quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O mundo que temos. Qual o mundo que queremos?

Nas últimas décadas a população mundial cresceu exponencialmente e assim multiplicamos algumas vezes nossos problemas econômicos, sociais e ambientais. Para aumentar a complexidade, os conectados cheio de informações, começaram também a ser cheios de opiniões e foram mudando suas escolhas de credos, estilos de vida, valores. Temos os corruptos, que são aqueles que não acreditam em nada, iguais aos traficantes e bandidos, usam as tecnologias, mas acreditam apenas em se dar bem.
Existem os que vão para rua empunhando cartazes demonstrando o inconformismo com a não conversa dos governos, que de repente, parecem velhos, muito velhos! Mas, não são somente os governos que esse ano ficaram mais velhos, todas as instituições e também as empresas estão mais ameaçadas pelos novos tempos.
Existem os vegans, vegetarianos, macrobióticos. E claro, os carnívoros.  Os defensores dos animais, os do meio ambiente em geral, de várias espécies de fauna e flora. Os preservacionistas e os que tentam encontrar soluções harmônicas entre o tal progresso e a preservação. Os que vêem nas grandes catástrofes as ameaçadas há tanto tempo anunciadas. Os espiritualistas. Os defensores do direito das mulheres, dos negros, da menoridade ou maioridade penal, dos agrotóxicos, dos orgânicos, dos índios, do parto natural, da água, contra o consumo, contra a propaganda infantil, a favor do casamento homossexual, os apavorados com o aquecimento global, etc. Temos também os times de futebol, partidos políticos e religiões. 
A conversa está difícil por todo canto do planeta. De qualquer forma muitas tribos estão lutando para que o ser humano perceba novos paradigmas que ajudem a salvar essa geração 400 ppm, conforme artigo no blog de André Trigueiro (httpi://migre.me/ewoxc).  Alguns já percebem causas sistêmicas. No meio dessa sociedade civil, que cada vez mais se organiza por “causas” estão as grandes corporações que não tem fronteiras e por isso estão presentes em toda parte e para qualquer tribo. 
A propaganda que garantiu o crescimento dos mercados por tantos anos e o jornalismo oficial e autorizado, aparecem muitas e muitas vezes sem sentido, destoando das vozes que se espalham pelo facebook, blogs, mídia ativistas, ou seja, por toda uma rede que se intitulou de social, ou seja, da sociedade múltipla e complexa.
As corporações pesquisam e procuram saber como envolver, ou mesmo satisfazer, essas diferentes tribos que se espalham por aí. Os partidos políticos se esmeram nos seus programas de propaganda política para tentar se unir às novas vozes das ruas. O mais difícil é perceber quais dessas tendências vão se firmar, ganhar massa crítica. Isso pode efetivamente mudar as estratégias de governo e das empresas. Matar produtos, acabar com marcas há muito tempo estabelecidas etc. As marcas têm todo poder, mas também nenhum poder, se grandes massas resolverem não comprar mais seus produtos. Por isso, todo o tempo, tem um batalhão de pesquisadores analisando comportamentos, lixos de residências, visitando a casa dos “consumidores”, tentando compreender o que determina a razão de compra de um produto ou uma marca. Outro batalhão está nos laboratórios desenvolvendo novos produtos e com o olho nos custos, na rentabilidade. Já temos, muitas vezes, tecnologia avançada que resolveria um problema aqui e outro acolá, mas vale a pena mudar esse produto já? Quanto se ganha se sim, se não? E o lucro dos acionistas? Em quase nenhuma dessas decisões vamos encontrar a variável direitos humanos ou sustentabilidade como prioridade.  Quem manda é a lógica de curto prazo do sistema. 
Os níveis de consciência estão mudando. Os hábitos e estilos de vida estão em transformação.  As mães mudaram. Existe uma vanguarda mudando a forma de comer, de tratar da saúde, de consumir, de nascer, de morar, de comprar, de se locomover, de viver junto. Estamos mudando efetivamente nossa leitura de rótulos, nossa escolha de alimentos. As empresas que inovarem vão ganhar?    
Estão também em mudança as formas de trabalhar e nisso ponho muita atenção e estudo. Gastamos 10, 12, 16 horas com trabalho, e aí tem uma tensão colocada que pode ter seu junho de 2013 pela frente. Tempo é o desafio. E ele é complicado pela terrível mobilidade urbana.   
Colaboradores de empresas são cidadãos. Colaboradores conscientes, de várias áreas, estão contribuindo para a transformação dentro das empresas. Bons diagnósticos, comunicação interna, comunicação face a face, responsabilidade social, meio ambiente vem sofrendo pela crise econômica que estamos vivendo.  Os processos, com colaboradores, que co-criem o futuro, só tem a contribuir para esse extenso processo de mudança do qual nenhuma empresa passará incólume. 
Perdeu-se em 2013 o medo de ter opinião e com isso há uma determinação de pensar e escolher como queremos viver.  Reputação das marcas tem cada vez mais importância para a construção dos business do futuro, mas precisamos estar abertos a quais os valores que a sociedade brasileira vai escolher, ou está escolhendo.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Plurale completou 6 anos e eu me lembrei do texto que escrevi o ano passado. Compartilho.

Comunicação e seu papel estratégico para transformação.

