sábado, 14 de março de 2009

Mulheres

Criaram o Dia da Mulher porque era necessário. Virou , na prática o mês da mulher. Um dia todos os dias serão dias da mulher. Dias da vida. Para nossa reflexões um pouco de como as mulheres foram nosso tema de reflexão em 2008. Texto maravilhoso de uma economista mulher e só por isso poderia escrever esse texto. Bem vinda as mulheres, mas também todos os homens que sabem que podemos juntos construir um mundo novo. Precisamos. Cada dia é mais urgente.
MULHERES.

R&A e seu aprendizado sobre o universo feminino.

A R&A sempre homenageou as mulheres em março. Afinal, nossa alma é feminina. Após 2008 é impossível que eu e as consultoras da Rebouças não falemos ainda mais da mulher. Conversamos através de nossa metodologia Offplan com muitas e diferentes mulheres. Conversamos com elas sobre aborto, sobre seus desafios como “chefes de família”, sobre suas enormes perdas e dores frente à violência doméstica. Sobre a tristeza de ver seus companheiros e filhos se perderem nas drogas, seja o álcool, as drogas naturais e as sintéticas.
Entrevistamos mulheres do campo e da floresta onde sua voz fica totalmente abafada por falta de qualquer apoio, já que lá não existe ainda nem as delegacias de mulheres.
Conversamos nesses anos com operários que até muito poucos anos não tinham banheiro exclusivos. Não tinham ainda uniformes operacionais femininos, faltavam pregas e ajustes, e mesmo assim elas usavam batom.
Me dei conta que vivi em ilhas, onde como mulher já podia ter e ser. Não é assim na maior parte de nosso país e no mundo.
Claro que também aprendemos sobre a mulher executiva que se perde no papel, sendo um homem disfarçado de terninho e na profunda confusão com sua sexualidade.
O grande desafio é ser dona de nossas vidas, que acabou sendo o tema da Campanha contra a Violência das Mulheres do Campo e da Floresta. Conhecemos também as donas de si e diretoras do seu caminho que foram incentivadas e capacitadas pelo Fundo Elas de Investimento Social. Mulheres da periferia que com suas mãos, vontade e criatividade construíram um artesanato com personalidade.Vivemos o lançamento do Fundo Elas quando Elisa Lucinda, Heloísa Buarque de Holanda, Eliane Brum, entre outras mulheres muito especiais puderam conversar sobre nossos desafios que estão aí nas notícias da mídia todos os dias.
Todas nós da R&A descobrimos em 2008 a dor do aborto (um problema de saúde pública), da perda, do estupro do padrasto, do pai. A dor do medo, do desrespeito, da pobreza, da falta de educação e a transformação de tudo em ação, sobrevivência, autodidatismo, coragem, alegria, emoção, enfim, em vida.
Do corpo que sangra mensalmente às lágrimas que derrubam pelos homens que amam, somos iguais em classe social, religião, nível educacional, profissional, ou seja, qual for nossa diferença.
Somos mulheres. Temos um plug muito forte com a mãe terra. Somos mães, irmãs, mulheres que nesse tempo de falta de valor e significados, estamos construindo conexões com novos tempos no mundo todo.
O vazio do consumo sem nexo, do culto a celebridade, dos mitos das belezas, estão ai para matar nossa liberdade e impedir nossas escolhas com o coração.
O Dia da Mulher é homenagem da conquista da nossa liberdade. Precisamos agora dar qualidade as nossas escolhas, impedir que as jovens se percam na capacidade infinita que nosso sistema tem de matar o que tem valor na nossa vida em sociedade, as nossas meninas e a menina terra. E esse mês da mulher tem um símbolo, a menina de Recife. Ela está aí para mostrar que fizemos muito e ainda nada fizemos. No seu silêncio em anos de abuso está a matéria prima para nossas ações, nós mulheres que muito temos a fazer.



TEXTO (Do Blog de MIRIAM LEITÃO)


