sexta-feira, 4 de março de 2011

Dia da Mulher

Sempre escrevo um texto por ocasião do dia da mulher. Pensando agora cheguei à conclusão que nunca falei sobre uma experiência exclusiva das mulheres. Poderia ser a gravidez, você pode ter pensado em bebês lindos, que nascem com peso e altura normal. Que tem pai e mãe radiantes cercados de avós também radiantes com a chegada da experiência que todos valorizam: ser avós.

Mas a gravidez e o parto não são as únicas experiências exclusivas da mulher, o aborto também é. Completamente secreto, sem imagens e muitas vezes sem palavras. As palavras que aparecem divulgadas são normalmente, as que se voltam contra a mulher que viveu essa experiência. Diferente do nascimento que tem pai e mãe, quando se fala de aborto se fala apenas da mulher.

A mulher que aborta é como se tivesse engravidado sozinha, decidido sozinha, e, portanto, uma assassina sem cúmplice. As feministas no seu afã de defender as mulheres na sua opção por decidir sua própria vida, acabaram reforçando, sem intenção, a idéia de que o aborto é um projeto feminino de libertação. Essa visão contextualizada numa geração, a minha, que tinha como foco libertar a mulher para a vida, deixou que muitos ficassem nos bastidores do aborto.

Mas quase sempre um aborto tem cúmplices que a mulher na sua dor não consegue revelar. E quanta dor. Uma dor muita vezes só porque difícil de compartilhar. Sem dúvida, somos donas de nosso corpo e podemos decidir. Não faz qualquer sentido sermos criminosas por decidir pelo aborto. Sem dúvida as concepções morais em torno do aborto é uma violação ao direito básico do ser humano de decidir como viver e como morrer. O homem, o sexo oposto, faz isso o tempo todo, inclusive com populações inteiras de uma região. Nosso sistema econômico mata milhões todos os dias por questões econômicas de lucro, resultados e bônus para os executivos, poucas, muito poucas mulheres. Só por isso é completamente imoral achar que uma mulher é assassina por fazer um aborto. A igreja montada em tanto ouro e tanto poder que moral tem para acusar uma mulher, sem condições de ter um filho. Vamos parar com a hipocrisia dessas posições.

Mas, apesar de pensar assim não quero falar da morte, mas da vida que famílias e homens impedem de viver. Sim, porque tenho certeza que nenhuma mulher é a favor do aborto. Todas nós optamos por essa solução dentro de certas circunstâncias e o aborto sempre guarda uma história que as mulheres fazem questão de esquecer. A camisinha furou, ele não aceita nem pensar no assunto, ele exige o aborto, e ela não consegue imaginar a vida sem ele ou sendo uma mãe solteira. O medo, a vergonha da adolescente, os homens com seus impedimentos afetivos e ou financeiros de pensar em ter um filho, a falta de condições financeiras da própria mulher, o medo do pai (tanto que muitas meninas de classes mais favorecidas são levadas a abortar pelas mães que sabem que receberá do marido toda a culpa por não ter “educado” bem a menina). São inúmeras as razões que podem levar uma mulher a optar pelo aborto, mas todas elas tem um homem e uma família na história.

Hoje, dia da mulher, escrevo para dizer para você mulher que fez aborto, que acompanhou sua amiga no aborto, que levou sua filha para fazer aborto, que fiquem em paz. Vocês podiam ter essa opção, trata-se do seu corpo. Mas também digo aos homens que é chegado o tempo de que eles sejam envolvidos nessa polêmica, porque também fazem aborto. Que nós mulheres possamos colocar esse tema num novo patamar para debate de toda sociedade, aquela mesma que se desesperou por ver, durante as eleições do ano passado, ele ganhar a mídia e influenciar as opções do eleitorado. A responsabilidade pela gravidez será sempre de dois, no mínimo, e é essa a realidade para ser debatida por nossa sociedade. As mulheres que não fazem os filhos sozinhas têm que debater a questão num outro nível, como adequado ao século 21.

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