Cinco anos de Plurale! Cinco anos de comprometimento com uma comunicação que dê significado e significância ao que precisamos fazer: transformar nosso mundo.  A comunicação tem uma importância fundamental para nos equipar a fazer diferente, em todos nossos ambientes. Como podemos fazer isso sem ter informação? Sem saber que estamos perigosamente atingindo os limites de nosso planeta?
 Esse mês passado, por duas ocasiões, refleti sobre o tema: A comunicação pode mudar o mundo? A primeira foi com os estudantes de comunicação da UNISC em Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul.  Escolheram esse tema para a Semana de Comunicação. Voei para lá, porque só a escolha do tema é uma prova de que essa nova geração de comunicadores anda pensando diferente. A outra oportunidade foi no NEF – Núcleo de Estudos do Futuro – da PUC São Paulo. Lá estavam reunidos aqueles que estão comprometidos com o futuro da humanidade. 
Duas oportunidades para refletir sobre nosso papel como comunicador. Em homenagem à Plurale desenvolvo o roteiro dessas conversas. Comecei dividindo com esses públicos, tão diversos, que a comunicação sempre mudou o mundo, desde quando ela era apenas lida, num pergaminho, nas praças dos embriões das cidades medievais, pelos enviados dos poderosos. Mas não fui para tão longe na linha da história, preferi refletir sobre o que vivi, nas décadas em que fui publicitária, vendo o mundo mudar, para o que temos certeza que tem que mudar hoje. A década de 60 começou a trazer as diferenças. Mulheres, negros, homossexuais. Na mini série Gabriela podemos ouvir um homem falar para sua mulher: se arrume que hoje eu vou lhe usar! Ou na novela das 18hs observar a perseguição ao negro recém liberto e que mantêm nosso sutil racismo até hoje.
Comecei a trabalhar em publicidade na década de 70. Do lado da minha casa ainda havia quitanda, açougue e padaria. Nesse comércio girava a economia do bairro. Éramos chamados pelo nome e tínhamos uma caderneta que anotava o que gastávamos. Já tínhamos shoppings, mas iniciantes. Lugares meio estranhos. Nasciam os supermercados e me lembro do meu espanto lendo o primeiro manual da Johnson& Johnson ou Unilever, não me lembro bem, sobre merchandising nos supermercados. Percebi que nada, mas nada mesmo, era feito sem reflexão estratégica para nos tornar consumidores. Começaram a nascer ali os consumidores que conhecemos hoje, que agem como autômatos comprando e comprando.
O Brasil dava primeiros passos para sair da ditadura que infernizou a juventude de minha geração. Para os jovens fica difícil imaginar o tipo de juventude que tivemos, sem internet, mas pior, sem poder comprar livros, assistir determinados filmes e preocupados em cuidar dos encontros com amigos porque podiam ser interpretados como subversivos.  O governo militar fazia sua primeira estratégia de comunicação, apelando para nosso orgulho de ser brasileiro, inventando um milagre econômico e convocando: Pra frente Brasil! Ame-o ou deixe-o. O Brasil ganhou pela terceira vez a Copa do Mundo confirmando nossos milagres econômicos. Os porões da ditadura tinham minutos de paz nas torturas, para comemorar os gols desse Brasil grande!
 A indústria se expandia, a publicidade se profissionalizava com metodologias e processos trazido pelas multinacionais. Aprendia-se a fazer planejamento de comunicação, muita pesquisa e a medir, pela primeira vez, a audiência dos programas de televisão – o GRI. Tudo voltado para criarmos um mercado de consumo interno, uma classe média. Os publicitários, odiando a censura que invadia os meios de comunicação, lançaram o CONAR. Liberdade à publicidade! Muitos mercados a construir! Mercado para os descartáveis, tipo Perfex que as brasileiras não entendiam: se camisas velhas e pedaços de toalha conseguem ser tão úteis, para que comprar um paninho furadinho? Mas o mundo “do jogar fora” começou sua trajetória, mudando nossos hábitos. Fui para Brasília, com meu chefe, pedir autorização para veicular o primeiro comercial de Modess, só existia ele no Brasil. Autorizaram a veiculação, contanto que a moça usasse calça comprida vermelha. Nunca entendi porque não podia ser branca, mas a censura sempre tinha razões que a razão desconhecia.
 Modernização da agricultura.  Supermercados. Shopping Centers.  Marketing. Consumo e crescimento da economia.  A grande massa subiu um degrau na escala e uma minoria subiu vários degraus. O nordeste já era seco e cheio de fome! Formou-se uma classe média com possibilidades de financiar educação para seus filhos e gerar demanda significativa de produtos e serviços. Veio a anistia, depois de muito terror, e a abertura lenta e gradual. Assim chegamos aos anos 80 que revelaram a grande farsa. O milagre virou pesadelo e os Danones e gelatinas prontas estragavam nas gôndolas do supermercado.  Os dados Nielsen da época anunciavam queda no consumo de macarrão! Acentuou-se a corrupção. Sindicatos se organizaram em greves e manifestações.  A economia não conseguiu apresentar índices de crescimento. A classe média foi à principal vítima. Perdeu o poder de compra. Tirou o filho da escola particular e não sonhou mais com o segundo carro. Só muito mais recentemente o IPI reduzido multiplicou o sonho do carro.
A propaganda e o marketing viveram anos de muita agitação oscilando entre grande pessimismo e euforia intensa.  A figura da mulher ganhava força nos anúncios e muitas vezes com apelos eróticos, como símbolo do feminismo, foram mudando os padrões de comportamento social. Tudo isso fica mais evidente olhando os anúncios da época. Você pode entrar no Google e fazer esse exercício de reflexão pelas décadas. Vai sentir que foi com a comunicação que se mudou o mundo. As empresas desenvolvem produtos e serviços, mas é a comunicação, no seu mais amplo aproveitamento, que cria mercados. Essa década foi chamada por alguns de década perdida, mas na prática ela lançou as bases da sociedade de consumo que somos hoje. Trouxe os novos comportamentos sociais também e até a gravidez na adolescência.
A década de 90 chega com esperanças. A ditadura estava longe e podíamos imaginar um novo mundo. Cai o muro de Berlim. Foi a primeira vez depois de 47 anos que os brasileiros puderam votar num presidente. Elegemos Collor e nos unimos para tirá-lo do poder. Aconteceu a ECO 92, Conferência mundial do meio-ambiente no Rio de Janeiro. Começou aí tudo que se desdobrou em comportamentos de compra diferentes: o natural, menos carne, a roupa indiana virando moda para elite, o começo da consciência de maior número de pessoas de que o planeta poderia ter limite. As ONGs alemãs traziam o conceito dos “verdes”. Palavras novas surgiram como ecossistema, biodiversidade.
O sociólogo Betinho mobilizou toda a nação com a sua “Ação da Cidadania contra a miséria e pela vida”. Havia fome no Brasil, não adiantava a elite fingir não enxergar. Como crescer o país com tanta desigualdade?
Maior consciência ecológica foi o ganho da década. Cresceu o trabalho de ONGS para proteção do meio-ambiente, reciclagem de materiais, além da preocupação com a exclusão. Surge uma segunda geração de ONGs no Brasil e aos poucos o conceito de empresas cidadãs.  A comunicação foi mudando consciências. A sociedade foi ficando mais tolerante para opções de conduta pessoal, prática de sexo, namoro e casamentos. Vida cultural se ampliou, os filmes e livros chegavam. A abertura de mercado, do livre trânsito de idéias e produtos culturais e começou a estonteante rapidez dos meios de comunicação.
A chegada dos anos 2000 era uma esperança, uma nova era. Nos negócios a nova era tinha muita pressa. Muitas demissões, privatizações já haviam acontecido na última metade dos anos 90. O Computador nos invadiu para bem e para o mal. Gestão ganhou força nas empresas e responsabilidade social virou obrigação, bem como mais tarde chegou a hora de incorporar sustentabilidade. Todas as novidades, que ganham força no tecido social, passam a ser incorporadas pelo sistema de mercado e de alguma forma tem seu “significado” controlado. Na prática só dá para entender isso quando entendemos de “marketing” e comunicação é claro! É ela que fala das essências das marcas, que cria a necessidade de consumir determinados produtos, que nos lidera para a ditadura do TER.
Mas a civilização não pára e forças atuam em conflito no tecido de alta complexidade da civilização atual. A globalização, a percepção do triple botton line, o conceito de stakeholders, começam a entrar nas grandes organizações. A internet, outra vez a comunicação, obriga os governos e as corporações a refletir e mudar as estratégias de ação. Comunicação do século XXL? Está tudo em transformação. É a época “do sem tempo”, tudo é fast. Para as mulheres a época do “corra Lola, corra”. Ninguém sabe muito bem porque corremos tanto! Queremos crescer, o máximo e o mais rápido possível. Mas nas rádios corredor e nos consultórios dos psicólogos todo mundo chora uma vida perdida, mesmo aqueles que não viveram outras épocas. Com a globalização os mercados continuam a crescer, mas a que preço? Crescem menos, nesse tão falado 2012. Quem se uniu, quer se separar. A falta da visão sistêmica leva cada país defender o seu. As grandes corporações, que não tem território, estão correndo por fora, construindo uma rede de controle global.  Crise econômica? Crise ética? De percepção?
A consciência de uma mobilização global pela vida cresce em número de adeptos, mas a transformação é lenta. Novas mídias se apresentam e o mercado de comunicação enfrenta muitos desafios para se adaptar.  As redes sociais obrigam as empresas a levá-las em conta! Mudança de paradigmas. Multidisciplinaridade, diversidade e pouca previsibilidade do futuro. As economias locais, que foram desaparecendo desde a década de 70, fazem todos nós consumidores do mundo. Mas surgem moedas locais e o interesse para mudar a fórmula do PIB. 2012 nos mostra que tudo é “líquido”. (conceito de Zigmun Baumam).
A consciência que estamos afetando de maneira irreversível nosso planeta, que precisamos modificar nossos modelos de gestão e nossos padrões de consumo, de produtos e serviços, se apresenta como uma questão vital para o futuro.  Também como nos diz Baumam: HIPOTECAMOS NOSSO FUTURO. O limite de nossa arrogância está no limite da terra. “A principal pergunta hoje não é o que fazer, mas quem vai fazer!” (Zygmunt Bauman)
 Não pode existir empresa bem sucedida e sustentável numa civilização que mantêm parte da sociedade na “idade média” e onde não existe o “palco”, a terra para atuar.  Uma empresa só é dona da sua imagem, mas perdeu o controle de sua reputação! Como nos fala Manuels Castells: a mistura da ocupação das praças com as redes sociais é nova, não sabemos o que vai gerar, mas assistimos a essas mudanças. A juventude está diferente das duas décadas anteriores.
Visão sistêmica começa a mudar crenças, estilo de vida, valores. Poderemos escolher? Podemos mudar?  A diversidade é um fato, os refugiados e emigrantes, que estão por toda parte, nos mostram nossa dificuldade de convivência e conversa com o diferente. O que fazer com a noção de estado, nação e território num mundo de corporações transversais? O que fazer num mundo que incorpora o conceito de sustentabilidade, sem percebê-lo sistêmico e que continua falando em crescer, crescer com o maior lucro possível para os acionistas? Será que a economia não tem que se transformar perguntando por que existe? Não seria adequado pensarmos que ela existe para fazer fluir a felicidade das pessoas e cuidar do meio ambiente? Imaginemos uma utopia: todos os economistas acordariam encontrando um novo sentido para seu trabalho: cuidar das pessoas e do planeta. Daríamos uma virada na espiral do desenvolvimento humano.
Voltemos à pergunta? A comunicação pode mudar o mundo? Pode, porque sempre mudou. O desafio agora é se queremos usar a comunicação para mudar o mundo ou para manter nosso desatino. Se vamos ter novas tecnologias para nos salvar, mas especialmente novas lideranças nos governos, nas empresas, na academia, nas comunidades que possam estar criando o novo mundo para que nós profissionais de comunicação possamos anunciar, vender! Enquanto esses novos produtos e serviços de uma sociedade que escolhe só SER não chegam, vamos apostar na vanguarda que sai protegendo árvores, animais, seres humanos excluídos, que faz feira de desapego, que troca presentes, que não quer propaganda para nossas crianças, que medita que anda de bicicleta, recicla seu lixo e planta uma hortinha ou ocupa praças, ou seja, aqueles que são capazes de sonhar. As mudanças sempre começaram pela mão de alguns, não é Plurale?

