segunda-feira, 28 de março de 2011

Projeto Elas em Movimento

Vem ai o segundo empreendimento do programa "Elas em Movimento". realizado na Cidade de Deus. O primeiro empreendimento foi inaugurado no Jardim Batan. Trata-se do Sabor e Arte – restaurante e delivery.

Mulheres empreendedoras participaram dos Diálogos para Melhoria das Condições de Vida, facilitado por Nádia Rebouças. O evento, ocorrido nos dias 24 e 25 de julho de 2010, teve a função de auxiliar as empreendedoras na concepção de ideias de negócios que serão lapidadas durante a capacitação ministrada pelo ELAS – Fundo de Investimento Social, realizador do Projeto.

O Elas em Movimento tem o patrocínio da petrolífera Chevron, que decidiu investir em mulheres de comunidades com Unidades de Polícia Pacificadora. Os projetos de negócios são construídos pelas próprias mulheres e um deles é implementado nas comunidades de origem.



terça-feira, 15 de março de 2011

Diálogo, ferramenta para enfrentar a complexidade?

“Aproveitando a etimologia latina da palavra, que significa dar voltas juntos, chamo de conversar este entrelaçamento do falar e do emocionar que acontece no viver humano dentro da linguagem. Sustento, ainda, que todo fazer humano ocorre na fala e que todas as atividades humanas se dão como sistemas distintos de conversação. Por isso também sustento, que em sentido estrito, as culturas – como formas do conviver humano, naquilo que o faz humano, que é o entrelaçamento do falar e do emocionar – são redes de conversação. E também por isso afirmo que as diferentes culturas, enquanto modos diferentes de convivência humana são redes diferentes de conversação. E uma cultura se transforma em outra quando muda a rede de conversações que a constitui e a define”.
Maturana

Vocês já notaram a quantidade de metodologias de Diálogos que têm surgido nos últimos anos? Há uma corrida para contemplar a diversidade, para ampliar a capacidade de conversa, seja dentro das empresas, nas suas áreas de impacto ou nas cidades. É impossível seguirmos sem nos capacitarmos para conversar, para abandonarmos a antiga idéia de que alguém é dono da verdade, ou ainda, que só ele pode oferecer soluções para outros grupos sociais, porque é ESPECIAL.

É hora de pararmos de falar em sustentabilidade e começar a atuar. É hora de deixar a maquiagem para lá e enfrentar com profundidade o desafio de construir um mundo que caiba no planeta. Será que não é esse o recado das grandes catástrofes que estamos assistindo nesse ano? Caberia numa ilha estreita centrais de energia nuclear, quando tanto nos falam os cientistas do aquecimento global? Foi um terremoto, mas outras notícias apontam para os absurdos que fizemos. Será que estamos surdos aos que nos alertam há três décadas?

Sabemos discutir, debater, falar e falar, mas, quase nunca conseguimos escutar o outro. Mais difícil ainda é nos colocarmos no lugar do OUTRO! Essa situação impacta as empresas e seus departamentos, que encontram dificuldades para fazer trabalhos em conjunto e se perdem na defesa de suas áreas.

Temos o assunto “novo mundo” em várias caixinhas: sustentabilidade, meio ambiente, responsabilidade social, RH, comunicação e nada conversa ou se complementa. É difícil perceber que as áreas estão em conexão no palco da vida e que as empresas ainda não conseguiram criar modelos de gestão que integrem a diversidade, dentro delas mesmas. O pensamento sistêmico ainda é um desafio. Esse é o nó para caminharmos para a sustentabilidade: pensar no todo.


E como enfrentamos nossos problemas econômicos, sociais, ambientais? Todo o dia vejo situações que me fazem perguntar como as empresas, as cidades, os governos podem escrever e falar em desenvolvimento sustentável se não conseguem melhorar a conversa dentro de seus espaços interiores. Como os projetos não pensam na comunicação? Só através da comunicação, como forma de educação e cultura, poderemos mudar os níveis de consciência dos indivíduos. Insisto no ponto de que só um indivíduo consciente pode fazer a diferença num grupo e ser agente de transformação. Mudar seus valores, o que quer comprar, o que quer que seja produzido etc. A maioria das pessoas não consegue fazer nada diferente da rotina introjetada, não tem consciência de onde estamos e do que fazemos e quais serão os resultados de nossos próprios atos.

