucas e lentas mudanças são concretas. Talvez esse não seja mesmo um projeto para ser visto numa vida. No entanto isso não tem me poupado de ver catástrofes enormes. Guerras. A Natureza em guerra gritando basta. É triste. Eu preciso acordar de manhã acreditando que pequenos atos de pessoas de boa vontade pelo mundo afora poderão acordar os que podem fazer grandes atos. Nós profissionais de comunicação continuamos a ser obrigados a perguntar como avançar. Nós, nas empresas e nos governos, precisamos ajudar a travessia da grande água esperando que ainda dê tempo.

Nada será conseguido se não modificarmos nossa forma de viver. Mudar conceitos de lucro e de consumo. Como? Mudando nossa forma de pensar e sentir.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Dia da Mulher

Sempre escrevo um texto por ocasião do dia da mulher. Pensando agora cheguei à conclusão que nunca falei sobre uma experiência exclusiva das mulheres. Poderia ser a gravidez, você pode ter pensado em bebês lindos, que nascem com peso e altura normal. Que tem pai e mãe radiantes cercados de avós também radiantes com a chegada da experiência que todos valorizam: ser avós.

Mas a gravidez e o parto não são as únicas experiências exclusivas da mulher, o aborto também é. Completamente secreto, sem imagens e muitas vezes sem palavras. As palavras que aparecem divulgadas são normalmente, as que se voltam contra a mulher que viveu essa experiência. Diferente do nascimento que tem pai e mãe, quando se fala de aborto se fala apenas da mulher.

A mulher que aborta é como se tivesse engravidado sozinha, decidido sozinha, e, portanto, uma assassina sem cúmplice. As feministas no seu afã de defender as mulheres na sua opção por decidir sua própria vida, acabaram reforçando, sem intenção, a idéia de que o aborto é um projeto feminino de libertação. Essa visão contextualizada numa geração, a minha, que tinha como foco libertar a mulher para a vida, deixou que muitos ficassem nos bastidores do aborto.

Mas quase sempre um aborto tem cúmplices que a mulher na sua dor não consegue revelar. E quanta dor. Uma dor muita vezes só porque difícil de compartilhar. Sem dúvida, somos donas de nosso corpo e podemos decidir. Não faz qualquer sentido sermos criminosas por decidir pelo aborto. Sem dúvida as concepções morais em torno do aborto é uma violação ao direito básico do ser humano de decidir como viver e como morrer. O homem, o sexo oposto, faz isso o tempo todo, inclusive com populações inteiras de uma região. Nosso sistema econômico mata milhões todos os dias por questões econômicas de lucro, resultados e bônus para os executivos, poucas, muito poucas mulheres. Só por isso é completamente imoral achar que uma mulher é assassina por fazer um aborto. A igreja montada em tanto ouro e tanto poder que moral tem para acusar uma mulher, sem condições de ter um filho. Vamos parar com a hipocrisia dessas posições.

Mas, apesar de pensar assim não quero falar da morte, mas da vida que famílias e homens impedem de viver. Sim, porque tenho certeza que nenhuma mulher é a favor do aborto. Todas nós optamos por essa solução dentro de certas circunstâncias e o aborto sempre guarda uma história que as mulheres fazem questão de esquecer. A camisinha furou, ele não aceita nem pensar no assunto, ele exige o aborto, e ela não consegue imaginar a vida sem ele ou sendo uma mãe solteira. O medo, a vergonha da adolescente, os homens com seus impedimentos afetivos e ou financeiros de pensar em ter um filho, a falta de condições financeiras da própria mulher, o medo do pai (tanto que muitas meninas de classes mais favorecidas são levadas a abortar pelas mães que sabem que receberá do marido toda a culpa por não ter “educado” bem a menina). São inúmeras as razões que podem levar uma mulher a optar pelo aborto, mas todas elas tem um homem e uma família na história.