Vamos investir na educomunicação, diálogo e empatia certos de que, ao longo da história, não somos tão diferentes assim. Buscamos o atendimento às nossas necessidades básicas, carinho, respeito, liberdade e paz. 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

A arte da conversa
                

“Vivemos numa época sem precedentes: todas as culturas mundiais, do passado e do presente, estão de certa forma ao nosso alcance, seja na forma de registros históricos ou como entidades vivas. Na história do planeta Terra, isso nunca aconteceu”.
Ken Wilber
 
Todos nós estamos envolvidos com um dia a dia tão dinâmico que nos acostumamos a não ter espaço para pensar. Quem dirá para conversar! Nossas tarefas se multiplicam de forma acentuada, fazemos duas ou três atividades ao mesmo tempo. Ser multitarefa não é mais um diferencial, mas uma necessidade básica. Vivemos procurando tomadas para ligar nossas extensões: o notebook, o celular, entre outros. Quem sabe, lá no fundo, não gostaríamos de recarregar nossos cérebros em uma dessas extensões? Ou nossos corações? Muitos já estão querendo aplicativos para tentar entender o ano de 2013. 
 
Além da correria, a instabilidade e a incerteza fazem parte do cenário atual. Ken Wilber pede nossa atenção para o fato de que pela primeira vez na civilização temos acesso a toda história da humanidade ao alcance de nossos dedos. São fatos históricos, fotos, imagens, símbolos que fizeram parte da longa estrada da civilização que nos trouxe até aqui. Também, muito diferente das gerações anteriores, podemos conhecer todo o planeta, todas as culturas, hábitos e formas de vida. Conseguimos tornar o mundo pequeno e acessível, mas, ao mesmo tempo, nos sufocamos de informações. Acentuamos na pós-modernidade nossas impressões da diversidade e pluralidade que, à primeira vista, poderia significar que aprendemos a conversar melhor.
 
Mas não foi isso que aconteceu, por uma característica narcísica que tomou conta de nossa sociedade. Consideramos ‘civilizado’ aquele que tem o direito de se expressar democraticamente, mas, o “meu grupo”, evidentemente, carrega a verdade e é o que expressa o melhor ponto de vista, quando comparado aos outros. Assim, por exemplo, temos grupos que, na defesa de seus pontos de vista, perdem completamente a visão do todo. Temos antropólogos, psicólogos e sociólogos competindo, cada um acreditando que tem a maior capacidade para definir e entender o ser humano. Como se não fossemos uma fantástica mistura de tudo.
 
Isso nos mostra que temos muita dificuldade em adotar a visão sistêmica. Empresas privadas, governos e ONGs conversam, por exemplo? As empresas subiram seus muros para não enxergar sua vizinhança durante décadas. A maioria ainda intitula as comunidades como “seu entorno”, reforçando a arrogância e impedindo qualquer avanço em direção a uma sociedade mais igualitária. O meio ambiente ou a natureza estão “lá fora” e não nos incluímos. As grandes obras são planejadas por engenheiros e quando começa a construção se descobre profundos problemas ambientais e sociais. O trabalho em equipe, compreendendo os novos desafios, teria certamente outros resultados. Nem é preciso falar nos muros que as empresas subiram internamente, físicos ou não, isolando seus próprios departamentos em ‘feudos’. Quantas vezes vimos departamentos, que fazem parte de uma mesma empresa se posicionarem como numa concorrência, como se fizessem parte de empresas separadas? 
 
Sofremos de uma doença grave: a “síndrome dos donos da verdade”. Essa doença é percebida por dois sintomas. O primeiro, um forte sentimento de vítima, a culpa é sempre de um elemento externo ao “nós”. O segundo, a falta absoluta de empatia frente ao diferente, apesar de defendermos que é isso mesmo que devemos sentir. Essa doença também afeta nosso ‘walk the talk’, órgão da credibilidade, que nos torna, muitas vezes, os “conversadores” de novos tempos, enquanto insistimos em nossos órgãos de defesa do ego que nos levam a ‘walk’ em total desarmonia com o ‘talk’.
 
Para exercer “nosso pluralismo”, tentando promover a integração e a troca, marcamos muitas reuniões, conference calls, vídeo conferências, mesmo que nada, de verdade, na maioria das vezes, seja resolvido. Dentro das organizações, os departamentos, áreas e localidades tentam se encontrar e trocar, mas a verdadeira conversa raramente acontece. Nas reuniões escuto muitas vezes uma conversa que está oculta, nos gestos e olhares. Nossa conversa é determinada pelo medo, pela defesa e pela ansiedade. Em nossa cultura, não são muito frequentes as oportunidades de falar com liberdade e sinceridade. E, menos ainda, ter empatia ao ouvir o outro. Quem conversa são os nossos “papéis”. As nossas “pessoas” inteiras que carregam “quereres”, “sentires” e “pensares” ficam penduradas num cabide, na entrada da porta das salas de reunião. Somente na saída, quando recuperamos nossas “pessoas”, voltamos a ser um pouco mais inteiros e, por isso, a conversa é sempre tão intensa nas rádios-corredores. Você já percebeu dentro da sua empresa uma pessoa que parecia um corpo que não tinha “gente” dentro? 
 