Cada vez fica mais clara a profundidade da mudança que a civilização tem que operar. Não adianta falar em sustentabilidade. Temos que aprender a pensar e agir para a sustentabilidade. Para isso o desafio é o diálogo. Por exemplo, o diálogo com órgãos governamentais, vários ambientais, comunidades diversas, fornecedores de diferentes portes, parceiros, concorrentes etc. A conversa flui? Existe a disposição para encontrar novas e surpreendentes soluções? As populações nas áreas de interferência sofrem e a natureza, que aparentemente não fala, grita.

Temos várias metodologias para o Diálogo. Os Diálogos Apreciativos, de David Cooperrider (que se desdobrou no World Café), o fantástico livro ‘Diálogos, Redes de Convivência’, de David Bohm que, se lido com carinho, é capaz de produzir inúmeros insights; os trabalhos de Maturana. A ‘Teoria U’, desenvolvida por Otto Scharmer, que propõe a descoberta de novas soluções através de ampla conversa a respeito de qualquer tema, reunindo diferentes lideranças, de múltiplas áreas.

Precisamos começar a treinar e conseguir criar esses espaços de Diálogo.

Espaços de Diálogos até que andam surgindo. Porém, se desenvolvem lentamente por causa da nossa baixa capacitação para a conversa. Acredito que essa falta de talento para a conversa tem dificultado o caminho para o desenvolvimento sustentável. As novas soluções para nossos velhos problemas só vão emergir quando conseguirmos conversar envolvendo atores dos vários setores, sem diferenças de classe, região, cor, gênero, religião, etc. Cada um de nós tem que começar a fazer isso no seu espaço de trabalho. Saia da rotina. Torne seu trabalho um novo trabalho. Tenha prazer com o que você faz, descubra o benefício do seu fazer. Converse. Não levante todo dia para nada ou para o mesmo. Isso é muito chato!

Na Rebouças, temos tido oportunidades para perceber a diferença que o Diálogo faz dentro de empresas ou de comunidades. É sempre com muito entusiasmo que percebemos como profissionais ou comunidades respondem ao convite para o protagonismo. Como aparecem novas idéias! Como se produz o compromisso, o entusiasmo! Temos uma jornada para um futuro onde podemos enfrentar as barbaridades que criamos: fome, destruição do meio ambiente, a corrida para o lucro, para resultados não qualificados, para um planeta devastado, para toda tristeza, que podemos perceber, naqueles breves segundos em que deixamos nossa consciência falar.

Chega, precisamos de menos discursos e mais soluções para construir uma economia verde e inclusiva.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Será que podemos?

"As políticas sociais não constituem custos, são investimentos nas pessoas. E com a atual evolução para uma sociedade cada vez mais intensiva em conhecimento, investir nas pessoas é o que mais rende. A compreensão de que os processos produtivos de bens e serviços e as políticas sociais em geral são como a mão e a luva no conjunto da dinâmica do desenvolvimento, um financiando o outro, sendo todos ao mesmo tempo custo e produto, aponta para uma visão equilibrada e renovada das dinâmicas econômicas.

Um terceiro elemento chave é a política ambiental. A visão tradicional amplamente disseminada apresenta as exigências da sustentabilidade como um freio à economia, impecilho aos investimentos, entrave aos empregos, fator de custos empresariais mais elevados. Trata-se aqui simplesmente de uma conta errada, e amplamente discutida já em nível internacional, com a refutação do argumento da externalidade. Fazer o pre-tratamento de emissões na empresa, quando os resíduos estão concentrados, é muito mais barato do que arcar depois com rios e lençóis freáticos poluídos, doenças respiratórias e perda de qualidade de vida. Para a empresa ou uma administração local, sai realmente mais barato jogar os dejeitos no rio, mas o custo para a sociedade é incomparavelmente elevado".

Ladislau Dowbor - Mercado Ético


Uma vida e tudo ainda está nublado. É assim que me sinto olhando o mundo. Quando era jovem tinha uma imensa simpatia pela Mafalada, personagem de Quino, colocando band aid no globo. Já lá torcia e trabalhava de alguma forma para que o mundo mudasse. Minha vida foi passando, eu olhando o globo, e apesar de continuar ouvindo vozes lúcidas, como a do Lasdilau, sobre um sistema econômico injusto, que é responsável pela morte real de bilhões, do potencial de outros bilhões, as coisas permanecem como estão.