Hoje, dia da mulher, escrevo para dizer para você mulher que fez aborto, que acompanhou sua amiga no aborto, que levou sua filha para fazer aborto, que fiquem em paz. Vocês podiam ter essa opção, trata-se do seu corpo. Mas também digo aos homens que é chegado o tempo de que eles sejam envolvidos nessa polêmica, porque também fazem aborto. Que nós mulheres possamos colocar esse tema num novo patamar para debate de toda sociedade, aquela mesma que se desesperou por ver, durante as eleições do ano passado, ele ganhar a mídia e influenciar as opções do eleitorado. A responsabilidade pela gravidez será sempre de dois, no mínimo, e é essa a realidade para ser debatida por nossa sociedade. As mulheres que não fazem os filhos sozinhas têm que debater a questão num outro nível, como adequado ao século 21.

sábado, 15 de janeiro de 2011

FALTA ÁGUA!

Sim falta água!

Ela me fala com um fio de voz que não pode pegar a água do rio, onde correm cadáveres, para dar as crianças. Navega no rio, mortos e o barro. Falta gás. Falta energia.

Falta comunicação, diz ela. Não se preocupe se não conseguir falar. É um milagre que ela está podendo me dizer que ninguém morreu. Afinal são sete filhos e lá embaixo todas as casas foram alagadas, mortos navegam no que antes era um riozinho, sem personalidade. Lá por cima, no morro há muitos mortos e casas arrasadas, ninguém sabe quantos. Os sete filhos estão ali com fome e sede. O marido recolhendo mortos, o último foi um bebê de três dias que ele pegou no colo, o oitavo filho que não concebeu.

Lágrimas escorreram do coração daquele pai, sem tempo de sentir dor. A dor já fazia parte de suas células, depois de três dias de algo que não sabia explicar. Só sabia que tinha que continuar a revolver barro e recolher corpos. Não viu TV, porque não tinha energia. Sabia que algo muito grave estava acontecendo e ele precisava estar ali entre barros e corpos.

Em algum momento pensava como poderiam estar seus filhos, o que estariam comendo? Seus sete filhos, que água estariam bebendo? Mas sabia que respiravam, enquanto recolhia corpos sem vida!

Nova Friburgo verão de 2011.

Eu aqui, sentada, sem chuva, sem enchente, sem corpos, na segurança do décimo primeiro andar na Gávea, Rio de Janeiro, penso porque não acreditam? Porque pensam que a terra é ilimitada? Porque pensam que ela está aqui para nos servir? O que impede, com todos os movimentos do sol e da lua, que possamos entender que ela tem vida? Podemos controlar o que tem vida?

Luciana consegue contato, e eu posso sentir seus sete filhos grudados à sua saia. Pergunta, a mim, que sempre encontrei soluções para essa guerreira menina, o que deve fazer? Como poderia pegar a água do rio, cheia de morte, e ferver na lareira para dar as crianças?

Não há água ou comida, isso é fato.

Eu sinto que não sei pensar a vida sem energia, sem gás, sem comunicação, sem posto de gasolina, sem supermercado, shopping, sem telefone ou celular, sem caixa eletrônico, sem água na torneira, sem vida, sem casas, nem estradas.

- Diga como posso te ajudar, pergunto?



Concluímos que nada. Nenhuma das duas tem condições de fazer nada, só agradecer que todos estão vivos! Torcer para que alguma coisa da vida normal volte a funcionar para que eu possa fazer alguma coisa. Tantos nem conseguem se comunicar! Que bom consegui saber que todos estão vivos!

A estrada não tem passagem para me levar até vocês, nem que eu crie coragem!
Que loucura fizemos com nossas vidas!
Como não chega água em nenhuma das localidades? Como explicar as imagens que vejo? Talvez o título desse artigo fosse: como uma garrafa d água pode custar R$ 30,00? Ou ainda, que raio de governos existe por aí?

Senhores, o amanhã chegou. Desejo a todos vocês muita luz para enfrentar as conseqüências de nossos atos!