E o ‘gerente cara de porta’, você conhece algum? Nossas lideranças se habituaram a um novo mantra, já que foram convocadas e exigidas a serem gestores de pessoas. Aflitos com as novas exigências, sem jamais terem sido preparados para isso, costumam repetir: “minha porta está sempre aberta!”. Esquecem-se, no entanto, que eles têm uma “cara de porta”, essa sim muito mais eficiente para manter seus liderados à distância. As pesquisas de clima identificam como conversamos mal dentro de nossas organizações. Nas pesquisas OFFPLAN, metodologia que criamos na Rebouças & Associados, percebemos que a verdadeira comunicação interna fica por conta da rádio-corredor ou rádio-peão, da área do café, do elevador e até dos banheiros. Essa rádio, que não tem botão, controle remoto ou caixa de som, comunica gerando muito ruído, já que a ‘pauta da programação’ é resultado da falta de informação verdadeira. Sofre o líder, porque não sabe como conversar sobre os temas “delicados” (como remuneração, cortes, feedbacks, acidentes ambientais) com seus empregados. E estes são exatamente os temas que despertam maiores dúvidas e perguntas. Sofremos todos. Vivemos sempre entre o imaginário e o real. E enquanto isso, a comunicação corporativa produz veículos que nos mostram muitas fotos, muitas cores e sempre sorrisos misturados a textos com tom de propaganda ou meras informações. Por sua vez, as publicidades institucionais ou mesmo as de varejo, nos mostram um mundo de sonho. Decididamente, os empregados e os stakeholders da marca estão vivendo uma experiência muito distinta do que a comunicação traduz. Nas pesquisas que conduzimos em empresas, pedimos que os empregados: Como percebem a conversa nas organizações em que trabalham? Essa é uma forma simbólica de tentar avaliar como são, de fato, os relacionamentos nas organizações. Colecionamos desenhos que retratam computadores na boca, muros que separam departamentos, organizações simbolizadas por monstros de três cabeças. São frequentes também desenhos de ilhas, cada uma representando um departamento. No meio do rio onde elas estão inseridas surgem jacarés e são eles que darão cabo do empregado que tentar sair da “normalidade”. É a morte anunciada dos protagonistas: 
 
- “Aqui é assim...”
- “Você anda tão animado! É que você chegou agora, fale comigo daqui a dois meses!”
- “Você não conhece essa companhia, isso não dá certo aqui”. 
 
Assim criam-se os mantras que matam os jovens empregados, aqueles que poderiam trazer oxigênio para a empresa e que não gostam do papel de vítima. Temos de fato uma crise geracional nas empresas. Matamos os protagonistas diariamente procurando repetir os mantras: “não adianta”, “não vai mudar”, “não tem jeito”. Também notamos em nossas pesquisas que o “empregado-vítima” adora novas regras. A partir delas, ele terá mais oportunidades para reclamar, reforçando sua percepção de que não vai dar certo, de que tudo continuará como está. E em questão de minutos, essa será a conversa da rádio-corredor. Já o empregado-protagonista, aquele que acredita no poder que tem para transformar a ele, a empresa, a sociedade prefere saber qual é a missão e quais são os valores da organização para que sirvam como uma bússola norteadora do seu caminho. Cada vez mais colaboradores se certificam de que podem se identificar com os valores da empresa onde trabalha, e muitos estão se tornando empreendedores, vão para os hubs, vão investir no seu empreendedorismo.
 
Comunicação como educação
 
Esta falta de conversa vem, pouco a pouco, se transformando. As empresas começaram, de fato, a se preocupar com os relacionamentos interpessoais, a pensar a comunicação como educação e, como tal, adquirir importância estratégica para as organizações. Ainda falta coragem. Não basta informar. O velho modo de definir comunicação como emissor e receptor não explica a comunicação que o mundo atual exige. Pense redondo, pense em espiral. A verdadeira comunicação é semelhante a uma espiral. Conversar é ir e vir na troca incessante dos pensares e sentires dos interlocutores. Um líder que se capacita para a verdadeira comunicação aprende e ensina todo o tempo. Quando todos se tornarem aprendizes desses novos tempos, talvez seja possível criar ambientes mais harmônicos e humanos nas nossas organizações e, portanto, na nossa sociedade. Da mesma forma, deve ser a conversa com as comunidades das quais fazemos parte. A conversa bem posicionada e franca é a única que pode construir relações verdadeiras, que nos ajudam, nos fortalecem e nos capacitam a lidar com as infindáveis transformações que vivemos. Essa situação poderá mudar de modo significativo quando conseguirmos transformar nossas conversas em trocas de intenções ao invés de continuar a fazer delas um meio de ocultá-las. Esse, certamente é o maior desafio para as lideranças das organizações. Não vejo resultados em fingir, em tentar controlar para que não haja conflito. O verdadeiro diálogo se dá no silêncio das reuniões. Precisamos amadurecer e investir na transformação de consciências para que a civilização avance. A espiral do desenvolvimento humano precisa avançar e líderes conscientes da importância da comunicação podem efetivamente ajudar na percepção de que todos os estágios dessa espiral são importantes.
 
Nas empresas é preciso construir o dialogar. Falar a verdade, enfrentar a verdade, dar feedbacks, abrir a porta. Precisamos aprender a ter uma conversa consciente, uma conversa viva, sem segundas intenções que apostam na morte do interlocutor. Precisamos aprender a ouvir. Aprender a perguntar. Aprender a sentir o outro, com a história e trajetória do outro. Colocar-se no lugar daquele que queremos que aja como decidimos que deve ser. A pergunta abre portas nas nossas mentes, acorda novas percepções. Perguntar e ouvir as respostas. Nos nossos veículos de mídia interna, raramente conversamos com os colaboradores. Simplesmente informamos. E informar não é comunicar. A informação é instrumento de controle, de poder. “Viu? Eu informei. A empresa informou”. No entanto, nada mudou, porque a informação não chegou, não transformou, não educou. Ela virou paisagem. Não houve comunicação. Não houve troca. Não houve conversa. Nosso hábito é fazer perguntas padronizadas, às quais, por sua vez, suscitam respostas estereotipadas. Ou seja, dizemos o que os outros querem ouvir para que eles nos respondam o que queremos escutar. Assim, nada se aprende e nada se ensina. Em geral, julgamos que uma questão bem formulada é aquela que põe o outro em dificuldades. Com muita frequência, usamos a conversa para “vencer”. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Saber perguntar é pretender aprender algo, abrir novas possibilidades. Antes de se ter a pretensão de receber algo de quem se pergunta, equivale dar-lhe uma oportunidade para a transformação por meio do diálogo. Aprendemos a debater e discutir, desde a tenra idade.
 
Nossos spots na mídia também começam a deixar para trás as ordens imperativas, as notícias para ganhar o tom da conversa. São mais longos, têm uma temática que se repete, frequentemente apelam para perguntas como forma de chamar atenção e abrir uma conversa com o consumidor, que virou um interlocutor.
 
Há uma década era possível usar um comercial de 30 segundos por três anos, mas hoje isso é impossível. Precisamos inovar a todo tempo. Também é impossível esconder fatos que acontecem dentro das empresas, isso se tornou um desafio no mundo da internet e do celular com câmera. Que dirá dos jornais que tanta crise de credibilidade vem enfrentando. E o grande desafio ainda é aprender a conversar com os outros setores da sociedade (governo, comunidade, imprensa, ONGs), o que pode representar um começo de novas soluções sistêmicas para os nossos velhos desafios do desenvolvimento sustentável. Conversar com o outro significa que o mundo está conversando consigo próprio por nosso intermédio. É por isso que conversar significa estar com, encontrar-se, religar-se, descondicionar-se, libertar-se. Logo, a multiplicação dessas conexões e sua organização, em forma de rede, constituem o ponto central de qualquer processo importante de transformação.
 