A ciência não para de nos alertar. Temos também novas descobertas de como funciona nossa mente, mil estudos refletindo sobre como transformar consciências, com tantas pesquisas que demonstram nosso caminho suicida, poucas e lentas mudanças são concretas. Talvez esse não seja mesmo um projeto para ser visto numa vida. No entanto isso não tem me poupado de ver catástrofes enormes. Guerras. A Natureza em guerra gritando basta. É triste. Eu preciso acordar de manhã acreditando que pequenos atos de pessoas de boa vontade pelo mundo afora poderão acordar os que podem fazer grandes atos. Nós profissionais de comunicação continuamos a ser obrigados a perguntar como avançar. Nós, nas empresas e nos governos, precisamos ajudar a travessia da grande água esperando que ainda dê tempo.

Nada será conseguido se não modificarmos nossa forma de viver. Mudar conceitos de lucro e de consumo. Como? Mudando nossa forma de pensar e sentir.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Dia da Mulher

Sempre escrevo um texto por ocasião do dia da mulher. Pensando agora cheguei à conclusão que nunca falei sobre uma experiência exclusiva das mulheres. Poderia ser a gravidez, você pode ter pensado em bebês lindos, que nascem com peso e altura normal. Que tem pai e mãe radiantes cercados de avós também radiantes com a chegada da experiência que todos valorizam: ser avós.

Mas a gravidez e o parto não são as únicas experiências exclusivas da mulher, o aborto também é. Completamente secreto, sem imagens e muitas vezes sem palavras. As palavras que aparecem divulgadas são normalmente, as que se voltam contra a mulher que viveu essa experiência. Diferente do nascimento que tem pai e mãe, quando se fala de aborto se fala apenas da mulher.

A mulher que aborta é como se tivesse engravidado sozinha, decidido sozinha, e, portanto, uma assassina sem cúmplice. As feministas no seu afã de defender as mulheres na sua opção por decidir sua própria vida, acabaram reforçando, sem intenção, a idéia de que o aborto é um projeto feminino de libertação. Essa visão contextualizada numa geração, a minha, que tinha como foco libertar a mulher para a vida, deixou que muitos ficassem nos bastidores do aborto.

Mas quase sempre um aborto tem cúmplices que a mulher na sua dor não consegue revelar. E quanta dor. Uma dor muita vezes só porque difícil de compartilhar. Sem dúvida, somos donas de nosso corpo e podemos decidir. Não faz qualquer sentido sermos criminosas por decidir pelo aborto. Sem dúvida as concepções morais em torno do aborto é uma violação ao direito básico do ser humano de decidir como viver e como morrer. O homem, o sexo oposto, faz isso o tempo todo, inclusive com populações inteiras de uma região. Nosso sistema econômico mata milhões todos os dias por questões econômicas de lucro, resultados e bônus para os executivos, poucas, muito poucas mulheres. Só por isso é completamente imoral achar que uma mulher é assassina por fazer um aborto. A igreja montada em tanto ouro e tanto poder que moral tem para acusar uma mulher, sem condições de ter um filho. Vamos parar com a hipocrisia dessas posições.

Mas, apesar de pensar assim não quero falar da morte, mas da vida que famílias e homens impedem de viver. Sim, porque tenho certeza que nenhuma mulher é a favor do aborto. Todas nós optamos por essa solução dentro de certas circunstâncias e o aborto sempre guarda uma história que as mulheres fazem questão de esquecer. A camisinha furou, ele não aceita nem pensar no assunto, ele exige o aborto, e ela não consegue imaginar a vida sem ele ou sendo uma mãe solteira. O medo, a vergonha da adolescente, os homens com seus impedimentos afetivos e ou financeiros de pensar em ter um filho, a falta de condições financeiras da própria mulher, o medo do pai (tanto que muitas meninas de classes mais favorecidas são levadas a abortar pelas mães que sabem que receberá do marido toda a culpa por não ter “educado” bem a menina). São inúmeras as razões que podem levar uma mulher a optar pelo aborto, mas todas elas tem um homem e uma família na história.

Hoje, dia da mulher, escrevo para dizer para você mulher que fez aborto, que acompanhou sua amiga no aborto, que levou sua filha para fazer aborto, que fiquem em paz. Vocês podiam ter essa opção, trata-se do seu corpo. Mas também digo aos homens que é chegado o tempo de que eles sejam envolvidos nessa polêmica, porque também fazem aborto. Que nós mulheres possamos colocar esse tema num novo patamar para debate de toda sociedade, aquela mesma que se desesperou por ver, durante as eleições do ano passado, ele ganhar a mídia e influenciar as opções do eleitorado. A responsabilidade pela gravidez será sempre de dois, no mínimo, e é essa a realidade para ser debatida por nossa sociedade. As mulheres que não fazem os filhos sozinhas têm que debater a questão num outro nível, como adequado ao século 21.