segunda-feira, 27 de julho de 2015

Brasil 2015 e a comunicação interna




                   Brasil 2015 e a comunicação interna

Creio que vivemos um momento especial. Aquela bruxa, do conto da Cinderela, saiu pelo Brasil e com sua varinha mágica, colocou todas as empresas num sono profundo. Ninguém sabe dizer bem qual o prazo que ela colocou no feitiço. A Cinderela dorme e com ela todos os produtores do reino. Escaparam ao feitiço poucos serviçais, que assustados não sabem bem o que fazer.  Esse poderia ser o conto dos bruxos, não das fadas, nesse ano de 2015. Em sono profundo as empresas não sonham, não pesquisam, não treinam e anestesiadas procuram apenas sobreviver. Fico aqui me perguntando o que fazem os profissionais de comunicação interna nesse período de sono e de pesadelos. Sim, porque algumas vivem o pesadelo da corrupção, sem saber o que falar para dentro ou para fora. Outras ficam em silêncio, com medo de serem atingidas pelas mangueiras que andam lavando a jato. Outras ainda, protegidas eternas do reino, põem para dormir seus empregados na desculpa de férias coletivas. Outras demitem os terceirizados, desistem de investimentos e põe para dormir os sonhos e o futuro do país.

Os comunicadores que ainda não foram colocados no sono profundo estão fazendo o quê? Ah, o silêncio em momentos de sonos profundos parece um remédio. Como não fui atingida pela varinha da bruxa, porque a cidadania nunca dorme, sugiro aos comunicadores que se incomodam com esse momento, que invistam... na cidadania. Vamos investir, sem custos evidentemente, nos veículos que já existem, na santa internet que é gratuita, por exemplo. Temos muito a fazer. Os brasileiros não sabem mais comer. O tempo e a tecnologia afetaram de forma profunda as famílias. Não se cozinha mais feijão, não se senta junto para comer. Come-se no fast, na rua, andando. Come-se por necessidade não por prazer. Come-se para “se encher”, sem quase nunca pensar na saúde.

A mesa da família, comendo junto, vai ficando como recordação. A bruxa, disfarçada de tecnologia, coloca os membros da família, prisioneiros de seus “quadrados”. O tempo, que corre por aí, perdido nos caminhos ceifa encontros. Cada um na sua telinha, segue a vida de emoções fáceis de carinhas criativas disponíveis em qualquer celular. Não se escreve mais, uma carinha diz. Podemos pensar, assim de repente, que seja um bom período para falar de saúde e segurança. Podemos falar de qualquer coisa que faça com que as pessoas sejam menos infelizes trabalhando. Vamos aproveitar esse tempo para educomunicar.

Morre-se mais do que é razoável trabalhando no nosso país. Morre-se em acidentes de trânsito também. Morre-se de bala perdida e de guerras nas periferias. Destruímos o planeta em pequenos gestos. Destruímos nosso corpo comprando comida de mentira.  Dentro de nossas empresas, nos pobres seres dopados que compram tudo que pensam que vão trazer felicidade, moram violências de muitas ordens: contra a mulher, contra os filhos, contra si mesmo. Nas empresas morrem muitos, sem que o corpo ainda tenha deixado isso claro.

Moram angústias nas nossas empresas. Claro que não só nelas. Mas você comunicador interno, do tempo do sono, pode não ficar parado. Poderá perceber que o caminho de sustentabilidade de sua empresa ainda dorme nos relatórios de sustentabilidade. Proponho no lugar do Rivotril o Trilvorri, o antídoto para o tempo de sono escuro. A praga da bruxa não vai durar para sempre e podemos sair, lá na frente, mais cidadãos. Aliás, o quanto esse país anda necessitado da fórmula cidadão + virtude + justiça social.

Não desanime, Trilvori não vicia e se viciar... quem sabe diferente de outros, será um bom vício.
Texto originalmente publicado no site da ABERJE.

Quando o modismo e a propaganda substituem o arroz com feijão.


Quando o modismo e a propaganda substituem o arroz com fe

                                                                                    Mulher, você vai gostar:
                                                                                    Tô levando uns amigos pra conversar.
                                                                                    Eles vão com uma fome.
                                                                                    Que nem me contem.
                                                                                    Eles vão com uma sede de anteontem.
                                                                                    Salta a cerveja estupidamente
                                                                                    Gelada pr'um batalhão.
                                                                                    E vamos botar água no feijão.