As organizações, para muitos autores, é uma rede de conversas. É nessa rede que encontramos as forças e fraquezas de uma organização. É nessa rede de conversas que a empresa encontra o melhor aproveitamento de sua potência, chegando aos resultados desejados. A conversa constitui uma oportunidade para que as emoções de cada interlocutor se reorganizem. Ela promove o entrelaçamento do emocional com o racional. A liderança e os profissionais de comunicação e RH, em especial, podem e devem ser os agentes da conversa na organização. As reuniões e os workshops precisam representar espaços de liberdade individual e, em consequência, oferecer oportunidades para aprender a conversar e a produzir em grupo. É hora de decretarmos o fim das vítimas e estimularmos o protagonismo na construção do futuro das organizações, estimulando o pensamento sistêmico. Isso só será possível se cada empregado entender a essência da sua organização, se identificar e introjetar seus valores e não apenas saber enumerá-los.
 
A diferença está na atitude. É urgente abandonar o egocentrismo e o etnocentrismo que invadem áreas e departamentos da empresa para sermos contaminados com o globocentrismo. Afinal, hoje já temos empresas multinacionais e teremos muitas mais. É hora de fazer diferente.
 
Como uma empresa pode ser nacional ou global se não sabe conversar e somar diversidades para que elas se multipliquem em eficiências? A diversidade de opiniões, que caracteriza os grupos dentro das organizações, deve ser um espaço de criação, que jamais se fecha e nem tem limite de preenchimento. Educar-se é também adquirir a capacidade de identificar e ampliar ainda mais os espaços de conversação. A verdadeira conversa é indispensável para a saúde de qualquer organização. Inclusive para as organizações do terceiro setor, cidades, comunidades. Saber conversar é saber ser livre. Saber promover conversas, estimular lideranças, promover a consciência e o protagonismo é ser hoje um profissional de comunicação. E como dizia Jung: “mas e se eu descobrir que o inimigo está dentro de mim mesmo, que eu sou o inimigo que deve ser amado, e aí?”
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Sugestão de Autores e algumas obras 
Marylin Feguson – Conspiração Aquariana
Joseph Campbell – Mito do Herói
Fritjoff Capra – O Tao da Fisica
Robert Fisher – O Cavaleiro Preso Na Sua Armadura
Ken Wilber – Modelo Integral, Teoria de tudo.
David Bohm – Diálogos, rede de convivência.
Fred Koffman – Metamanagement
Otto Scharmer – Presença
Chris Aryris – Modelo mental 2
David Cooperrider – Diálogos Apreciativos
Joseph Jaworsky – Sincronicidade
Rafael Echeverris, Humberto Maturana, Fernando Flores – Linguagem
 O princípio da Totalidade - Anna Lemkow

quinta-feira, 9 de maio de 2013


       Encontro Refletir Brasil com Domenico De Masi – Paraty 2013              
                                                                                                               
OCA REFLETIR BRASIL organizou o encontro em Paraty. OCA é uma consultoria formada por profissionais de renome, que tem a Brasilidade como plataforma para modelos criativos de saber e fazer o novo. Alia conhecimento e prática para dar suporte à inovação e qualidade de vida nas organizações. O encontro foi realizado após a pesquisa Delphi que é uma técnica de pesquisa prospectiva e tem por objetivo propiciar a reflexão individual e coletiva sobre visões de futuro. Seus resultados alicerçam “tomadas de decisões” para realizar o planejamento estratégico de organizações, visando a elaborar ações hoje que estejam alinhadas com as expectativas futuras. No caso da realização da pesquisa para o Refletir Brasil, estudo coordenado, realizado e analisada por Oriana White o objetivo foi entender o significado de BRASILIDADE. Foram entrevistadas 44 personalidades, das mais diferentes áreas de atuação, em três momentos consecutivos: fase exploratória, coletiva e quantitativa, até chegarmos a grandes linhas de resultados, eixos principais que compuseram a formação das mesas no encontro de Paraty. O resultado da pesquisa pode ser conhecido no site www.refletirbrasil.com. Lá também pode ser encontrado o Manifesto resultante do encontro que será a base para construir o evento Refletir Brasil 2014.
Esse é um resumo livre das anotações feitas por Nádia Rebouças do encontro em Paraty do Refletir Brasil. Um momento especial que profissionais de várias áreas puderam se ouvir, sintetizados nos comentários de Domenico, sobre o sonho Brasil!
Além da conversa a cultura esteve presente nesse encontro que terminou com todos cantando cirandas nas ruas de Paraty, homenageando essa cidade que tantas histórias do Brasil se faz presente. Aguardemos o Refletir Brasil 2014!l
               “Nenhum vento é favorável para o marinheiro que não sabe para onde quer ir”.                                                                                                               (Sêneca)
Com uma população de 200 milhões de habitantes, o sétimo PIB do mundo, e a democracia consolidada, o Brasil possui grandes oportunidades pela frente, segundo Domenico de Masi. Tem ainda grandes universidades e empresas admiradas mundialmente, como a Globo e a Embraer, e inexistem guerras no país, diferentemente da China e da Índia. E, com um novo paradigma de comunicação: todos para todos, há um estímulo para que o país se apresente ao mundo. Contudo, parece faltar o elo da responsabilidade. Os cidadãos não se sentem responsáveis pelo país que têm. Não se diz o que quer e ninguém se assume, nem reclama. 90 % da população afirma ainda que a corrupção está no DNA. Todavia, o governo não é o grande pai, e nós somos responsáveis pelo que nos acontece. Como devemos dar o grande passo?
“A utopia está lá no horizonte. Eu me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Para isso, para caminhar”. (Galeano)
“Existe um recalque do Brasil- precisamos aprovação do pai europeu. Querem ir para Londres, não para a floresta. Eles legitimam o que falamos e agora é o “pai Domenico”, é o pai que nos manda andar sozinhos. Interessante para o imaginário”. (Fernanda C. Borges)
Ao analisarmos o nosso jeito de ser, percebemos que existe um recalque do Brasil: precisamos da aprovação da mãe Europa que perdemos e não temos o amor do pai, Estados Unidos. E verificamos que temos uma dificuldade de lidar com a mestiçagem. Pois se somos degenerados, somos então europeus degenerados, índios degenerados e negros degenerados. Mas é difícil pensar a partir da mestiçagem. Além disso, existe a corrupção das mentes. O Brasil tem uma cultura diversificada, tem o movimento de evangélicos que assusta muitas vezes, negros, gays, uma enorme diversidade de forma de pensar e viver. As questões da rua distanciam-se da elite. Ou melhor, nossa elite não se identifica com o que acontece na rua.
Cultura é o jeito de viver- lida com homem que não é igual- o mundo é mais preocupado com o Brasil do que nós mesmos. O mundo olha pra gente como povo especial- que pode mudar o mundo- povo que foi achado- e foi construído a partir de muitos. Eles (os colonizadores) não vieram para construir nada. Era espoliar e voltar. Veste a francesa, gosta de comida japonesa, fala à portuguesa. Temos que reagir ao extrativismo corrupto, mal educado que nos forjaram a ser. Quem nós queremos ser e podemos ser? E contribuir para a melhoria do mundo”. (Ronaldo dos Santos)
O brasileiro tem ainda a capacidade de conviver com o diferente e aceita viver bem com a tensão, mas não com a universalização. Pois temos várias cabeças na raiz da nossa identidade, não existe uma tradição a qual nos remeter. Diante da falência das matrizes européia, africana e indígena, o brasileiro elege o inconsciente como objeto de adoração - pois é o que não sabemos.
“Nós diminuímos a distância da senzala na cama. Sexo para negociar conflitos”.
 “Somos um elo relacional”.
“Somos o povo do meio, tenho que me ver com pé de índio, cabeça de europeu” (Ricardo Carvalho referência a da Mata)
“Brasil frente ao espelho- não encontrou nada. Não é ninguém. Um dia foi índio, um dia negro... O que essa mãe Índia tem a nos oferecer?” (Ricardo carvalho)
No que tange nossa diversidade criativa, devemos ser capazes de enxergar as diferenças. Cada grupo pode pensar e fazer a partir de suas especialidades. E já existe uma grande quantidade de pessoas vivendo novos modelos. Em sua maioria, são jovens e invisíveis e não estão no governo, na empresa ou nas universidades, mas estão no coletivo. Quando saímos da linearidade e entramos em uma sociedade em rede, nos damos conta que o tangível é o linear e que os intangíveis são os infinitos. A maneira agora de trabalhar é cooperativa. E devemos mudar a consciência de “um mundo plano para o mundo redondo” (Lala Deheinzelin). Com as novas tecnologias, encontramos uma forma de tornar os intangíveis visíveis. E, ao identificar um tesouro intangível, parte-se para o colaborativo. O Wikipédia é um exemplo bem-sucedido deste trabalho colaborativo, aberto e voltado para o bem comum.
“Criar um ciclo Virtuoso: reconhecimento dos intangíveis. Sair de milênios de tudo organizado no tangível. Se é finito, acaba... modelo de competição- economia da escassez”.  
“Os intangíveis são infinitos na sociedade em rede! A maneira de trabalhar é cooperação. É a Economia da abundância. A diferença do linear e exponencial. (Lala)

