O Ponto de Mutação
Há muitos anos, por volta de meados da
década de 80, entrei em contato com os autores que me levaram a caminhar para
os novos paradigmas da civilização. Me lembro, como se fosse hoje, o prazer que
senti. A sensação de empatia foi tão forte, que apesar de muitos autores eu não
ter conhecido pessoalmente, sinto como se eles fossem meus amigos íntimos. Um
deles foi Frijot Capra. A leitura do livro O
Ponto de Mutação que se remete a um hexagrama do I ching que já era meu
velho conhecido, revelou-se como pingos de esperança para eu chegar até aqui.
No entanto, naquele momento, não pensei que
fosse tão difícil e tão lento o avanço da civilização. Pura ingenuidade minha.
Talvez eu nem veja os maiores acordes dessa transformação. Ao longo do tempo me
conformei que a minha geração só vai ver a ponta do iceberg.
Aí também compreendi que só poderia, e
posso seguir, ficando consciente dos dois P’s: paciência e perseverança. Apesar
de perceber o caminho, não podia imaginar, à aquela altura, o impacto da
tecnologia, que trouxe ferramentas para os avanços, mas intensificou a
complexidade. O paradigma sistêmico, ainda engatinha. Poderia falar muito sobre
seu lento avanço em várias áreas, mas meu foco é comunicação, e por isso nela
fico.
Comecei a falar de comunicação
integrada nesses tempos, década de 90. Intensifiquei minha busca pelos desafios
da comunicação interna, já que vinha de publicidade e pouco a pouco fui
percebendo sua imortância. Comecei a perceber a pequenez de pensar apenas a
publicidade. Isso já me colocou em crise com a
agência que trabalhava. Comunicação interna não dava lucro, diziam. Sim, e frente a
publicidade que área de comunicação dá lucro? Esqueça isso, me diziam. Foquei
no planejamento, só ele me permitiria aprender a pensar sistemicamente. Comunicação
interna, comunicação face a face, foram
ganhando força para mim, Afalta de atenção a ela tira o lucro das empresas. Essa conta nunca
foi feita, mas é bárbaro o que o ambiente interno das organizações é capaz de
fazer.
Logo a seguir fui tocada pelas questões
sociais, pela importância da educação e pude ter experiências incríveis,
percebendo um papel para a comunicação que foi deixando a publicidade reduzida
a seu lugar, um dos processos possíveis para o uso da comunicação, o mais
lucrativo deles para as agências. Assim a minha opção exigiu desapego.
Profissionais e pessoais. O quanto bendigo ter sido capaz de desapegar para
poder enxergar por onde a comunicação poderia contribuir de forma decisiva para
as conquistas de novos paradigmas civilizatórios.
O que penso ainda está muito distante
do que consigo realizar. No entanto a cada passo dou um sorriso. Aprendi que só
tem sentido a vida que tem sonho. Conseguir pensar em comunicação integrada e
vendê-la, passou a ser estratégico. Às vezes até é fácil, muitas empresas estão
percebendo a necessidade brutal de integração. A comunicação face a face que
nem sequer existia como processo há alguns anos, ganhou uma enorme força. A
responsabilidade social (saiu de sua caixinha e ganhou a dimensão de reputação
de marca) Agora tudo está aí... e caminha. A ferramenta é o planejamento. O
motivo é pensar em organizações como mais um espaço para a educação, para o
desenvolvimento humano. E eu muitas e muitas vezes sorrio. Mesmo sabendo que a
nova geração, quando já não for tão nova assim, colherá os produtos orgânicos
de uma comunicação integrada que muitos de nós plantamos.
O Ponto de Mutação às vezes é reticência,
às vezes interrogação, mas um dia será exclamação.
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