OBS - Vivo as Dificuldades de uma família em Friburgo. Uma família que faz parte da minha vida desde 1991, quando a mãe era só uma menina de 11 anos.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Entrevista para o site do Greenvana

O meio ambiente tem uma colaboradora e tanto. A consultora de comunicação e diretora da Rebouças e Associados, Nádia Rebouças, começou a atuar em 1972 e já trabalhou com o sociólogo Herbert José de Souza, o Betinho, na Campanha da Ação da Cidadania, deu aulas em São Paulo e conheceu a Amazônia. Casada, tem três filhos dos quais se orgulha e dois netos que já mostram a preocupação com o meio ambiente. Sua relação com as questões ambientais começou com a Eco-92, onde ela percebeu a dimensão do problema e o número de pessoas que tentavam “acordar” sua cidade para essas questões. Hoje Nádia trabalha com estratégia e planejamento em comunicação.

Positiva com relação as questões ambientes do planeta, Nádia afirma que “daqui há alguns anos teremos um novo mundo”.

GREENVANA STYLE: Qual é o papel da comunicação na construção de uma sociedade sustentável?

NÁDIA REBOUÇAS: Está em plena atividade e tem um papel fundamental. A comunicação divulga para dentro e para fora da empresa. A grande maioria dos comerciais de TV fala de um mundo novo, usando novos paradigmas. A comunicação está sempre presente na construção da consciência e não tem como escapar disso. Quem posiciona e dá conceitos é a comunicação. Em 1949, por exemplo, todo mundo fumava em todos os lugares. Foi quando a comunicação, o cinema e os anúncios falavam do cigarro como um grande barato. Eu era uma jovem que não gostava de cigarro, mas comecei a fumar porque era o jeito de uma mulher independente. É assim que a comunicação faz: ela seduz. Assim como hoje ela conseguiu mudar esse conceito.

GS: Como você avalia o crescimento dos blogs e das mídias sociais no conceito sócio-ambiental?

NR: É algo fundamental, pois dessa forma temos uma democracia na comunicação. O poder que a sociedade ganha com a internet é brutal. A questão é que ainda estamos aprendendo a usar isso. Hoje as empresas têm blogs. Existem pessoas trabalhando com blogs. Então a comunicação é uma grande vertente.

GS: Como as empresas estão se adaptando às necessidades do consumidor que busca uma nova postura?

NR: Esse cliente tem um poder que não conhece. O nosso padrão de alimentação, por exemplo, mudou e as empresas tiveram que se adaptar. A mesma coisa acontece com o meio ambiente. Os empresários estão atentos para descobrir o que o consumidor quer e elas falam em sustentabilidade porque perceberam que a população está preocupada com isso. A discussão de hoje é sobre a economia “verde”. Nosso objetivo é encontrar formas de desenvolvimento econômico que respeite o desenvolvimento social e o meio ambiente. E isso é um desafio muito forte, mas vai levar as empresas a pensarem num conceito de lucro e deixar os profissionais mais conscientes. Acredito que, com todas as crises, estamos vivendo um ponto de mutação que coloca a serviço dessa construção de uma nova era. Temos uma quantidade de tecnologia já criada que não conseguimos colocar na sociedade por uma questão de paradigma econômico. Os economistas vão ter que se transformar para que a gente ponha dinheiro onde é “verde” e inclusivo.

Paciência e Perseverança

Tenho absoluta certeza que você já acordou em determinados dias pensando que nada valia à pena. O que poderia justificar tanta energia, tanta vontade, tanta paciência no seu trabalho? Na sua vida? Tudo uma perda de tempo. Nada se transforma realmente, pensa sua mente incontrolável. E vai adiante à sua montagem da insatisfação: não adiantou nada, viu? Tudo de repente voltou lá para o início, onde tudo começou e nada evoluiu aparentemente.