A sociedade criativa, todavia, sempre existiu nas áreas carentes. O nome comunidade é oriundo de um compartilhamento de tarefas, que é feito com alegria, como “virar a lage” no fim de semana.
 “O mundo não é, o mundo está sendo”. (Paulo Freire)
O FIB, como alternativa para repensarmos totalmente a economia. Novas medidas, novas formas de produzir, nova moeda. O futuro aponta nessa direção.
“Felicidade é uma habilidade que pode ser aprendida”
Na área da cultura, temos que aprender a nos descongelar. E no Brasil, mais do que em qualquer outro país, deve-se ter a perspectiva da cultura no sincrético – um tipo de fluxo central e descentrado.
“Só a utopia é realista. Tudo que aconteceu veio da utopia”. (Lala)
Para Domenico, não podemos, entretanto, confundir a situação atual com uma situação excepcional. Temos que tomar o cuidado de não transformar o desejo de novidade em neurose. Deve-se ter em mente motivo e objetivo. E nos controlar com os inimigos. Pois quem são aqueles que querem um futuro pior – ou melhor, só para eles?
Como os ricos podem ficar mais pobres! É muito difícil tornar-se pobre. Temos que diminuir 15% da riqueza dos ricos- uma agressividade”. (Domenico)
“O sonho americano está se tornando pesadelo”
Muitos economistas, segundo ele, pensam que a miséria não é possível de ser eliminada. Mas como gerar a riqueza sem fazer minar a felicidade, uma vez que a pobreza são “fomes”?
Na área da educação, temos que dar novo significado à experiência civilizatória sustentável como uma maneira de ser. Pois estamos em uma crise civilizatória e os jovens estão com seu futuro roubado. A sustentabilidade pode ser uma saída. Devemos nos perguntar ainda se é possível a construção social do futuro da comunicação humana. E transformar o planeta em sociedades educadoras. Estamos todos aprendendo a elaborar políticas públicas, com referência na sustentabilidade, e a pensar e agir localmente e globalmente. Há ainda que se redigir um Tratado de Educação Ambiental para a comunidade. E facilitar a inteligência coletiva.
“Escola e fora da escola- romper fronteira- todos nós estamos na escola.
“A educação não transforma o mundo. Transforma as pessoas que transformam o mundo” (Paulo Freire)
No que diz respeito à economia, a versão atualizada dos 10 mandamentos (segundo o economista Ladislau Dowbor pode ser enunciada da seguinte forma:
1-     Não comprarás o Estado;
2-     Não farás contas erradas;
3-     Não reduzirás o pobre à miséria;
4-     Não privarás ninguém do direito de ganhar seu pão;
5-     Não trabalharás mais do que 40 horas;
6-     Não organizarás a vida em função do dinheiro;
7-     Não ganharás dinheiro com o dinheiro dos outros;
8-     Não tributarás as ações positivas da sociedade;
9-     Não privarás o próximo do direito ao conhecimento;
10- Direito à comunicação;
Com relação aos negócios brasileiros e à internacionalização, percebemos a cultura brasileira se inserindo no mundo. Lojas havaianas em Barcelona, vendedores ambulantes pirateando sandálias havaianas, caipirinha no cinema nos filmes de Woody Allen e Almodóvar. O mercado interno descobre o Brasil, e o Brasil aprende a se colocar lá fora. Mas a mídia não percebeu que os tempos são outros. E que não dá mais para controlar seus interesses acima dos interesses da sociedade. “A mídia não está à altura do que estamos vivendo.” Precisamos mudar a nossa marca.
 “O ofício do Brasil só dá certo no Brasil. A gente aceita a máquina- gambiarra vira recurso técnico”.
Nosso modelo- “a arte de se virar”, se adaptar
“Um vendedor na praia do Rio vendo muita movimentação para salvar um afogado imediatamente começa sua venda: Enquanto não chega seu afogado, vão tomando o seu gelado”.

 Domenico afirmou que toda arquitetura era do primeiro mundo até surgir Oscar Niemeyer. Ele foi o primeiro a criar um estilo e obrigou o mundo a admirar esse estilo e até comprar este estilo. E sugere que se faça o mesmo com a cultura. Diz ainda que há necessidades radicais para se mudar o modelo de vida atual: a necessidade de introspecção, de ter tempo para nós, de pensar como ser único; a necessidade de amizade, de interação, de afetividade e de amor. E temos ainda as necessidades induzidas pela publicidade que vem do confronto com os outros, do poder e de outras necessidades doentias.
O fato é que o mundo inteiro está insatisfeito com o modelo capitalista. Todos querem um modelo novo. E se o capitalismo perdeu, o comunismo perdeu também. Pois o comunismo não sabe produzir e o capitalismo sabe produzir, mas não sabe distribuir. E precisamos aprender a distribuir muita coisa. Trata-se de redistribuir riqueza e trabalho. E o saber tem que ser compartilhado com o analfabeto. Temos ainda que redistribuir as oportunidades e distribuir melhor as tutelas. Para Domenico, este ponto é fundamental para o Brasil. Pois a corrupção, a inconsequência e a violência dos cidadãos e das organizações vêm da má distribuição de riqueza e saber.  Outro elemento fundamental deste novo modelo é a luta contra o stress. Deve-se colocar também esforço na elaboração, excluir a criação de dinheiro pelo dinheiro e respeitar o ponto de vista alheio. É necessário ainda organizar as empresas para as pessoas serem as mais felizes possíveis. O trabalho em casa, no bairro, ou na praia, por exemplo, pode melhorar o trânsito. O Rio, em particular, possui alegria e beleza, e a beleza é uma joia, uma alegria criada para sempre.