Anoitece no dia da Mulher e este silêncio do blog não é falta do que dizer.É tristeza. O caso da menina de Recife foi devastador. Não, ninguém ignoraquantas meninas são vitimas da violência em suas próprias casas. Os algozessão os pais, padrastos, pessoas que deveriam estar ensinando e protegendo. Os números são muitos, os casos que aparecem na imprensa são frequentes. Masa menina de Pernambuco doeu mais.Talvez por ter apenas nove anos, por estar sendo estuprada desde os seis,ou porque a chantagem do padrasto era que mataria a mãe. Ou talvez porqueela é bem pequena, menor do que deveria ser para a sua idade. Amenina passou anos vendo a irmã também abusada. Só a mãe das duas nada via. O que acontece que cega as mães?A menina de Recife lembra o quanto a luta da mulher será longa. Recentementea Sharia, um código tribal brutalmente contra a mulher, foi restabelecidaem todo o Paquistão. Acaba qualquer chance de que não aconteçam casos como ada escritora do livro Desonrada, Mukhtar Mai, que foi condenada a serestuprada publicamente porque seu irmão de 12 anos teria olhado para umamulher de casta "superior". O suplicio de Mukhtar, com estupro público emúltiplo, só não foi mais intenso que sua força de superação. A históriadessa paquistanesa choca e emociona, mas a notícia de que a Sharia, quetinha começado a ser suprimida no Paquistão, volta a ser usada em todo opaís é um choque. Penso em Mukhtar naquela pequena aldeia onde ela decidiumorar e resistir com uma escola para meninas e meninos. Normalmente eu gosto de escrever nos dias oito de março, de quantoavançamos, mostrando estatísticas de conquistas, e de quanto falta avançar, mostrando as diferenças salariais, o pequeno percentual de mulheres no poderem qualquer país, as discriminações, mas aí... veio a menina de Recife. Ela simplesmente me enfraquece. Que números de avanços levantar paracompensar essa violência? Eu penso nela diariamente desde o dia da notícia. Não pela polêmica daIgreja Católica, porque a Igreja não me espanta. Que ela excomungue omédico, as enfermeiras, a mãe pela decisão de interrupção da gravidez e quenada diga sobre o estuprador, não me surpreende. É apenas bizarro! Medieval.Eu penso na menina de Recife e nos debates que tenho participado nos últimosanos, sempre em março. Nesses debates sempre discordo das mulheres bemsucedidas que dizem que a luta está ganha, que o feminismo é um movimentoultrapassado, ou outros equívocos assim. Eu, feminista, confesso, minha lutae meu espanto diante da incapacidade de ver o óbvio: que cinco mil anos deopressão não se acabam em poucas décadas, que há muito a fazer, a construir,a vigiar, para que haja algum dia respeito igual. Falta tanto para o dia emque poderemos dizer que o feministro está superado!Mas hoje, na verdade, eu penso apenas no futuro dela: a menina curará suasferidas? Conseguirá entender e processar a violência de que foi vítima? Vaiestudar, ter carreira, filhos? Vai conseguir amar um dia? Escapará das teiasda reprodução da pobreza? Vai simplesmente reaprender a brincar, como devefazer uma menina de nove anos?.Eu podia dizer que ela desperta em mim uma fúria feminista. E é verdade, masé uma verdade incompleta. Ela desperta em mim o o sonho de protegê-la dealgum modo. De embalá-la docemente e contar uma história cheia de aventurase graça. De cantar para ela uma cantiga de roda, de brincar de pique escondeem volta da casa. De ir com ela ao cinema e comer pipoca sentada no degraude uma escadaria. Que tal um sorvete para resfrescar o calorão?Não sei o que é. Mas por alguma razão eu penso insistemente na menina deRecife neste dia da mulher. Penso com o coração. Eu apenas sonho que suasferidas se cicatrizem um dia. O discurso feminista, com estatísticas e fatos eloquentes, eu o farei outrodia. Hoje eu apenas quero sonhar que a menina de Recife um dia, apesar de tudo, após tanta violência, será feliz.


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Um comentário:

  1. Como mulher (com mestrado em faculdade de primeiríssima linha, evangélica, moradora de grande centro urbano no sudeste, casada há um ano e meio com homem da mesma idade, 41 anos, funcionária de empresa de economia mista na área de Comunicação, sem filhos por impossibilidade até o momento e que desde a infância ansia e busca uma natural igualdade entre os gêneros) concordo com sua revolta... sinto essa dor pelas meninas que são estupradas e igualmente (não menos) pelas mães dessas meninas que vendo suas filhas estupradas aceitam essa humilhação a elas próprias, ainda não tem forças de impedir isso, resguardam o agressor, por conta desses anos todos de maldade machista (não há outro nome que explique isso, só o de pecado mesmo) ... embora meu marido sempre diga que os homens hoje ainda pagam pelos pecados desses milênios de injustiça que passaram, você tem razão, ainda não está resolvido não, e a raiva ainda aflora com força, embora saibamos que os homens hoje estão lutando para se desvencilhar desse mal que é o machismo opressivo. Que Deus nos ajude a todos, homens e mulheres, a nor amarmos e respeitarmos, e às nossas crianças. Só Ele mesmo.

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