segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Curiosidade


Fórum Social Mundial. O que significa? Barack Obama listou os valores de seu governo tentando compartilhar significados com os americanos. Entre eles falou em curiosidade. Isso me chamou muito a atenção. Claro, nada melhor do que despertar a curiosidade de uma nação que se habituou a olhar para o próprio umbigo. Não conhece o mapa mundi e não tem idéia de outros povos com os quais compartilha o mesmo planeta.

A experiência de viver um Fórum Social Mundial é inesquecível. Foi um grande impacto para mim em Porto Alegre quando pude participar pela primeira vez. Não poderia deixar de participar neste ano que a Amazônia é o cenário para o encontro de mais de 100.000 pessoas de todo o mundo. Mas um Fórum não é só essa diversidade visual de cores, raças, gênero, idades, idiomas como você vê na grande mídia. Ela insiste em deixar a imagem de um evento exótico.

O que acontece aqui é muito mais. São as diferentes causas, as diferentes teses, os diferentes argumentos, os diferentes sofrimentos que se misturam com respeito. É a presença de parte da cidadania ativa do mundo que trabalha para melhorá-lo. Que clama por justiça e humanidade. São intelectuais, profissionais de ONGs, religiosos, estudantes, índios, quilombolas, comunidades que de uma forma ou outra estão organizados, formando redes, atuando por causas que lhes desperta a vontade dos voluntários.

Caso você realmente tenha curiosidade para saber o que aconteceu, a internet é a solução. A grande mídia, um pouco mais complacente este ano, vai te mostrar cenas folclóricas, pinceladas. Não há porque dar voz a participantes do mesmo planeta que desde o primeiro Fórum anunciavam o desastre de um modelo econômico que não leva em consideração a vida na Terra.

O desejo pela acumulação de poucos que passa por cima do meio ambiente e das populações menos favorecidas que sempre foi a maioria dos habitantes deste planeta. Neste século alguns governos começaram a ensaiar passos de mudança, empresas inventaram a responsabilidade social e muitos empregados começaram uma luta dentro das corporações para humanizar suas atuações, seja para os empregados, seja para as comunidades que normalmente enxergam como pertencendo ao “entorno”, isto é, elas são o “centro”.

Tudo isso foi pouco, muito pouco para a transformação que precisa se operar. Não se trata mais de pequenas mudanças ou ajustes. A exigência desse momento da humanidade é por uma mudança de nível de consciência, somos convocados a reinventar a sociedade: como vivemos, como compramos, como e o que produzimos, como distribuímos as riquezas, mais ainda o que é riqueza nesse novo mundo. Ninguém tem a resposta e por isso o Fórum Social se torna um movimento que põe o mundo em movimento.

Atrás dessas pessoas que estiveram lá, andando quilômetros pelas universidades de Belém, que assistem com espanto as chuvas com hora quase certa, se encantam com os peixes e as frutas, estão milhares de outras que receberão a influência desses agentes de transformação. As teses serão divulgadas, as redes se intensificarão e mais e mais mudanças serão estimuladas. Não há muito tempo, precisamos mudar tudo. Claro que começa pela nossa forma de pensar.

Informe-se vá para a internet, pesquise o que foi debatido no Fórum, deixe que as mangas de Belém caiam também nas suas cabeças para que um novo ciclo possa começar no mundo e possamos ainda salvar algo. Curiosidade. Lembra? Por que tantas pessoas se reúnem para pensar nos inúmeros temas? (veja programação no site http://www.forumsocialmundial.org.br/

Cada um de nós só tem uma escolha hoje: viver de ouvidos e olhos vendados ou ouvir e sair falando para transformar.

Um comentário:

  1. Oi Nádia!
    Legal a iniciativa do blog!
    Vc tem razão quanto à cobertura de imprensa. Como assessor do Ibase acompanhei a cobertura dos jornais impressos e TVs. A imprensa escrita deu uma imagem fragmentada ("pinceladas"), com tendência ao folclórico. A novidade deste ano, acho, foram as TVs. Quem acompanhou o noticiário pela TV teve uma visão mais próxima do que é o Fórum Social do que quem leu pelos jornais. TV Globo foi extremamente simpática (em especial a Globonews), mas também Record e SBT, para não falar de TV Brasil (várias entradas ao dia). Enquanto jornais impressos cobriram autoridades e "polêmicas" entre membros do Conselho Internacional, as TVs foram às oficinas, fizeram matérias temáticas (tráfico de pessoas; destruição ambiental; indígenas etc).
    De qualquer modo, coloquei no meu blog uma relação de links da mídia não-comercial que esteve no Fórum, pode ser útil:
    http://rogeriojordao.wordpress.com/2009/01/26/forum-social-e-as-fontes-de-informacao/
    bjs,
    Rogério

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