Nádia Rebouças (comunicação para transformação) com a colaboração de Anelise Pacheco (profissional da área cultural)


sexta-feira, 19 de abril de 2013


Reproduzo aqui texto sobre o trabalho infantil em nossas ruas. Sempre me intriga quando vejo as crianças trabalhando em feiras e sinais e o quanto não tomamos consciência que produzimos trabalho infantil e até escravidão. Esse é um tema que precisa ser enfrentado. Não conheço ações de investimento social privado nesse tema. 

Consumismo, o 'aliciador' de trabalho infantil nas cidades
Na sociedade do consumo exacerbado e da publicidade ostensiva, a pressão social para a aquisição de produtos é tão grande que estes deixam de ser somente o bem conquistado e tornam-se os próprios motivadores do trabalho infantil.
A necessidade de um prato de comida já não é o único motivo a forçar crianças e adolescentes ao trabalho precoce e degradante. Na sociedade do consumo exacerbado e da publicidade ostensiva, outros itens pesam nas suas listas de urgências: celulares, tênis de marca e videogames são alguns deles. A pressão social para a aquisição desses produtos é tão grande que estes deixam de ser somente o bem conquistado e tornam-se os próprios “aliciadores”.
“Eles veem os colegas com celular e procuram trabalho. Muitos jovens são autônomos: compram computador, fazem cópias piratas de CDs e vão vender na rua para ganhar R$ 300, R$ 400 por mês. Hoje não são somente os pais que colocam os filhos para trabalhar. O consumismo atrai muita criança e adolescente”, afirma Luiz Henrique Ramos Lopes, chefe da Divisão de Fiscalização do Trabalho Infantil do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). De acordo com ele, desde a divulgação do Censo de 2010 é possível perceber que o trabalho infantil no Brasil não está mais tão ligado à pobreza ou miséria extrema.
No âmbito urbano, onde a pressão do consumo é generalizada, os adolescentes são as “presas” mais fáceis para os empregadores. Além de estarem mais expostos do que as crianças ao apelo das propagandas, são os que mais trabalham nas cidades. “Os dados da PNAD [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios] mostram que na faixa etária de 5 a 9 anos o trabalho é muito mais rural do que urbano. De 10 a 14, o urbano começa a se sobrepor. De 15 a 17 anos o trabalho infantil é proeminentemente urbano”, informa Lopes.
Entre as atividades em que a exploração da mão de obra de crianças e adolescentes é mais comum, segundo a fiscalização do MTE, estão feiras livres, comércios ambulantes, borracharias, lava-jatos e oficinas mecânicas. Todas essas atividades estão na lista de Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP), aprovada como decreto federal em 2008 (veja a primeira parte da reportagem sobre a Lista TIP aqui).
A cidade e seus riscos
Paula Moreira Neves, auditora fiscal do MTE e coordenadora do Projeto de Combate ao Trabalho Infantil em Pernambuco, confirma que o consumismo, hoje, é um dos grandes desafios aos que combatem o trabalho infantil, especialmente nas cidades. “Existem crianças e adolescentes que são obrigados a trabalhar pela família ou são cooptados por terceiros nas ruas, mas muitos trabalham porque querem comprar bens que os pais não têm condições de lhes dar. Já que a maioria desses pais começou a trabalhar na infância, eles permitem e até estimulam que seus filhos façam o mesmo”, diz a auditora.
São muitos e graves os riscos para as crianças que desempenham atividades contidas na Lista TIP. No trabalho como vendedoras ambulantes nas ruas e outros logradouros públicos, por exemplo, elas estão sujeitas a violência, drogas, assédio sexual e tráfico de pessoas; e a exposição à radiação solar, chuva, frio, acidentes de trânsito e atropelamento. Nas borracharias, são submetidas a esforços físicos intensos e expostas a produtos químicos, antioxidantes, plastificantes e calor. Na lida dos lava-jatos, crianças e adolescentes estão em constante contato com solventes, neurotóxicos, névoas ácidas e alcalinas. Já os que trabalham como carregadores em feiras livres estão sujeitos a padecer de bursites, tendinites, sinovites, escolioses, lordoses e outras doenças músculo-esqueléticas decorrentes do intenso esforço físico. “Esses pais [que estimulam os filhos a trabalhar] desconhecem os graves prejuízos que o trabalho precoce ocasiona aos seus filhos, como a dificuldade de aprender, a defasagem e a evasão escolar, os danos físicos ao corpo ainda em desenvolvimento e os danos psicológicos”, alerta Paula.
Dificuldades de fiscalização
Em 2012, segundo a auditora, foram fiscalizadas feiras livres em 65 municípios de Pernambuco, além das praias de Boa Viagem, no Recife, e Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. Nos casos em que os empregadores foram identificados, todos foram notificados e autuados. No entanto, informa Paula, a maioria das crianças e adolescentes encontrados naqueles locais trabalhava com os pais ou, embora prestasse serviço a um terceiro, estava desacompanhada do empregador e não sabia informar seu endereço.
Não conseguir identificar quem explora a mão de obra infantil nas ruas e outros locais públicos é uma das grandes dificuldades dos fiscais do MTE. Nas feiras livres de municípios do Rio Grande do Norte, a auditora fiscal e coordenadora do Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil do estado, Marinalva Cardoso Dantas, relata a mesma dificuldade de Paula. “Às vezes temos de inventar, dizer que não somos do Ministério do Trabalho para poder conversar com as crianças, senão elas correm, mentem para não dizer o nome dos pais.”
Para Paula Neves, a utilização de praias e outros logradouros públicos para o comércio deve ser regulamentada


quinta-feira, 7 de março de 2013


TEIMOSIA!

 Foi-se o tempo de perceber comunicação,
relacionamento e educação como áreas de apoio.
Agora elas são absolutamente estratégicas
para os negócios
.
Vamos começar o ano falando de comunicação interna! Uma luta bem marcada na minha trajetória, há mais de 20 anos! Comecei a me dar conta da importância e potencialidade da Comunicação Interna ainda como Diretora da Thompson Rio. Já no final da década de 80 não conseguia planejar sem pensar sistemicamente e falava em comunicação integrada e, sempre começando “por dentro”, pela comunicação interna.

Essa consciência só foi crescendo ao longo dos anos e com clareza via o desperdício de lançamentos de novos produtos porque “por dentro” as coisas não iam bem. Algumas empresas me deixavam realizar algumas atividades internas, mas eram incipientes, considerando o que consegui fazer na década seguinte. Consegui fazer alguns trabalhos memoráveis com Citibank e com Ceras Johnson. Num dos lançamentos de um novo RAID, em 1995/96, a Fernanda Montenegro fazia o comercial (“não uso os pés para matar baratas, uso a cabeça!”) e criamos uma campanha interna que ajudou muito no sucesso desse produto. As baratas revolucionárias subiam em bancos e pelos baloons, nos cartazes espalhados pela empresa, gritavam que a Ceras Johson estava lançando um produto para destruí-las, dizimá-las! Que todas as baratas precisavam se unir contra o lançamento desse novo RAID. A movimentação interna gerada pelo inusitado da campanha interna nos murais chamou muita atenção. Ganhou o interesse da equipe de vendas que destacou o produto nos seus inúmeros itens de vendas, gerou simpatia e entusiasmo. Consegui fazer pequenas ações assim, e logo essas ações ganharam o conceito de “endomarketing”.

