quinta-feira, 7 de março de 2013


TEIMOSIA!

 Foi-se o tempo de perceber comunicação,
relacionamento e educação como áreas de apoio.
Agora elas são absolutamente estratégicas
para os negócios
.
Vamos começar o ano falando de comunicação interna! Uma luta bem marcada na minha trajetória, há mais de 20 anos! Comecei a me dar conta da importância e potencialidade da Comunicação Interna ainda como Diretora da Thompson Rio. Já no final da década de 80 não conseguia planejar sem pensar sistemicamente e falava em comunicação integrada e, sempre começando “por dentro”, pela comunicação interna.

Essa consciência só foi crescendo ao longo dos anos e com clareza via o desperdício de lançamentos de novos produtos porque “por dentro” as coisas não iam bem. Algumas empresas me deixavam realizar algumas atividades internas, mas eram incipientes, considerando o que consegui fazer na década seguinte. Consegui fazer alguns trabalhos memoráveis com Citibank e com Ceras Johnson. Num dos lançamentos de um novo RAID, em 1995/96, a Fernanda Montenegro fazia o comercial (“não uso os pés para matar baratas, uso a cabeça!”) e criamos uma campanha interna que ajudou muito no sucesso desse produto. As baratas revolucionárias subiam em bancos e pelos baloons, nos cartazes espalhados pela empresa, gritavam que a Ceras Johson estava lançando um produto para destruí-las, dizimá-las! Que todas as baratas precisavam se unir contra o lançamento desse novo RAID. A movimentação interna gerada pelo inusitado da campanha interna nos murais chamou muita atenção. Ganhou o interesse da equipe de vendas que destacou o produto nos seus inúmeros itens de vendas, gerou simpatia e entusiasmo. Consegui fazer pequenas ações assim, e logo essas ações ganharam o conceito de “endomarketing”.

Com o passar do tempo as campanhas de endomarketing acabavam tentando “vender” a empresa para seus ”empregados”, que foram virando “colaboradores” . A visão histórica dessas transformações é sempre interessante, como tudo isso é muito recente, difícil encontrá-las em livros. Mas o conceito do “interno” avançou muito nos últimos dez anos. A tecnologia se encarregou de dar consciência e voz para os empregados, colaboradores. Passaram a ter segundo grau e, mesmo nas cidades mais distantes, podem se conectar à intern et. “Vender” a empresa para eles, passou a não ser mais uma boa estratégia. Diagnosticar o que pensam , o que entendem do que é anunciado pelos veículos internos, a transparência das informações, isso tudo começou a fazer muita diferença.
Ainda são poucas as empresas que percebem a grande oportunidade de desenvolver estratégias para o público interno. Ainda vejo um enorme desperdício de oportunidades, mas algumas investem no que chamamos de educomunicação. Vender a empresa não, educar o participante da organização, sim. Precisamos de cidadãos, profissionais que coloquem em prática medidas de segurança, de cuidados com o meio ambiente, que percebam a importância de pensar sistemicamente para que a empresa cresça e tenha reputação. 

Muitas empresas começam, tentam, mas a maioria ainda vê esse tipo de comunicação como acessória. Mesmo a comunicação interna estando incorporada ao Branding, ela ali aparece como a mais “pobre” e menos cuidada. Não percebem que dentro da comunicação interna temos o desafio seríssimo da comunicação face a face. Essa, no Brasil, devido nosso estilo de liderança, de uma sociedade elitizada, escravocrata, colonizada onde o modelo autoritário está aí, escancarado, para atrasar a evolução do Brasil. Investir em comunicação interna é investir na liderança das empresas. Existe algo mais importante a fazer?
Não investir em comunicação interna não é apenas um problema da comunicação, mas um entrave econômico para nosso desenvolvimento sustentável. Os governos sequer pensam em comunicação interna. A gestão é por guetos e quase sempre políticos. A comunicação não é utilizada, apenas a propaganda para vender a imagem de grandes realizações para a população ou o candidato. A população nunca é ouvida para compartilhar as decisões, e o potencial de funcionários é uma massa disforme e mal informada. A população nunca é  convocada, educada para construir criativamente uma nova vida para sua cidade. Existe uma forte rádio corretor nas cidades e onde existe rádio corredor existe uma grande oportunidade para uma comunicação que educa!

Recentemente fiz a conta dos aposentados do município do Rio de Janeiro. Sabem quantos? Cerca de sessenta mil pessoas que poderiam e certamente gostariam de saber, de forma privilegiada, o que acontece com o Rio de Janeiro, ou desconfio, gostariam de ser convocados para alguma ação especial na sua cidade. E tudo está pior desde a crise de 2008. Fingimos que estamos mudando! Não há efetiva mudança na forma como as empresas estão atuando como pensamos em pessoas, estejam elas dentro ou fora das empresas. Nas minhas escutas profundas (OFFPLAN), método de pesquisa que utilizo, identifico um número enorme de profissionais de meio ambiente, sustentabilidade, comunicação, RH, que por saberem o pouco que estão realmente fazendo, vivem na insônia. A consequência de tanta maquiagem não impede as barrigas precoces (especialmente nos homens), a perda de cabelo e humor e a clara tensão no olhar que podemos encontrar em tantos colaboradores desestimulados. As empresas nunca fizeram a conta do que perdem por não investir nas pessoas!

