O toco
(da série contos do trabalho)
Lembrei do toco. Conheci o homem do toco, ao mesmo tempo,
que conheci Eduardo Campos. Nem podia imaginar que ele explodiria anos depois. Lembro de vê-lo chegando ao evento que
conversava sobre os desafios de SUAPE, de mãos dados com sua esposa. Lembro de
ter comentado com meu cliente da Petrobras, mais precisamente da Refinaria
Abreu e Lima, que era estranho ver um político chegar sorridente de mãos dadas
com sua esposa. Fui apresentada a ele e a Renata, aquelas apresentações formais
que marcam mais quem conhece do que quem é conhecido. Algo me impactou. Era só o
começo. No evento ele falou, é claro. Era um momento importante do seu primeiro
governo em Pernambuco. A Refinaria, mágica, chegava como proposta a Pernambuco,
uma promessa antiga de um cônego que declarou que, se ela chegasse Pernambuco,
tudo mudaria ali e no nordeste inteiro.
Intenso período na história onde Lula, um pernambucano abraçava sua
terra. Escutei seu discurso e numa premunição disse ao meu cliente: - Ele será
candidato à Presidente da República, não sei se em 2014 ou 2018! Não sei
explicar por que, mas ali senti que estava frente a um olhar que tinha futuro.
Um olhar verde, ou azul em Pernambuco, terra que produziu muitas histórias
nesse país. A história escreveu a
história de nova maneira e hoje temos Marina candidata e a refinaria enumerando
corrupção e agressão ao meio ambiente. Espantosamente ainda não funcionando!
Mas, eu acabava de mergulhar mais uma vez naquela bandeira,
que carrega um arco-íris. Pernambuco. Foram anos de convivência com um povo
extraordinário. Um impacto. Não sabia que no dia seguinte ia conhecer o homem
“do toco” na praia. Um desconhecido, com nenhuma “celebridade”, mas
inesquecível para mim.
Na sobra de alguns instantes daquela louca jornada de
entrevistas com ONGs, comunidades, colaboradores e líderes de várias instituições,
naquele importante momento de Pernambuco, eu consegui chegar à areia para
sentir o movimento do senhor líquido da terra: o mar. E eu ali me fascinava
como carioca (será que paulista?) na descoberta desse território. Naquelas
águas misturavam-se as experiências do dia, os clientes, os amigos, um fan club,
que tinham inventado para mim. As ONGs conhecidas e admiradas, meus amigos! Mas
sobrou um tempo! Pouco tempo. Bastou
atravessar a rua e lá estava eu naquele mar de tubarões, que me enganava na sua
fantástica beleza e águas quentes! Tubarões de Suape, agora eu sabia. Erros e
erros antigos, que fizeram mal aos mares da beira mar.
Sentei e lá fiquei com meu olhar perdido no mar! Adoro! De
repente ouvi uma voz ao meu lado que chegou a me assustar: A senhora quer um
pau’ água? Olhei curiosa o “pau” que ele carregada numa das mãos. Outros
pareciam guardados num saco plástico. Eu lá sabia o que era um pau d’ água?
Pois é. Ele me explicou. “Olha eu
sustentei todos os meus filhos vendendo esses paus d’águas, a senhora pode
levar, eles vão nascer. Pode confiar! A senhora ponha na água e terá uma linda
planta para toda sua vida’. Eu olhei para sua cara, marcada pelo sol, pelas
caminhadas na praia, para o pedaço de toco na sua mão... Pensei na minha imensa
ingenuidade em crer... Sorri, pedi que me contasse mais. Ele sentou do meu lado
na areia e menos de cinco minutos depois eu já era proprietária de um toco!
Cinco reais! Um toco! Volto para o Rio com o toco, com um pau d’água afinal,
esses tocos só podiam ser mágicos já que permitiram àquele homem alimentar
todos seus filhos! Cinco reais! Cheguei a minha casa e segui as instruções
daquele homem, de cara marcada por rugas fundas de sol. Era simples, “água num vaso cobrindo um terço do toco, e
aguarde!”
E lá ficou o toco. Todos querendo jogar fora o toco, por que
nada acontecia... Um pau, um toco na água. Meses a fio! “D. Nádia posso jogar isso fora?” Não, gritava eu! Vai nascer! E
elas, minhas ajudantes, olhavam para mim com a condescendência do amor. Coitada
dessa moça que fica aí, com um toco na água, acreditando, em quê mesmo? Eu simplesmente
não podia deixar de acreditar naquele homem marcado, naquele pernambucano que
tinha me descoberto, naquele governador estranho que andava de mão dada com a
mulher, de olhos claros no cenário escravocrata do sertão, naquelas comidas
especiais, naquelas pontes, naquela Olinda que tinha aprendido a descobrir e
amar depois de tantas viagens para lá! Naquele Suape, nos municípios que seriam
tão impactados pelo tal do progresso que a Petrobras, imagine, com a Venezuela,
estariam levando para a região. Não. Eu acreditava menos na Abreu e Lima, com a
Venezuela, do que no homem do toco.
Continuei a colocar água no vaso de vidro, mesmo que nada
acontecesse por mais de um ano! Não estava errada. O toco começou a produzir
raízes. Deu folhas. Eduardo Campos chegou a ser candidato em 2014. A Refinaria
Abreu e Lima, não vingou com os venezuelanos. Patina em tristes histórias. O
impacto está lá para quem tem olhos para ver. Mas uma linda história chegou
para mim: o toco. Está comigo até hoje, e claro não é mais toco, só raízes que
descansam na água e uma folhagem que ficou como a lembrança daquele homem que
cumpriu sua promessa.
Contei essa história
por que o homem do toco, talvez continue ali pelas praias da beira mar e você
possa cruzar com ele, e eu te digo, tenha fé, o toco brota, olhe a foto! Ele
está aqui comigo até hoje! Podemos pensar que outros tocos brotarão. Como o toco
que floresceu quando pode, quando quis. Talvez o toco possa florescer de outra
forma, na mão de quem sabe bem fazer florescer, ainda agora em 2014. A mão do
destino faz tocos florescerem, basta ter fé no toco. Deixo o resto do toco para
você!