Com o passar do tempo as campanhas de endomarketing acabavam tentando “vender” a empresa para seus ”empregados”, que foram virando “colaboradores” . A visão histórica dessas transformações é sempre interessante, como tudo isso é muito recente, difícil encontrá-las em livros. Mas o conceito do “interno” avançou muito nos últimos dez anos. A tecnologia se encarregou de dar consciência e voz para os empregados, colaboradores. Passaram a ter segundo grau e, mesmo nas cidades mais distantes, podem se conectar à intern et. “Vender” a empresa para eles, passou a não ser mais uma boa estratégia. Diagnosticar o que pensam , o que entendem do que é anunciado pelos veículos internos, a transparência das informações, isso tudo começou a fazer muita diferença.
Ainda são poucas as empresas que percebem a grande oportunidade de desenvolver estratégias para o público interno. Ainda vejo um enorme desperdício de oportunidades, mas algumas investem no que chamamos de educomunicação. Vender a empresa não, educar o participante da organização, sim. Precisamos de cidadãos, profissionais que coloquem em prática medidas de segurança, de cuidados com o meio ambiente, que percebam a importância de pensar sistemicamente para que a empresa cresça e tenha reputação. 

Muitas empresas começam, tentam, mas a maioria ainda vê esse tipo de comunicação como acessória. Mesmo a comunicação interna estando incorporada ao Branding, ela ali aparece como a mais “pobre” e menos cuidada. Não percebem que dentro da comunicação interna temos o desafio seríssimo da comunicação face a face. Essa, no Brasil, devido nosso estilo de liderança, de uma sociedade elitizada, escravocrata, colonizada onde o modelo autoritário está aí, escancarado, para atrasar a evolução do Brasil. Investir em comunicação interna é investir na liderança das empresas. Existe algo mais importante a fazer?
Não investir em comunicação interna não é apenas um problema da comunicação, mas um entrave econômico para nosso desenvolvimento sustentável. Os governos sequer pensam em comunicação interna. A gestão é por guetos e quase sempre políticos. A comunicação não é utilizada, apenas a propaganda para vender a imagem de grandes realizações para a população ou o candidato. A população nunca é ouvida para compartilhar as decisões, e o potencial de funcionários é uma massa disforme e mal informada. A população nunca é  convocada, educada para construir criativamente uma nova vida para sua cidade. Existe uma forte rádio corretor nas cidades e onde existe rádio corredor existe uma grande oportunidade para uma comunicação que educa!

Recentemente fiz a conta dos aposentados do município do Rio de Janeiro. Sabem quantos? Cerca de sessenta mil pessoas que poderiam e certamente gostariam de saber, de forma privilegiada, o que acontece com o Rio de Janeiro, ou desconfio, gostariam de ser convocados para alguma ação especial na sua cidade. E tudo está pior desde a crise de 2008. Fingimos que estamos mudando! Não há efetiva mudança na forma como as empresas estão atuando como pensamos em pessoas, estejam elas dentro ou fora das empresas. Nas minhas escutas profundas (OFFPLAN), método de pesquisa que utilizo, identifico um número enorme de profissionais de meio ambiente, sustentabilidade, comunicação, RH, que por saberem o pouco que estão realmente fazendo, vivem na insônia. A consequência de tanta maquiagem não impede as barrigas precoces (especialmente nos homens), a perda de cabelo e humor e a clara tensão no olhar que podemos encontrar em tantos colaboradores desestimulados. As empresas nunca fizeram a conta do que perdem por não investir nas pessoas!

O mundo executivo está doente! As pessoas estão tristes, fingindo que comprar um carro zero, levar esposa e filhos para Miami serão remédios para a falta de contato com a fonte interior e com a satisfação por fazer um trabalho com sentido. Dói ver matarmos vidas todo dia dentro das empresas! (claro que fora aquelas quantas que matamos nas prisões, no nosso absurdo sitema de saúde, no genocídio de jovens nas periferias, ou jovens até em boates etc). A morte dos colaboradores aos pouquinhos é silenciosa, não consta das estatísticas dos acidentes de trabalho, que no Brasil também nos dão inúmeras razões para pensar em comunicação interna. E hoje temos que falar do departamento de RH, da área de Desenvolvimento de Pessoas, já que em muitas organizações a comunicação interna responde para uma diretoria de RH. O mais difícil é ver que não percebemos que a saída não é individual, mas coletiva sempre. Os Comunicadores e profissionais de recursos humanos precisam investir em novas tendências e conquistar o espaço estratégico nas organizações.

 Foi-se o tempo de perceber comunicação, relacionamento e educação como áreas de apoio, agora são absolutamente estratégicas para os negócios.
Nós, como comunicadores e criadores de relacionamentos, precisamos encontrar formas de produzir felicidade e realização através do trabalho. Só a consciência pode ativar a vontade do coração! Eu sou teimosa, e sei que tenho muitos parceiros comigo no caminho de ganhar importância para uma comunicação verdadeira, inteligente, que eduque para os novos tempos que a sociedade cada vez mais deseja.
À teima comunicadores internos, RHs e RSA das organizações! À teima!

Planejamento, o instrumento

Acabei de ver um programa de entrevistas com músicos, todos com seus violões. A conversa impressionou
porque cada um começou a explicar as características do seu jeito de tocar violão. Comentaram também como o violão, as cordas, o jeito de tocá-las davam novas cores às canções; O violão de João Gilberto ou de Paco de Lucia, apesar dos dois serem violonistas, produzem música, ritmos e emoções diferentes.
Comecei a pensar na ferramenta planejamento. Um mesmo instrumento que também produz “sons” diferentes.
Não só enquanto se constrói, como depois de executado. Cada um de nós tem seu instrumento, nem todos
são instrumentos musicais, podem ser uma vassoura, uma máquina fotográfica ou algo como as metodologias de planejamento. O saber usar um instrumento nos oferece oportunidades de prazer pessoal e intransferível.
Planejar e varrer também faz parte de nossas “artes”.
O planejamento, que é meu instrumento, é algumas vezes pouco compreendido, pouco valorizado, às vezes
até considerado uma perda de tempo. Tempo e curiosidade é o desafio do diagnóstico: procuram-se
referências, descobrimos, pesquisamos, refletimos. Às vezes precisamos entender complexos sentimentos de
um dado público que pouco conhecemos, aí outra vez volta a arte: os atores verdadeiros também tem que
compreender sentimentos de personagens muitas vezes muito diferentes deles.
Depois precisamos escolher o foco claro, para construir objetivos. Em determinados planejamentos, e cada
vez mais, é necessário pensar em objetivos para cada público de relacionamento envolvido na ação. A seguir somos estimulados na nossa criatividade para construir um mix sistêmico de atividades, processos de
comunicação. Tudo tem que fazer sentido, como se estivéssemos desenrolando um novelo. Quando isso
acontece sentimos conforto, como quando a cerveja desce redonda!
Mas precisamos continuar: temos agora o desafio de escolher a idéia central, o conceito, aquilo que deverá ser a essência da nossa comunicação. O quê falar em destaque para conseguir que nosso público perceba todo o resto do nosso plano? Para que nossa comunicação seja efetiva? Qual a idéia? Planejamento sem idéia é aniversário sem bolo.
É fácil perder um planejamento na execução, por isso terminado e convencido do plano que escrevemos,
precisamos virar guardiões dele! Construir o caminho para que ele ganhe parcerias, muitos precisam acreditar nele. Eu quase sempre procuro a construção coletiva com os atores e cada comunicador pode fazer isso dentro da empresa. Preciso também pré estabelecer como vou avaliar e medir os resultados.
A metodologia, descrita de forma simplificada acima, é um instrumento, mas como vamos “tocar” com que
sensibilidade, alma, isso fará toda a diferença na qualidade da “música” que vai se ouvir! E olha que tem muito planejamento “certinho” por aí sem alma, sem descobertas, sem conceito ou sem criatividade!
Eu amo construir planejamentos de comunicação e encontrar companheiros que contribuam na “canção”. Esse continuará sendo meu instrumento para me manter ativa e desperta para criar comunicação que transforma.