O mundo executivo está doente! As pessoas estão tristes, fingindo que comprar um carro zero, levar esposa e filhos para Miami serão remédios para a falta de contato com a fonte interior e com a satisfação por fazer um trabalho com sentido. Dói ver matarmos vidas todo dia dentro das empresas! (claro que fora aquelas quantas que matamos nas prisões, no nosso absurdo sitema de saúde, no genocídio de jovens nas periferias, ou jovens até em boates etc). A morte dos colaboradores aos pouquinhos é silenciosa, não consta das estatísticas dos acidentes de trabalho, que no Brasil também nos dão inúmeras razões para pensar em comunicação interna. E hoje temos que falar do departamento de RH, da área de Desenvolvimento de Pessoas, já que em muitas organizações a comunicação interna responde para uma diretoria de RH. O mais difícil é ver que não percebemos que a saída não é individual, mas coletiva sempre. Os Comunicadores e profissionais de recursos humanos precisam investir em novas tendências e conquistar o espaço estratégico nas organizações.

 Foi-se o tempo de perceber comunicação, relacionamento e educação como áreas de apoio, agora são absolutamente estratégicas para os negócios.
Nós, como comunicadores e criadores de relacionamentos, precisamos encontrar formas de produzir felicidade e realização através do trabalho. Só a consciência pode ativar a vontade do coração! Eu sou teimosa, e sei que tenho muitos parceiros comigo no caminho de ganhar importância para uma comunicação verdadeira, inteligente, que eduque para os novos tempos que a sociedade cada vez mais deseja.
À teima comunicadores internos, RHs e RSA das organizações! À teima!

Planejamento, o instrumento

Acabei de ver um programa de entrevistas com músicos, todos com seus violões. A conversa impressionou
porque cada um começou a explicar as características do seu jeito de tocar violão. Comentaram também como o violão, as cordas, o jeito de tocá-las davam novas cores às canções; O violão de João Gilberto ou de Paco de Lucia, apesar dos dois serem violonistas, produzem música, ritmos e emoções diferentes.
Comecei a pensar na ferramenta planejamento. Um mesmo instrumento que também produz “sons” diferentes.
Não só enquanto se constrói, como depois de executado. Cada um de nós tem seu instrumento, nem todos
são instrumentos musicais, podem ser uma vassoura, uma máquina fotográfica ou algo como as metodologias de planejamento. O saber usar um instrumento nos oferece oportunidades de prazer pessoal e intransferível.
Planejar e varrer também faz parte de nossas “artes”.
O planejamento, que é meu instrumento, é algumas vezes pouco compreendido, pouco valorizado, às vezes
até considerado uma perda de tempo. Tempo e curiosidade é o desafio do diagnóstico: procuram-se
referências, descobrimos, pesquisamos, refletimos. Às vezes precisamos entender complexos sentimentos de
um dado público que pouco conhecemos, aí outra vez volta a arte: os atores verdadeiros também tem que
compreender sentimentos de personagens muitas vezes muito diferentes deles.
Depois precisamos escolher o foco claro, para construir objetivos. Em determinados planejamentos, e cada
vez mais, é necessário pensar em objetivos para cada público de relacionamento envolvido na ação. A seguir somos estimulados na nossa criatividade para construir um mix sistêmico de atividades, processos de
comunicação. Tudo tem que fazer sentido, como se estivéssemos desenrolando um novelo. Quando isso
acontece sentimos conforto, como quando a cerveja desce redonda!
Mas precisamos continuar: temos agora o desafio de escolher a idéia central, o conceito, aquilo que deverá ser a essência da nossa comunicação. O quê falar em destaque para conseguir que nosso público perceba todo o resto do nosso plano? Para que nossa comunicação seja efetiva? Qual a idéia? Planejamento sem idéia é aniversário sem bolo.
É fácil perder um planejamento na execução, por isso terminado e convencido do plano que escrevemos,
precisamos virar guardiões dele! Construir o caminho para que ele ganhe parcerias, muitos precisam acreditar nele. Eu quase sempre procuro a construção coletiva com os atores e cada comunicador pode fazer isso dentro da empresa. Preciso também pré estabelecer como vou avaliar e medir os resultados.
A metodologia, descrita de forma simplificada acima, é um instrumento, mas como vamos “tocar” com que
sensibilidade, alma, isso fará toda a diferença na qualidade da “música” que vai se ouvir! E olha que tem muito planejamento “certinho” por aí sem alma, sem descobertas, sem conceito ou sem criatividade!
Eu amo construir planejamentos de comunicação e encontrar companheiros que contribuam na “canção”. Esse continuará sendo meu instrumento para me manter ativa e desperta para criar comunicação que transforma.