                                                                                                                Chico Buarque

  Não é frequente conversar sobre modismo e cultura associados ao tema da alimentação, como o momento atual parece exigir. O nosso querido feijão com arroz, tão cantado nas nossas músicas, por Chico Buarque, Jorginho do Império ou Simone, vem sumindo das mesas e ficando para a história. Aliás, esse par de tão boa combinação de sabores e saúde, é parte integrante do “somos brasileiros”. Frequentemente, os viajantes daqui lembram desse par romântico e harmonioso falando da saudades do Brasil!

Mas, o que vem acontecendo com o casal?  Vem sendo atacado pelo tempo. Arroz e feijão é símbolo do comer no encontro, dividindo a mesa, a conversa, seja no dia a dia, seja nas especiais feijoadas. Mas, o tempo desapareceu. Ele some no trânsito, indo do trabalho à escola ou nos dois empregos. Caso surgisse um comércio que vendesse tempo, o sucesso seria imenso. As famílias quase nunca se reúnem!  Vivemos no tempo do relógio. Comer não é mais um ato consciente, que reúne elementos aromáticos e de paladar. Vem desaparecendo a alquimia do preparar o alimento, a convivência e a oferenda. A comida está nos pacotes, nos plásticos, nas latas. Come-se andando, de pé, um de cada vez, com o celular ativo, para que o senhor tempo continue a reinar. Conveniência. É a cultura do novo viver.

Os fabricantes de alimentos conhecem essas novas tendências e investem em novos produtos “práticos”. E assim surge o sanduíche de biscoito: Club Social, para matar a fome! Com imagens saborosas na TV e nas outras mídias, consolidam novos hábitos, garantem novos sabores, quase sempre com excessos, de sal ou açúcar. Não há propaganda de produtos naturais. Talvez, as folhas dos hamburguês e as frutas dos sucos, carregados de química, mas que nos comerciais são resultado de pomares invejáveis, que a maioria de nossos jovens nunca viu! Nossas crianças mal conhecem os alimentos. Em recente pesquisas com jovens (15 À 20 anos), no Rio de Janeiro, um estudo que está sendo realizado pela UERJ, UFRJ e UNIRIO para o MDS ouvimos:

“Pensamos na pressa. Porque a gente tem muito trânsito, muita correria na vida. Eu trabalho em

telemarketing e só tenho 10 minutos para comer. Eu tenho que comer rápido. Não dá para degustar e

nem comer comida saudável.” (feminino)

 

“A mídia é o maior vínculo de comunicação porque é totalmente influente. A maioria dos comerciais

são sobre comidas industrializadas, mostram sempre os ‘Doritos’ e ‘Cheetos’. Faltam comerciais

mostrando alimentos saudáveis e isso é muito prejudicial. A mídia se relaciona com a pressa, com sabor,

não com educação alimentar.” (masculino)

 

Enquanto a cultura do “matar a fome” ganha adeptos, sobram as consequências.  A alimentação que está na moda contribui para onze milhões de mortes por ano, mais que a provocada pelo tabaco e a obesidade custa à economia mundial cerca de 2000 bilhões de dólares por ano”. * Mas, a resistência existe, mesmo com os altos investimentos numa alimentação sem vida. Uma nova geração de mães, com forte atuação nas redes sociais, luta! Recentemente Bela Gil, foi massacrada por mostrar a lancheira da filha com produtos naturais. As novas modas incluem forte crescimento dos veganos, dos adeptos do slow food, do desejo de uma vida mais natural. Uma luta entre matar a fome e se alimentar.  

 

Um enorme esforço sistêmico, de conversas com vários públicos de influência, poderá

estruturar uma comunicação que salve nosso arroz com feijão e todos os valores que ele

carrega. Senão, ele viverá só na nossa música popular. Deixará saudade de um tempo

que nos alimentávamos e não só comíamos! Vamos botar água no feijão!

 * Texto que deu origem a uma palestra na URGS - Seminário sobre Nutrição - POA junho 2015

*Dados da pesquisa da Consumers International (CI) - a principal federação internacional de organizações de consumidores.