Você diagnosticou, planejou, executou, conversou, investiu toda sua capacidade de sedução para convencer o passo adiante e nada! Dá aquela vontade imensa de desistir. É o dia das reticências. Você se olha no espelho e vê que o tempo passou. O que mudou? Aquela empresa que parecia caminhar para sua própria transformação perdeu-se no jogo dos egos. A outra, apesar de ter contratado uma “escuta”, não foi capaz de ouvir. Aquela reunião que já não tinha encontrado sua eficiência nos 15 parece ter andado pouco nos 16. São encontros e encontros, conversas e conversas, viagens e viagens, delegações e delegações, CO² e CO² e quase nada!

São pessoas “pacificadas”, perdidas nas dores dos tempos, onde crack, violência, corrupção se entreolham, se cruzam e demandam. É lixo, muito lixo nas praias, nas ruas, por toda parte. Não é possível que não se aprenda! Vulcões, enchentes, neve demais e carros, muitos carros pelas ruas! Será que ninguém pensa? Ninguém consegue ver os sinais de alerta?

E seu rosto matutino está ali te olhando e perguntando se lá no fundo de você mesmo, algum avanço se deu. Dias nublados. Mesmo que ensolarados. Somos isso. Um constante refletir, olhando os passos lentos, quase que imperceptíveis, enquanto toda a realidade te mostra que talvez não dê tempo. Não dê tempo para você ver, para o planeta agüentar. Você sai e até comenta com uma amiga o quanto amanheceu amassada, truncada, mal digitada.

Mas, de repente, algum sinal te surpreende. Ou vários sinais. Seja no noticiário, seja numa reunião, seja numa quase homenagem que você recebe, onde o caminho mostra a transformação. Um email que chega, uma notícia que surpreende. A chuva que para dando lugar a um fim de tarde cheio de homenagens. E, de repente, você se dá conta que pouco importa o espaço, o tempo. Que não importa sua mente embutida. Que os processos naturais de transformação seguem lentos, ganhando profundidade, sem que a máscara matinal possa às vezes se dar conta. Que você também já é outra. Que os caminhos novos vão pouco a pouco se estruturando. Que pra frente, certamente virão mais surpresas positivas. Que depois dos 15,16 ainda virão outros encontros com novos passos para a construção do novo tempo. Que a Rio +20 já está a caminho. Você vê uma ampla discussão sobre a economia verde e inclusiva.
Os sinais dos novos tempos estão aí, escondidos por tantos fatos dos velhos tempos que são resultado da nossa forma de ver a vida na natureza e na sociedade. Mas, por toda parte temos ativistas anônimos dos novos tempos. No Brasil, uma mulher, divorciada e ex-guerrilheira ganha uma eleição e se torna Presidente do país, tomando posse depois de um operário, que assumiu depois de um sociólogo! Algo novo está sempre acontecendo para surpresa da minha cara matinal amassada.

O movimento de transformação é inevitável. Quem diria que veríamos certas imagens! Mulheres nas comunidades se descobrem construindo os seus tão sonhados novos tempos, choram seus amores violentos perdidos enquanto abraçam seus filhos na chance de conquistar mais paz.

E de repente você vai perceber que ao se olhar no espelho de manhã com tristeza nos poros, restarão poucas possibilidades de enxergar o movimento. Intensificará sua pressa e a transformação profunda que vivemos exige a paciência de um agricultor.

O movimento é lento. Basta viver o movimento e fazer o que está ao alcance das mãos. Aliás, basta apenas viver com consciência e amor. E poder agradecer os sinais que, de forma sutil, comunicam que vale viver 2011! Que podemos apostar numa nova década, onde nós humanos continuamos com a grande chance de conquistar nossa humanidade. Vou feliz pelo caminho, mesmo sabendo que, um dia ou outro, vou acordar amassada. E quando isso acontecer, vou ter força para lavar o rosto e enxergar 2011 como mais um ano de oportunidades para transformações!