quinta-feira, 17 de maio de 2012

ELAS

Elas.
Segundo a nossa língua, é o pronome que substitui as meninas, mulheres e senhoras para nos referirmos a elas quando falando com outras pessoas ou quando elas não estão. Falando assim soa feio, quase que menosprezando, mas Elas é um pronome bem maior que isso e é incognitamente plural. Para mim a sua pluralidade é a essência de tudo aquilo que ELAS são.

O Fundo de Investimento Social ELAS já foi um dia o Fundo Ângela Borba e mudou sua cara e seu nome estrategicamente para melhor traduzir o seu valor e o seu trabalho. No encontro que o Elas promoveu na Casa do Saber, no último dia 10 de maio,  eu ouvi pela primeira vez a história da transição da marca pela boca de uma das ELAS. Para um profissional de comunicação essa história pode parecer igual a muitas outras historias de sucesso de rebranding, mas para mim como mulher que veio antes da educação, da formação e da profissão, me revelou significados formidáveis para ideias que me acompanham desde que nasci.

ELAS são mulheres investindo em mulheres, partilhando recursos e oportunidades e transformando as suas vidas e de muitas outras. O Fundo funciona como uma corrente em que cada elo é parte do outro formando uma interação de fato, feito o resultado: a mulher recebe em suas mãos uma oportunidade que a transforma. Como ser extraordinário que ela é, vai provocar transformação sua família, sua comunidade. É um mecanismo com pouca ciência, mas que provoca resultados concretos, palpáveis, mesuráveis e extraordinariamente positivos. O investimento social em mulheres é o único que tem obtido resultados assim no mundo inteiro.

O Fundo ELAS descobriu isso cedo!  Vale a pena investir em mulheres!  Mas o mundo está descobrindo as mulheres aos poucos, em passo lento. Hoje temos mulheres poderosas que ultrapassaram as mais difíceis provações para chegarem onde estão, na presidência de países e empresas, no cerne das decisões globais, na posição perfeita para influenciar e deixar sua marca. Mas será que essas mulheres estão investindo em outras mulheres?

Wangari Maathai foi uma ativista ambiental kenyana que nos anos 70 fundou o Green Belt Movement. Ela foi a primeira mulher do Kenya a se doutorar e escolheu a Biologia como seu campo de estudo. Ela entendeu cedo na sua vida que a Terra está viva e que o desmatamento, o cultivo excessivo de plantações estrangeiras ao seu país havia provocado alterações profundas na sua terra e na sua comunidade - a falta de árvores havia diminuído a quantidade de lenha que as mulheres usavam para cozinhar refeições e esquentar suas casas; e as encostas e bosques outrora luxuriantes haviam se tornado extensões de terra morta, instável, sem as antigas raízes que outrora as suportavam, sujeitas a deslizamentos e desabamentos e colocando a vida de milhares de pessoas em risco.
Maathai apelou aos governos, às autarquias e aos homens que tomavam decisões para a solução evidente - plantar árvores. Ninguém a escutou, exceto as mulheres.
Assim nasceu o Green Belt Movement, uma iniciativa de mulheres plantadoras que mudou os solos do Kenya, reverteu o déficite de mata daquela região da África e transformou a vida de milhares de mulheres do Kenya.

Essa história eu li num livro biográfico e foi suficiente para mexer com o meu pensamento, mas melhor ainda é ouvir algo assim inspirador directamente da boca da protagonista. As histórias partilhadas no encontro do ELAS na Casa do Saber tiveram para mim o mesmo impacto mobilizador. Como a história de Elza, uma das Bordadeiras da Coroa, que junto com outras mulheres e com o apoio do Fundo ELAS transformou totalmente a sua existência. Elza, como muitas mulheres espalhadas pelo mundo, estava imobilizada pela sua condição social e pelas circunstâncias aparentemente irreversíveis da vida como o lugar onde morava ou a educação que recebera. Com a ajuda do ELAS, Elza e suas colegas bordadeiras desenvolveram seu atelier, geraram renda para todas, melhoraram a condição de vida delas e das suas famílias e colocaram no mapa a comunidade do Morro da Coroa. Em Outubro de 2009 um vestido bordado pela cooperativa foi leiloado por 163 mil reais, (quem comprou foi o empresário Eike Batista), mas isso é quase insignificante face ao que essas mulheres alcançaram. Hoje elas são donas de suas vidas, são auto-suficientes, viajam para o exterior e fazem cursos de línguas. Tudo isso porque alguém acreditou nelas e lhes estendeu uma mão.

Wangari Maathai foi reconhecida com vários prêmios, inclusive foi a primeira mulher africana a receber um Nobel da Paz em 2004. Mas quantas mulheres no mundo sabem do seu trabalho? Quantas mulheres em África aprenderam com o exemplo? E quantas mulheres recebem a ajuda ou são ao menos consideradas por desconhecidos?
A resposta é simples, muito poucas.

O que Wangari Maathai e as ELAS têm em comum, é o mesmo que têm com a maior parte das mulheres do mundo - uma capacidade inata de se unir, trabalhar e produzir resultados positivos, ao mesmo tempo em que cuidando da sua família, da sua comunidade e (um pouco menos) de si própria.

Ouvir as histórias d' ELAS me fez lembrar das minhas e de todas as outras espalhadas pelo mundo. Fez-me lembrar que vale a pena acreditar em nós mulheres e me abriu os olhos para as infinitas possibilidades que nascem quando se dá uma pequena oportunidade a uma pequena mulher. Você também dê uma chance às mulheres, para que elas cresçam, se tornem grandes e mudem o caminho difícil em que a Humanidade colocou o nosso Mundo.

Rosa Silva

Rosa Silva é estagiária da Rebouças e veio completar seu mestrado de Portugal,  na área de RSA.  Esse é seu testemunho ao encontro Elas na Casa do Saber. Ela ficará no Brasil até julho e pretende voltar à sua terra Angola onde sente que tem um importante trabalho para realizar. A R&A tem contato e compromisso com Angola desde 1995.

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