Elas.
Segundo a nossa língua, é o pronome que substitui as meninas, mulheres
e senhoras para nos referirmos a elas quando falando com outras pessoas ou
quando elas não estão. Falando assim soa feio, quase que menosprezando, mas
Elas é um pronome bem maior que isso e é incognitamente plural.
Para mim a sua pluralidade é a essência de tudo aquilo que ELAS são.
O Fundo de Investimento Social ELAS já foi
um dia o Fundo Ângela Borba e mudou sua cara e seu nome estrategicamente
para melhor traduzir o seu valor e o seu trabalho. No encontro que o Elas
promoveu na Casa do Saber, no último dia 10 de maio,
eu ouvi pela primeira vez a história da transição da marca pela boca de uma
das ELAS. Para um profissional de comunicação essa história
pode parecer igual a muitas outras historias de sucesso de rebranding, mas para
mim como mulher que veio antes da educação, da formação e da profissão, me
revelou significados formidáveis para ideias que me acompanham desde que nasci.
ELAS são mulheres investindo em mulheres, partilhando recursos e
oportunidades e transformando as suas vidas e de muitas outras. O Fundo
funciona como uma corrente em que cada elo é parte do outro formando
uma interação de fato, feito o resultado: a mulher recebe em suas mãos uma
oportunidade que a transforma. Como ser extraordinário que ela é, vai
provocar transformação sua família, sua comunidade. É um mecanismo com pouca ciência,
mas que provoca resultados concretos, palpáveis, mesuráveis e
extraordinariamente positivos. O investimento social em mulheres é o único que tem obtido
resultados assim no mundo inteiro.
O Fundo ELAS descobriu isso cedo! Vale a pena investir em mulheres! Mas o mundo está descobrindo as mulheres
aos poucos, em passo lento. Hoje temos mulheres poderosas que ultrapassaram as mais
difíceis provações para chegarem onde estão, na presidência
de países e empresas, no cerne das decisões globais, na posição
perfeita para influenciar e deixar sua marca. Mas será que essas mulheres estão
investindo em outras mulheres?
Wangari Maathai foi uma ativista ambiental kenyana que
nos anos 70 fundou o Green Belt Movement. Ela foi a primeira mulher do Kenya a
se doutorar e escolheu a Biologia como seu campo de estudo. Ela entendeu cedo
na sua vida que a Terra está viva e que o desmatamento, o cultivo excessivo de plantações
estrangeiras ao seu país havia provocado alterações profundas na sua terra e
na sua comunidade - a falta de árvores havia diminuído a quantidade de lenha que as mulheres
usavam para cozinhar refeições e esquentar suas casas; e as encostas e bosques
outrora luxuriantes haviam se tornado extensões de terra morta, instável,
sem as antigas raízes que outrora as suportavam, sujeitas a deslizamentos e
desabamentos e colocando a vida de milhares de pessoas em risco.
Maathai apelou aos governos, às autarquias e aos homens
que tomavam decisões para a solução evidente - plantar árvores. Ninguém a
escutou, exceto as mulheres.
Assim nasceu o Green Belt Movement, uma iniciativa de
mulheres plantadoras que mudou os solos do Kenya, reverteu o déficite
de mata daquela região da África e transformou a vida de milhares de mulheres do
Kenya.
Essa história eu li num livro biográfico e foi suficiente para
mexer com o meu pensamento, mas melhor ainda é ouvir algo assim
inspirador directamente da boca da protagonista. As histórias partilhadas no
encontro do ELAS na Casa do Saber tiveram para mim o mesmo impacto mobilizador.
Como a história de Elza, uma das Bordadeiras da Coroa, que junto com
outras mulheres e com o apoio do Fundo ELAS transformou totalmente a sua existência.
Elza, como muitas mulheres espalhadas pelo mundo, estava imobilizada pela sua
condição social e pelas circunstâncias aparentemente
irreversíveis da vida como o lugar onde morava ou a educação que
recebera. Com a ajuda do ELAS, Elza e suas colegas bordadeiras desenvolveram
seu atelier, geraram renda para todas, melhoraram a condição de vida delas e das suas
famílias e colocaram no mapa a comunidade do Morro da Coroa.
Em Outubro de 2009 um vestido bordado pela cooperativa foi leiloado por 163 mil
reais, (quem comprou foi o empresário Eike Batista), mas isso é quase insignificante face
ao que essas mulheres alcançaram. Hoje elas são donas de suas vidas, são auto-suficientes, viajam
para o exterior e fazem cursos de línguas. Tudo isso porque alguém
acreditou nelas e lhes estendeu uma mão.
Wangari Maathai foi reconhecida com vários
prêmios, inclusive foi a primeira mulher africana a receber
um Nobel da Paz em 2004. Mas quantas mulheres no mundo sabem do seu trabalho?
Quantas mulheres em África aprenderam com o exemplo? E quantas mulheres
recebem a ajuda ou são ao menos consideradas por desconhecidos?
A resposta é simples, muito poucas.
O que Wangari Maathai e as ELAS têm em comum, é o
mesmo que têm com a maior parte das mulheres do mundo - uma
capacidade inata de se unir, trabalhar e produzir resultados positivos, ao
mesmo tempo em que cuidando da sua família, da sua comunidade e (um pouco menos) de
si própria.
Ouvir as histórias d' ELAS me fez lembrar das minhas e de
todas as outras espalhadas pelo mundo. Fez-me lembrar que vale a pena acreditar
em nós mulheres e me abriu os olhos para as infinitas
possibilidades que nascem quando se dá uma pequena oportunidade a uma pequena
mulher. Você também dê uma chance às mulheres, para que elas cresçam, se tornem grandes e
mudem o caminho difícil em que a Humanidade colocou o nosso Mundo.
Rosa Silva
Rosa Silva é
estagiária da Rebouças e
veio completar seu mestrado de Portugal,
na área de RSA.
Esse é seu testemunho ao encontro Elas na Casa do Saber.
Ela ficará no Brasil até julho
e pretende voltar à sua terra Angola onde
sente que tem um importante trabalho para realizar. A R&A tem contato e
compromisso com Angola desde 1995.
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